Mercado vê inflação acima do centro da meta e alta do PIB menor em 2021
IPCA tem a nona semana consecutiva de revisão, chegando a 3,98%, e economistas projetam 3,26% de crescimento da economia em 2021
Já é a nona semana consecutiva que a previsão para a inflação no país em 2021 é revisada para cima por analistas do mercado financeiro. O movimento de pressão inflacionária, que era considerado passageiro em 2020, parece não ceder. Segundo o Boletim Focus do Banco Central, divulgado nesta segunda-feira, 8, economistas veem a inflação a 3,98% ao fim deste ano. É a terceira semana seguida que a revisão da projeção fica acima do centro da meta de 3,75% ao ano, definida pelo governo. Além da temperatura da inflação, que é sentida diariamente pelo consumidor, os analistas também revisaram a previsão de crescimento do Brasil este ano. A estimativa caiu de 3,29% para 3,26%. No ano passado, o PIB recuou 4,1%.
A inflação serve como um termômetro da economia e diversas variantes a afetam. No ano passado, o índice chegou a ter deflação entre abril e maio, devido à queda do consumo e, posteriormente, voltou a subir com o reaquecimento da economia. Com maior demanda aqui e no mundo por alimentos, além de outras variáveis como o real desvalorizado e commodities caras, os preços começaram a subir e impactaram no indicador, que fechou o ano em 4,52%, acima do centro da meta de 4% definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Considerada passageira pelo governo e Banco Central, o índice de preços continua mostrando alta consistente. Os alimentos, até então, não sobem no mesmo ritmo do ano passado, mas outros produtos que pesam no orçamento como combustíveis vem pressionando mais os preços.
A previsão do indicador para 2021 segue dentro da margem de tolerância, de 1,5 ponto porcentual. Mas a pressão crescente deve puxar a taxa básica de juros para o alto. A Selic, atualmente em 2%, deve subir, de acordo com o mercado. Muitos analistas já apostam em ajuste já nesta próxima reunião, na próxima semana, com uma trajetória de alta até o fim do ano, chegando a 4%. O ciclo de baixa na taxa de juros começou em julho de 2019, chegando na mínima histórica em agosto do ano passado. Com os juros baixos, os investimentos em renda fixa perderam rentabilidade. A pressão para a taxa subir, porém, é para evitar que a inflação dispare.
Além da previsão de maior inflação, os economistas consultados pelo Banco Central também revisaram as previsões para o crescimento do PIB neste ano. Pela segunda semana consecutiva, analistas enxergam que o crescimento será menor. Nesta semana, a revisão foi de 3,29% para 3,26%. Há um mês atrás, a projeção era de 3,47%. Apesar da revisão, o mercado estima uma reação após o tombo da economia em 2020.
A escalada de casos do novo coronavírus e os percalços da vacinação são pontos de atenção para a retomada, já que o impacto do coronavírus continua presente. Estados e municípios voltaram a adotar medidas mais restritivas a fim de evitar o colapso no sistema de saúde.
A expectativa para ajudar na volta econômica depende do andamento das reformas, essencial para melhorar o ambiente de negócios e destravar investimentos, estimulando assim a recuperação. A PEC Emergencial, medida que cria gatilhos para o ajuste fiscal em caso de crise financeira foi aprovada no Senado e deve passar pela Cãmara dos Deputados nesta semana. A PEC abre espaço para a reedição do auxílio emergencial — em menor valor e proporção do que no ano passado, mas suficiente para aumentar a atenção sobre o risco fiscal do país caso o restante a agenda reformista não ande.