Mercado prevê corte de 0,5 pp, mas preocupação fiscal volta ao radar
Apesar do otimismo com a queda dos juros, cresce o ceticismo quanto à capacidade do governo cumprir a meta de zerar o déficit até 2024
O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou nesta terça-feira, 19, a reunião para decidir sobre a taxa de juros, a Selic. Atualmente em 13,25% ao ano, a aposta do mercado é uma redução de 0,5 ponto percentual, levando a taxa a 12,75%. Apesar do otimismo com a queda dos juros, cresce a perspectiva de que o risco fiscal pode voltar no radar do Banco Central.
Na reunião anterior, o Banco Central excluiu pela primeira vez em mais de três anos, a menção ao cenário fiscal brasileiro. Com a aprovação do arcabouço fiscal, os temores em relação ao fiscal foram amenizados, mas analistas do mercado financeiro veem com ceticismo essa projeção governamental de zerar o déficit até 2024, almejando um superávit de 1% do PIB em 2026. A Instituição Fiscal Independente (IFI), considera as metas governamentais otimistas demais, tendo em vista as atuais diretrizes legislativas de receitas e despesas. Além disso, a IFI afirma que parte significativa do orçamento projetado ainda depende de receitas que dependem da aprovação do Congresso.
Apesar da preocupação com a parte fiscal, o mercado prevê a manutenção desse ritmo de corte, projetando uma Selic de 11,75% ao término de 2023. O Copom, em sua última ata, expressou que a contínua melhoria do cenário econômico e a diminuição da inflação proporcionaram a confiança necessária para iniciar um “ciclo gradual de flexibilização monetária”. Isso representou uma mudança no tom do comitê, que, anteriormente, lançava comunicados mais rígidos e não excluía a possibilidade de um aumento na Selic devido à volatilidade dos preços. No Boletim Focus, as projeções para a inflação voltaram a cair, com o IPCA saindo de 4,93% para 4,86% em uma semana. Entretanto, apesar do declínio inflacionário, o Copom alertou na últimas atas que alguns preços continuam a crescer ou estão caindo menos que o esperado, reforçando a necessidade de uma abordagem conservadora na redução dos juros. Durante evento do Lide, realizado em Washington, nos Estados Unidos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse que a batalha contra a inflação ainda não está ganha, colocando o gasto público como um dos pontos de preocupação. Segundo Campos Neto, o Brasil tem um crescimento de gastos acima da média e existem discrepâncias entre as projeções do mercado e as metas governamentais em termos de políticas fiscal e monetária. “Tal incerteza preocupa os investidores e especialistas, tornando imperativo que as autoridades e o mercado trabalhem em conjunto para uma convergência fiscal e monetária”, disse.