Mulheres estão distantes dos cargos de liderança das empresas da Bolsa
Das 408 companhias de capital aberto no país, 61% não têm uma única mulher na alta direção, segundo levantamento da B3
Muito se fala em ESG, sigla para “ambiental, social e governança” na tradução para o português. Na prática, a empresa que adota o critério ESG comunica para o mercado que possui estratégias responsáveis nesse tripé. Mas o discurso ainda não reflete a realidade de boa parte das companhias, ao menos no aspecto de governança. Das 408 companhias de capital aberto no país, 61% não têm uma única mulher na alta direção e 45% não têm participação feminina no Conselho de Administração, segundo levantamento realizado pela bolsa brasileira, a B3.
Segundo o estudo, divulgado nesta quarta-feira, 6, ainda considerando o quadro diretor das 408 empresas, 25% têm somente uma mulher e apenas 6% têm três ou mais mulheres. No âmbito do Conselho de Administração, 32% têm apenas uma mulher conselheira e somente 6% contam com três ou mais mulheres entre os conselheiros. A pesquisa atesta que as empresas ainda estão longe da diversidade, inclusão e equidade de gênero.
A questão da diversidade e equidade na remuneração nos cargos de alta administração e gerência foram incluídos em 2005 no ISE, quarto indicador ESG a ser lançado no mundo e o primeiro da América Latina. De lá pra cá, a ideia evoluiu na sociedade, mas ainda não saiu do papel institucional. Além de serem raras as mulheres em cargos de liderança, elas ainda recebem cerca de 77% do rendimento médio dos homens.
Os dados ficam ainda mais graves na análise por segmento de listagem. Entre as 190 companhias listadas no Novo Mercado – segmento com mais elevado patamar de governança corporativa -, 89% tem apenas uma ou nenhuma mulher no quadro diretor. No segmento Básico, as companhias com uma ou nenhuma mulher em cargos de direção somam 86%. No Nível II, esse percentual é de 87%, e no Nível I, de 67%.
“Acredito que o retrato obtido com esse levantamento nos mostra que, mesmo com uma preocupação crescente dos investidores e empresas, ainda temos um imenso trabalho a ser feito para avançar na pauta de diversidade e inclusão. Isso exige foco, estratégia e comprometimento de todos nós”, diz Gilson Finkelsztain, CEO da B3.
Compromisso
Das 408 empresas com ações negociadas no mercado brasileiro e que foram alvo da pesquisa na B3, há 2.596 cargos de conselheiros de administração, enquanto os de diretores somam mais de 2.126. Visando a diversidade nesses níveis hierárquicos, a B3 lançou mão de uma iniciativa para reverter esse cenário até 2026. “A B3 decidiu transformar a meta corporativa também num compromisso financeiro com nossos investidores ao lançar 700 milhões de dólares em bônus atrelados ao compromisso de atingir um percentual de 35% de mulheres na liderança até 2026”, comenta Ana Buchaim, diretora executiva de sustentabilidade, pessoas, marketing e comunicação da B3. Atualmente, apenas 27% mulheres ocupam cargos de liderança nas empresas da B3.
Por meio da criação de um título de dívida vinculado a metas de sustentabilidade (Sustainability-linked Bond – SLB, em inglês) a B3 pretende desenvolver, até 2024, um índice de diversidade para mostrar quem são as empresas que têm bons indicadores e medir suas performances nessa área. Além de apresentar essas empresas de forma consolidada para o investidor, ele permitirá que o mercado possa lançar ETFs (fundo de índice vendido na bolsa) e fundos indexados a esse índice.
Nos Estados Unidos, já existe uma iniciativa parecida por meio do ETF She, fundo de índice criado em 2016 que só investe em empresas americanas que possuem mulheres em cargos de alta liderança. Por lá, as empresas que mais possuem mulheres nesses cargos são do setor de tecnologia (28,08%), consumo cíclico (18%) e saúde (14%).