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Na guerra dos juros reais, Brasil fica atrás apenas da Rússia

Brasil é 4º país com a maior taxa de juros; considerando a taxa de juros real, o Brasil sobe para a 2ª posição, enquanto a Rússia é a líder

Por Luana Zanobia Atualizado em 19 mar 2022, 00h52 - Publicado em 17 mar 2022, 12h23

Os recentes acontecimentos no mundo com a guerra no Leste Europeu e um novo surto de Covid-19 na China, geraram bastante expectativa no mercado acerca da decisão do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) sobre os rumos da taxa básica de juros. Diante dessas novas pressões inflacionárias, o Banco Central decidiu manter sua política contracionista e aumentou a taxa Selic em 1 ponto percentual, a levando para 11,75% ao ano. Com esse patamar, o Brasil se torna o 4º país com a maior taxa de juros no mundo.

O país fica atrás apenas da Argentina (42,5%), Rússia (20%), e Turquia (14%), segundo levantamento elaborado pela Infinity Asset Management. Levando em conta a taxa de juros real descontada a inflação projetada para os 12 meses consecutivos, o Brasil sobe para a terceira colocação no ranking, perdendo o topo do pódio para a Rússia, que vem realizando fortes elevações nos juros em meio à guerra com a Ucrânia. Taxa de juros real é a taxa “a mercado”, ou seja, um referencial dos juros dados ou tomados em uma operação real. Essa é a taxa que determina o poder de compra, a rentabilidade de um empréstimo e da aplicação dos investimentos. Nos três cenários de alta na Selic – 1 ponto, 1,25 ou 1,50 – a taxa de juros real oscila no patamar de 7%.

Essa é a nona alta consecutiva na Selic, que passou do menor patamar histórico, de 2%, em 2021, e deve continuar com a trajetória de subida. No mesmo dia, poucas horas antes, os Estados Unidos anunciavam o primeiro aumento dos juros básicos desde 2018. O banco central norte-americano, o Federal Reserve, elevou os juros para 0,25 ponto percentual, chegando ao intervalo de 0,25% a 0,50%, dando início ao ciclo de alta nos juros americanos para conter a maior inflação em 40 anos no país. A Rússia também subiu os juros nas últimas semanas, passando de 9,5% para os 20% já citados.

O movimento global de políticas de aperto monetário continua a ganhar força, com o aumento expressivo no número de BCs sinalizando preocupação com a inflação, em especial devido à guerra, aos recentes choques de oferta e à perspectiva de alta nas commodities. No cômputo geral, entre 167 países, 77,25% mantiveram os juros, 19,16% elevaram e 3,59% cortaram. No ranking, entre 40 países, 70% mantiveram, enquanto 27,50% elevaram as taxas e 2,50% cortaram.

Com o primeiro aumento nos juros americanos em pouco mais de três anos, os Estados Unidos sobem para a 24º posição do ranking, abandonando grande parte dos países europeus (Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, França, Grécia, Holanda e Itália) que continuam com os juros zerados. Com esse ciclo altista nos Estados Unidos, o banco central brasileiro deve seguir atento aos próximos passos da política monetária do Fed, uma vez que o aumento de juros por lá torna o Brasil mais vulnerável a novas desvalorizações no real e maiores pressões inflacionárias, aumentando a dificuldade do BC de baixar o patamar dos juros. Porém, como o diferencial de juros do Brasil em relação aos Estados Unidos é muito grande, os especialistas não acreditam em uma fuga de capital. “O fato de boa parte das economias estarem com juros negativos, mantém o viés de entrada de recursos para o Brasil”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset.

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Embora a taxa de juros em patamar alto coloque o Brasil na rota dos investidores, o economista acredita que o BC está exagerando na dose, o que pode penalizar a economia e grande parcela da população sem resolver o problema inflacionário. “O BC já está há algum tempo na zona contracionista e se aprofunda cada vez mais para controlar a inflação, sendo que uma parcela significativa dela não é controlável pela elevação de juros, nem pela atração de capital. É uma inflação de choque de oferta”, diz Vieira.

A inflação continua acelerando por aqui pressionada por fatores externos como a guerra entre Rússia e Ucrânia, e pelos internos, com o risco fiscal que voltou ao radar com as recentes falas do presidente Jair Bolsonaro de intervir na política de preços da Petrobras. O mercado também calcula os riscos dos recentes fechamentos na China em resposta a um novo surto da Covid-19, que podem voltar a desequilibrar as cadeias de suprimentos e gerar uma inflação de oferta, na qual o Banco Central tem pouco poder de controle. A inflação acumula alta de 10,54% em doze meses até fevereiro e a projeção para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) saltou de 5,50% para 6,45% no último Boletim Focus, indicando novamente estouro da meta. A meta definida pelo BC é de 3,5%, com margem de tolerância de até 5%.

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