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Mercado cobra ações práticas de Lula e Haddad para garantir queda do dólar

Agentes financeiros mostram cautela com promessas do Palácio do Planalto sobre corte de gastos

Por Márcio Juliboni Atualizado em 4 jul 2024, 17h41 - Publicado em 4 jul 2024, 14h06

No melhor estilo “falar é fácil, quero ver fazer”, o mercado espera medidas concretas que provem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, foram sinceros ao declarar, ontem, o compromisso de preservar o arcabouço fiscal “a todo custo”. Somente isso ajudaria a consolidar a forte queda do dólar iniciada ontem e prolongada na manhã desta quinta-feira, 4. Por volta das 13h45, a moeda americana recuava 1,22%, cotada a 5,50 reais para venda.

“Não adianta o governo ter boas intenções apenas no verbo; precisa ter também nas ações”, afirma o economista Jason Vieira, diretor da MoneYou. Desde meados de junho, Lula aumentou a artilharia contra o ajuste fiscal e a política monetária do Banco Central. O bombardeio seria alimentado por pesquisas encomendadas pelo Palácio do Planalto que mostrariam que o apoio popular ao presidente cresce nessas ocasiões.

O efeito colateral dessa estratégia é o estresse causado no mercado financeiro, expresso pela queda do Ibovespa, principal índice da bolsa, pela disparada do dólar e pela alta dos juros futuros. Com as campanhas para as eleições municipais prestes a começar, atacar o mercado é uma estratégia previsível de Lula.

Na noite de segunda-feira, dia 1º, quando participava de um evento em Salvador (BA), o petista afirmou que não devia “prestar contas a nenhum ricaço desse país, a nenhum banqueiro”, mas sim “ao povo pobre”. No dia seguinte, o dólar fechou em 5,66 reais para venda, seu maior patamar desde janeiro de 2022, ainda no governo de Jair Bolsonaro.

Mas, ao atribuir a disparada do dólar a um “ataque especulativo” dos agentes financeiros, Lula ignorou um fato óbvio: o peso da moeda americana na inflação que castiga, justamente, o bolso dos mais pobres a quem ele quer prestar contas. “Esse cabo de guerra com o mercado financeiro tinha hora para acabar”, diz Victor Benndorf, fundador da Benndorf Consultoria. “Se o Executivo seguisse nessa linha, o impacto que vemos hoje (no dólar), que é mais de tela, certamente passaria para a macroeconomia.”

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Traduzindo: os eleitores de Lula e seus aliados sentiriam a alta do dólar, quando fossem à padaria, ao supermercado ou negociar o reajuste do aluguel residencial, entre outros itens. Ao praguejar contra o Banco Central e o ajuste fiscal para angariar votos nas eleições municipais, o presidente ofende, no fundo, o bolso dos eleitores. “Não existe almoço grátis; Lula não pode desviar muito do que o mercado espera sem ser punido”, resume Benndorf.

O recuo veio após duas reuniões com Haddad ontem — a primeira, às 9h, no Palácio do Alvorada; e a segunda, no fim da tarde. A atuação do ministro como bombeiro não é por acaso. “Os ataques de Lula não atingem só o Banco Central; quando ele fala contra a política fiscal, está falando contra seu ministro da Fazenda”, observa Vieira, do MoneYou.

Em cerimônia no Palácio do Planalto para o Plano Safra da Agricultura Familiar, Lula mandou o primeiro recado sobre seu compromisso com o arcabouço fiscal. “Responsabilidade fiscal não é uma palavra, é um compromisso desse governo desde 2003, e a gente manterá ele à risca”, disse. A mudança de tom foi percebida pelo mercado, e o dólar passou a cair.

Após a segunda reunião com Lula, Haddad foi mais enfático. Em declaração a jornalistas, afirmou que o presidente determinou que o arcabouço seja “preservado a todo custo”. E emendou: “Não há discussão a esse respeito”. Entre outras medidas, o ministro informou que o governo deve cortar 25,9 bilhões de reais em despesas obrigatórias no ano que vem.

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A questão, para os agentes financeiros, é se os cortes virão mesmo. “É uma promessa, mas promessas já foram feitas antes e não foram cumpridas”, diz Pedro Paulo Silveira, diretor de gestão da Nova Futura Investimentos. “Sou cético quanto à capacidade de o governo entregar déficit fiscal zero em 2025.”

Além disso, a queda do dólar não é mérito apenas da mudança de postura de Lula. Fernando Ferrer, head da mesa de renda variável e fundos imobiliários da Lifetime, lembra o índice DXY, que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, mostra que a divisa americana perdeu força. “O dólar já vinha se apreciando bastante frente a outras moedas; agora, ele está realizando os ganhos nos últimos dias, e isso também ajuda na queda.”

Para os agentes financeiros, falta muito para que a trégua com o governo se transforme em paz duradoura. Outro ponto de preocupação são as investidas de Lula contra o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, cujo mandato termina em dezembro. Recentemente, Lula acusou o titular do BC de seguir um “viés político” ao gerir a política monetária.

O mercado espera que Lula emita sinais claros de que respeita a autonomia do Banco Central e de que indicará um nome técnico, respeitado e independente para o lugar de Campos Neto. Por ora, analistas e gestores dizem que o presidente apenas empurrou essa questão para frente.

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Para o economista André Perfeito, o Brasil passa por um “freio de arrumação” entre o Palácio do Planalto e o Banco Central. “Lula teve que ceder e, agora, acho que o Banco Central tem todo o espaço do mundo para também ajudar a colocar água nessa fervura”, diz. Além do tradicional mecanismo de swap cambial, o BC deveria afiar sua estratégia de comunicação com o mercado. “Já ajudaria bastante, se o BC simplesmente comentar que talvez não faça sentido um dólar tão alto, dado que os juros pararam de cair no Brasil”, explica.

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