O Brasil vai passar por uma nova fase de investimento, diz Wongtschowski
Empresário que foi cotado para pasta que hoje é ocupada por Geraldo Alckmin aponta os rumos para o desenvolvimento do país
Um dos executivos mais respeitados do setor químico no Brasil, Pedro Wongtschowski vê com bons olhos as iniciativas do governo para fomentar o desenvolvimento do país. Reconhecido por sua trajetória exitosa em décadas no grupo Ultra (dono de marcas como Ipiranga e Ultragaz), do qual foi CEO e presidente do conselho de administração – função esta ocupada até o primeiro semestre deste ano –, o empresário foi sondado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no fim do último ano para o cargo de ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC), hoje ocupado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. Em entrevista a VEJA, concedida em evento promovido pelo Itaú Educação e Trabalho, na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, ele diz que ainda é cedo para avaliar a eficácia das medidas anunciadas, mas defende alguns programas anunciados, como a nova versão do Programa de Aceleração ao Crescimento (PAC), e o papel de indução da economia pelo Estado. “Há muitas áreas onde o investimento deve ser majoritariamente privado, mas o setor público tem de atuar com um papel indutor e financiador”, aponta.
O governo Lula tem sido mais atuante que seu predecessor na indução da economia por meio do BNDES. O senhor concorda com essa postura? Eu acho que tem muita coisa boa acontecendo. O Brasil vai passar por uma nova fase de investimento. Precisa-se de investimento em infraestrutura, em digitalização e em descarbonização. Nós temos que avançar no processo de substituição de fontes de energia. Há muitas áreas onde o investimento deve ser majoritariamente privado, mas o setor público tem de atuar com um papel indutor e financiador. Acho que, em particular, o BNDES enxerga isso com muita clareza. Eu vejo como positivo o BNDES favorecendo e reduzindo o custo com investimento em inovação, simplificando o investimento em exportação, infraestrutura e para pequenas e médias empresas. Mas existem alguns desafios para serem superados ainda.
Por exemplo? Um gap importante é o financiamento para exportação de serviços. O Brasil tem uma balança comercial grandemente superavitária no setor de bens, movido em particular pelas commodities. Estamos falando de soja, minério, petróleo, produtos para pecuária… Mas é uma pauta exportadora com um preço médio relativamente baixo. Eu vejo uma oportunidade para o Brasil exportar serviços, onde, associado a isso, haja a exportação de bens. Acho que essa é uma frente em que o BNDES deveria voltar a atuar com mais determinação e empenho, porque não há exportação de serviços em volume adequado sem financiamento público, nem no Brasil nem em lugar nenhum.
Tanto o PIB do primeiro trimestre quanto o PIB do segundo trimestre apresentaram um decréscimo na taxa de investimento do país, o que prejudica, sobretudo, a indústria. Como recuperar isso? Primeiro, há questões macroeconômicas envolvidas nisso, que são, no fundo, as mais relevantes. Estou falando da reforma tributária, de redução da insegurança jurídica, da redução do custo de trabalho, de investimentos em infraestrutura logística e da redução do custo de energia. Então, o primeiro grande passo, a rigor o mais importante, é destravar essas medidas que afetam a economia como um todo e, em particular, a indústria. E em seguida, acho que vem o financiamento à inovação, especialmente de olho na digitalização e na descarbonização da indústria brasileira.
Como o senhor vê as críticas que o Lula sofre por parte da classe empresarial no Brasil? Acho que o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio ainda está formulando os seus planos. Então, talvez seja um pouco cedo para avaliar.
O novo PAC tem sido criticado por especialistas… O senhor acredita que seja uma boa medida do governo? O PAC é um grande conjunto de investimentos públicos, privados e parcerias público-privadas (PPP’s). O governo anunciou esse pacote e vamos ver se ele tem competência de fazer a coisa acontecer.