Moody’s rebaixa nota do Brasil e coloca país a um passo de perder o grau de investimento
Segundo a agência, a falta de consenso político sobre a política fiscal deve impedir que o governo consiga cumprir a meta de superávit; perspectiva da nota é alterada para 'estável'
A agência de classificação de risco Moody’s rebaixou, nesta terça-feira, a nota de crédito do Brasil de Baa2 para Baa3. Trata-se da última nota dentro da faixa considerada como grau de investimento, que é uma espécie de selo de bom pagador. A agência também alterou a perspectiva da nota de “negativa” para “estável”. A Moody’s citou, entre os motivos para o rebaixamento, a fraqueza da economia, a crise política e a tendência de aumento de gastos públicos.
Segundo a agência, a falta de consenso político sobre a política fiscal deve impedir que o governo consiga cumprir a meta de superávit. Em julho, o ministro da Fazenda Joaquim Levy anunciou a redução da meta de 1,1% para 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB).
A Moody’s considera, ainda, que diante da dificuldade de cumprimento da meta, a curva de endividamento do país deve se deteriorar em 2015 e 2016, alcançando a estabilidade apenas em 2018. Com isso, diz a Moody’s, os indicadores do país deverão cair para níveis substancialmente piores que nações emergentes consideradas “pares do Brasil”, com classificação Baa. A agência estima que o crescimento do PIB e do superávit primário deveriam ser de 2% para garantir estabilidade fiscal, projeção bem distante da atual. A economia brasileira deve ter sua pior recessão em 25 anos, segundo o último boletim Focus.
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A Moody’s reiterou que um dos pontos fortes da economia brasileira é o montante que o país dispõe em reservas internacionais (mais de 350 bilhões de dólares), o que faz com que os choques externos tenham menos impacto sobre o mercado doméstico. Outro fator positivo, diz a agência, é a exposição limitada do país à dívida em moeda estrangeira, além de dispor de uma economia grande e diversificada. A Standard & Poor’s já havia rebaixado a nota brasileira para o último degrau antes da perda do grau de investimento. Agora, resta apenas a Fitch, que não costuma demorar para equiparar a nota com as outras agências.
O rebaixamento pela Moody’s aconteceu um mês após a visita dos técnicos da agência a Brasília, para reuniões com membros da equipe econômica. À época, o rebaixamento já era dado como certo. No final de julho, a Standard & Poor’s revisou a nota do Brasil do campo neutro para o negativo, abrindo o caminho para a perda do grau de investimento, que pode acontecer no primeiro trimestre de 2016.
O governo contava com a implementação das medidas de ajuste fiscal para convencer as agências sobre a manutenção da nota. Contudo, com a desarticulação da base aliada no Congresso, culminando com o rompimento do governo com o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, as medidas de ajuste ainda não foram completamente executadas – e, mais que isso, não devem ser suficientes para garantir o cumprimento da tímida meta de economia para o pagamento dos juros da dívida.
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