O mercado já mapeia oportunidades de um eventual governo Lula
Meio esperançosos, muito analíticos, alguns céticos, investidores aguardam e interpretam sinalizações do petista para tomar decisões
Na ausência de uma Carta ao Povo Brasileiro, os donos do dinheiro no Brasil estão mais analíticos, e aproveitando fiapos de informação econômica que são deixados. Mapeando a liderança de Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, nas pesquisas de intenção de voto, entes do mercado já começam a precificar um novo governo Lula. Entre investidores, aparece certo otimismo — e um pouco de wishful thinking — em relação a qual Lula ocuparia o Palácio do Planalto, mas sem as indicações concretas de seus planos de governo. A defesa do ex-tucano Geraldo Alckmin como vice virou um ativo interessante para o mercado. Economistas e investidores comentam, entre grupos de WhatsApp e cafezinhos na Faria Lima, que Alckmin é uma sinalização importante de que o PT manteria-se equilibrado entre a retórica para manter sua base e a adoção de propostas não tão heterodoxas. Mas não é só isso.
Jogando parado e falando para sua base, Lula faz alguns movimentos que parecem calculados — mas, ainda, um pouco com ressentimento. Sinaliza a revisão da reforma trabalhista do ex-presidente Michel Temer, enquanto deixa claro que deve manter intactos os pontos mais importantes das alterações — como mostrou o Radar Econômico. Até o ex-presidente Temer minimizou as intenções de Lula. Mapeando o que o pré-candidato diz e faz nos bastidores, o mercado começa a avaliar oportunidades num possível novo governo petista. Começa a calcular quais os setores poderiam ser beneficiados por um eventual novo governo Lula, olhando para o passado. A expectativa de mais políticas de distribuição de renda estimulam investimentos no varejo. Com uma tendência por mais investimentos públicos, entes do mercado começam a olhar com mais carinho para papéis da construção civil. No pregão desta quarta-feira, 19, na esteira de uma entrevista de Lula a sites de esquerda, o Ibovespa fechou em alta de 1,26%, aos 108.013 pontos. O dólar caiu 1,70%, a 5,465 reais.
O ex-presidente ainda não escolheu um “Posto Ipiranga” que sinalize ao mercado os ditames de sua política econômica. E não vai ser tão cedo. Uma pessoa próxima ao ex-presidente afirma que ele vai demorar para dar essa sinalização, e só deve fazê-la se oscilar negativamente nas pesquisas, para arraigar outras esferas do eleitorado. “Lula não tem em quem confie para deixar a economia na mão. Não vai deixar na do Aloizio Mercadante, do Nelson Barbosa ou do Guido Mantega. Até que tenha a noção do tamanho do problema, vai medir quem ele tem buscar. Ele vai ser forçado a fazer isso se oscilar”, diz essa fonte. Outro nome que fez parte das gestões petistas afirma que Lula não adotará medidas radicais no campo econômico, mas que está priorizando o diálogo com o mercado por meio de alianças políticas, não com economistas que possam ser apontados como futuros membros de uma eventual equipe econômica.