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Maioria dos endividados deve para bancos; saiba como voltar ao azul

Principal recomendação é viver de acordo com sua situação financeira, não gastar mais do que ganha e detalhar todas as despesas diárias

Por Fabiana Futema Atualizado em 24 ago 2018, 08h33 - Publicado em 24 ago 2018, 06h00

Mais de 63 milhões de brasileiros estão com o pagamento das contas em atraso. Não é um atraso qualquer: varia de 1 a 3 anos em 39% dos casos. Não é número é qualquer: é mais que a população dos Estados de São Paulo e do Rio de Janeiro juntas. Esse patamar recorde foi alcançado em julho, quando a inadimplência subiu 4,31% em relação ao mesmo mês de 2017, segundo o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil).

O perfil médio do brasileiro que teve o CPF incluído nas listas sujas do comércio mostra que ele é majoritariamente do sexo feminino, mora na região Sudeste, tem entre 30 e 49 anos e suas dívidas estão concentradas no setor financeiro — cartão de crédito, cheque especial e empréstimo. O valor médio dos débitos é de 1.512,48 reais.

O que esse perfil não mostra é que a situação está tão difícil que o endividado passou a atrasar o pagamento de contas básicas, como as de água e luz. Em julho, pela primeira vez, as pendências com contas desse tipo foram as que mais cresceram, 7,66%, enquanto as dívidas com bancos avançaram 6,90%.

“Quando chega a esse nível é porque há uma situação de total desequilíbrio financeiro, a pessoa não consegue ser seletiva nem com o que é essencial”, afirma a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti.

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O salto da inadimplência reflete a frustração com a expectativa de crescimento econômico para 2018 que se tinha no fim de 2017 combinada ao aumento da concessão de crédito, o que elevou o endividamento da população.

“Como havia uma previsão de crescimento de 3%, os bancos voltaram a conceder crédito. Esse crescimento não veio, o mercado de trabalho não se recuperou e as pessoas ficaram sem condições de pagar as dívidas assumidas”,afirma Kawauti.

 

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Pressão das redes sociais

A demora para recuperação do emprego e depreciação do poder de compra explicam parte da elevação da inadimplência. A falta de educação financeira e de planejamento também contribuem para o descontrole econômico.

Para o educador financeiro do portal Meu Bolso Feliz, do SPC Brasil, José Vignolli, a necessidade de aprovação e preocupação com o que os outros vão pensar também fazem o consumidor gastar além da sua capacidade de pagamento.

“Quem se fia apenas nas redes sociais, pensa que todo mundo está em férias, menos ele. Que todo mundo está comendo em restaurantes badalados, exceto ele. Então para ficar bem aos olhos dos outros, gasta mais, recorre ao crédito para ter um status que não condiz com sua realidade”, diz Vignolli.

A dificuldade, segundo ele, é convencer a população, principalmente a mais jovem, a se planejar financeiramente. “O bem estar presente passa a ser fundamental e ninguém se preocupa com o que pode acontecer daqui a 20 ou 30 anos.”

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Como evitar o endividamento

Diógenes Donizete Silva, coordenador do Programa de Apoio ao Superendividado, do Procon-SP, diz que é difícil falar em como não se endividar na atual situação econômica do país. “Temos uma economia capenga, desemprego crescente, renda caindo, negócios sem faturar.”

O ideal, segundo ele, é que o consumidor evite contrair dívidas de longo prazo. “É preciso evitar contratos com prestações a perder de vista. Ele tem que aprender a viver com o que tem hoje, pois pode sofrer um revés e não ter como pagar a dívida no futuro.”

Uma dica é calcular o valor total da dívida e não apenas aceitar que a parcela cabe em seu bolso. “48 parcelas de 100 reais são 4.800 reais. Se o mesmo bem sai 1.500 à vista, não é melhor guardar 200 reais por sete meses e comprar à vista? Não pode olhar apenas para o valor da parcela mensal”, diz Silva.

O consumidor também precisa ter claro qual é sua verdadeira capacidade de pagamento. O limite do cheque especial e do cartão não compõem sua renda.

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Retornando ao azul

Uma das dicas para sair do endividamento é fazer um detalhamento diário de todos os gastos pessoais. Não importa a forma como isso será feito: pode ser no caderninho, na planilha de Excel ou no aplicativo do celular. O importante é que tudo seja contabilizado.

“A pessoa precisa relacionar todas as despesas, saber qual é seu custo fixo mensal, identificar para onde seu dinheiro está indo. Se estiver gastando mais do que ganha é porque está vivendo fora da realidade, frequentando a turma errada”, afirma Vignolli.

E se não houver gordura nesse orçamento? Vignolli diz que é preciso dar um passo atrás e adequar o orçamento à realidade financeira. “A pessoa pode estar morando no bairro errado, pode ser que precise de um carro mais econômico ou que tenha de trocar a escola do filho. A regra é dura: é preciso estar três degraus abaixo do que se pode viver. Se viver plenamente, não tem onde se agarrar em situações adversas.”

Vignolli afirma que não existe receita fácil para voltar ao equilíbrio financeiro. “É preciso apertar o cinto e por um longo tempo. Exige muito sacrifício. Não adianta negociar a dívida e sair para comemorar.”

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Silva, do Programa de Apoio ao Superendividado, diz que o inadimplente não pode ceder a pressões do credor na hora de negociar. Ele sugere que o devedor busque ajuda — o Procon conta com o programa em todo o estado.

“O inadimplente não pode fazer uma renegociação que resulte em parcelas maiores que sua capacidade de pagamento. isso vai ser pior”, afirma Silva. “Mesmo na renegociação, é preciso respeitar os limites orçamentários do devedor.”

No quesito educação financeira, o coordenador do PAS afirma que as empresas também precisam passar por treinamento. “A educação financeira do credor também precisa melhorar. Antigamente, você emprestava um boi a quem tinha um cabrito. Hoje, se empresta um boi a quem não tem nenhum cabrito. Que critério é esse? É consciente isso? São perguntas que valem ser feitas.”

 

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