Jovens trocam bolsas de mão por mochilas e põem mercado em risco
O acessório sofre com mudança de estilo da nova geração, que aposta em looks mais despojados e prefere gastar dinheiro com produtos tecnológicos
Consagradas no cinema e transformadas em peças de culto por marcas como Chanel, Louis Vuitton e Prada, as bolsas de mão viraram, ao longo das décadas, quase uma segunda pele feminina. Célebres, pareciam destinadas a acompanhar para sempre os looks das mulheres. Pois essa lógica pode estar com os dias contados. Segundo estudo realizado pela consultoria McKinsey, as vendas de itens de luxo, liderados principalmente pelas bolsas, deverão cair até 39% em 2020. Uma análise superficial poderia associar a queda à pandemia do coronavírus. De fato, a Covid-19 afetou negócios de diversos setores, mas as bolsas de mão já estavam ameaçadas há um bom tempo. Nos Estados Unidos, o comércio desses itens caiu 20% entre 2016 e 2019, e dados preliminares de 2020 apontam para uma curva descendente. No mesmo período, a venda de mochilas para mulheres cresceu 12%, o que faz supor que elas estão trocando acessórios formais por artigos despojados.
Uma das explicações para o fenômeno é a mudança geracional. Mulheres jovens incorporaram à rotina atividades improváveis até pouco tempo atrás, como ir ao trabalho de bicicleta, além de adotarem para o dia a dia peças básicas como jeans e camiseta, o que as desobriga a usar bolsas elegantes. “Essas roupas dialogam mais com seu estilo de vida, que prioriza a mobilidade”, diz Ana Vaz, consultora de estilo e professora de imagem pessoal do Senac de São Paulo. “No Brasil, também percebemos a substituição da bolsa de mão. Nas lojas de departamentos, as áreas voltadas para jovens apresentam uma predominância de mochilas e pochetes.” A verdade é que a prioridade das consumidoras mudou. Hoje em dia, o status está mais concentrado em gadgets e smartphones do que em bolsas ou sapatos, e a velocidade da inovação tecnológica desperta nas pessoas o desejo permanente de trocar seus aparelhos. Para as jovens, que preferem investir em um celular de última geração do que em sapatos ou bolsas de luxo, essa tendência é ainda mais marcante.
Outro fator negativo é o encolhimento do mercado de luxo. Estima-se que, no mundo, o faturamento do setor possa ser entre 20% e 35% menor em 2020, segundo projeção feita pela consultoria Bain & Company. Para um grupo imenso de mulheres, no entanto, as bolsas continuarão indispensáveis como sempre foram. Segundo a consultora de moda Gloria Kalil, abandonar o acessório pode significar esquecer alguns itens na hora de sair de casa. “Uma bolsa completa, cheia de tudo de que se precisa, pode ser muito útil”, diz a especialista. “É um lugar seguro, onde se sabe que estarão a chave, o cartão de crédito, o vidrinho de álcool em gel e muito mais.” Ou seja: a moda muda, mas a eficiência da bolsa continua a mesma.
Publicado em VEJA de 29 de julho de 2020, edição nº 2697