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Mantega quis esconder perdas no patrimônio da Petrobras

Ex-ministro da Fazenda e Graça Foster discutiram sobre a divulgação do balanço que mostrava que a estatal teve perdas de 88,6 bilhões de reais

Por Da Redação
8 Maio 2015, 10h43

Durante reunião do Conselho de Administração da Petrobras, o então presidente do colegiado e ministro da Fazenda, Guido Mantega, se opôs à divulgação de um balanço que apontava perdas de 88,6 bilhões de reais no patrimônio da estatal. O áudio da reunião, da qual também participou a ex-presidente da Petrobras Graça Foster, foi revelado nesta sexta-feira, pelo jornal Folha de S. Paulo.

O encontro foi realizado no dia 27 de janeiro. Nele, Mantega e Graça travam uma batalha um com outro em relação à publicação do balanço produzido pela consultoria Deloitte e pelo banco BNP Paribas, encomendado pela própria Petrobras. “Acho uma temeridade divulgar esse número. Vai afetar o nosso rating, custo financeiro, a solidez da empresa por algo de que não temos certeza. Cria a possibilidade de que a Petrobras tenha um endividamento muito maior em relação a seu patrimônio”, diz Mantega no áudio, ao que é rebatido pela ex-presidente da estatal: “E se a CVM me pergunta sobre esses números? Se existe, por que não divulgaram? Quem está escondendo esse número? De quem é a responsabilidade? Da diretoria ou do conselho?”. Depois, ela ainda faz uma ressalva de que “mais de cem pessoas tiveram acesso [ao balanço].”

Como resposta, Mantega afirma que a empresa “faz relatórios e nem todos são revelados”. E termina dizendo que o que foi discutido ali está sobre “regra de sigilo”. “Somos todos responsávels. [O resultado apurado pela consultoria] não deveria vazar”, afirma.

As perdas contabilizadas nesse documento, de 88,6 bilhões de reais, ficaram bem abaixo da do balanço auditado no mês passado, de 44,6 bilhões de reais. Mesmo sem a chancela do Conselho, a sua divulgação acabou ocorrendo, e Graça foi demitida do cargo pouco tempo depois, sendo substituída por Aldemir Bendine, ex-presidente do Banco do Brasil.

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Além de estar preocupada em ser acusada de omitir informações, Graça defendia a divulgação do número porque, naquele momento, a Petrobras corria o risco de que 27 credores pedissem a antecipação do pagamento das dívidas de 19,3 bilhões de dólares por causa da demora em publicar o balanço. “Temos que negociar com esses credores. Pode ter chinês batendo na nossa porta cobrando todo tipo de coisa. Agora, quanto mais informação você mostra, mais chance tem de ser bem-sucedido”, comentou ela.

Os representantes dos acionistas minoritários, Mauro Cunha e José Monforte, apoiaram a opinião da ex-presidente, enquanto o presidente do BNDES, Luciano Coutinho e a ex-ministra do Planejamento Miriam Belchior ficaram do lado de Mantega. “Se não divulgarmos os dados, estaremos mentindo. Estamos vendo uma mudança de 180 graus no que foi discutido dois dias atrás, o que reflete mais uma vez a interferência do acionista controlador da companhia [o governo]”, afirmou Cunha.

No final da reunião, que durou quase oito horas, Mantega aceitou divulgar o cálculo porque ficou sabendo que os representantes dos acionistas minoritários estavam dispostos a protocolar o número na Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Procurado pelo jornal, o ex-ministro afirmou que “o que importa é que, sob sua presidência, o conselho divulgou os dados, e que discussões internas fazem parte do processo de decisão da companhia”.

Combustíveis – Na quinta-feira, o Jornal Nacional revelou informações de documentos que registraram reuniões do Conselho de Administração da estatal e que mostram a divisão interna sobre o reajuste do preço dos combustíveis.

Em uma ata de maio de 2012, o conselho soube que em novembro daquele ano a dívida líquida atingiria o limite máximo estabelecido pela própria empresa. Mesmo assim, decidiu não corrigir o preço da gasolina e do diesel. O prejuízo com a defasagem dos preços dos combustíveis foi de 55 bilhões de reais entre 2011 e 2014.

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Em 2013, os conselheiros continuaram pressionando por um realinhamento de preços, que veio abaixo do suficiente: 4% para a gasolina e 8% para o diesel. Em carta redigida pelo representante dos acionistas minoritários, Mauro Rodrigues da Cunha, diz que a então presidente, Graça Foster, acertou com Mantega um reajuste inferior ao defendido pela diretoria da empresa. A presidente da estatal voltou a ser cobrada em julho de 2014, mas se limitou a dizer que não havia sido autorizada a fazer reajustes, o que acabou acontecendo apenas em novembro, após as eleições.

Em resposta, a Petrobras reforçou que os preços dos combustíveis foram reajustados seis vezes entre 2012 e 2014.

Transpetro – Os documentos obtidos pelo Jornal Nacional também mostram que houve divergências a respeito da demissão do então presidente da Transpetro, subsidiária da Petrobras, Sérgio Machado, ligado ao PMDB. A auditoria PwC, que chancela os resultados financeiros da estatal, questionou a permanência de Machado após acusações de pagamento de propina ao ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, um dos principais alvos da Operação Lava Jato.

Em reunião no dia 31 de outubro, conselheiros queriam afastar Machado imediatamente. A ideia, no entanto, não vingou, já que Mantega, com o apoio de conselheiros ligados ao governo, resistiu e suspendeu o encontro. A reunião só foi retomada em 4 de novembro, um dia após Machado negociar e decidir por conta própria que iria se afastar do cargo.

(Da redação)

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