Luis Lidón.
Viena, 13 jun (EFE).- O Irã advertiu nesta quarta-feira sobre os efeitos desestabilizadores que o embargo previsto por parte da União Europeia (UE) ao petróleo iraniano pode causar ao mercado, uma vez que começam a aparecer sinais das influências das sanções à sua poderosa indústria petrolífera.
‘A aplicação de sanções por parte da Europa pode prejudicar tanto a estabilidade do mercado petrolífero como a economia mundial’, afirmou o ministro do Petróleo do Irã, Rostam Ghasemi, durante um seminário internacional sobre energia realizado em Viena.
A UE aprovou em janeiro novas sanções petrolíferas e financeiras ao Irã, entre as quais destaca-se um embargo total ao petróleo iraniano a partir de 1º de julho, como medida de pressão para que suspenda seu controvertido programa nuclear.
Uma ‘intervenção política’ na produção de petróleo pode ‘distorcer’ o abastecimento mundial, com a possibilidade de aumento de preços e volatilidade devido ao aumento da demanda na Ásia, ressaltou o dirigente iraniano.
As sanções darão assim lugar a ‘um mercado petroleiro instável e, em última instância, podem levar a mudanças bruscas no preço do petróleo’, advertiu Ghasemi.
O Irã é o segundo maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e já foi submetido a quatro rodadas de sanções econômicas e diplomáticas pelo Conselho de Segurança da ONU, perante sua recusa a suspender as atividades mais polêmicas de seu programa nuclear, que os países ocidentais suspeitam terem também fins militares.
‘As sanções unilaterais, como meio de alcançar objetivos políticos, podem significar restrições à indústria petrolífera’, recalcou o político iraniano.
Ao mesmo tempo em que Teerã alertava quanto aos efeitos negativos de um movimento dessa natureza sobre a economia europeia em momento de incerteza, o relatório mensal da Agência Internacional da Energia (AIE) ressaltou hoje que as exportações iranianas já estão sofrendo os efeitos do embargo.
O organismo internacional assegurou, utilizando fontes secundárias, que as exportações do país caíram 40% desde o início do ano, até cerca de 1,5 milhão de barris diários (mb/d), enquanto sua produção era de 3,3 mb/d.
‘O Irã pode precisar reduzir seu volume de produção se os mercados de exportação seguirem com limitações’, sustentou a AIE em seu relatório.
Parte da corrida de alta dos ‘petropreços’ no primeiro trimestre do ano se deveu ao endurecimento das sanções ao Irã, o que situou o petróleo tipo Brent em cerca de US$ 130 em março.
Desde então, as cotações do petróleo caíram cerca de 29%, devido à incerteza econômica mundial e porque a Arábia Saudita, rival regional do Irã, vem extraindo o ‘ouro negro’ a níveis recordes de aproximadamente 10 mb/d, o que compensou a queda do volume de petróleo iraniano.
A própria Opep, em seu relatório mensal publicado ontem, situava a produção total iraniana de maio em 3,7 mb/d, cerca de 650 mil barris diários a menos que em janeiro.
Perguntado sobre os efeitos do embargo, o ministro iraniano assegurou hoje que não eram ‘significativos’. Por sua vez, o comissário europeu de Energia, Günther Oettinger, ressaltou que a UE não tem qualquer intenção de adiar ou cancelar as sanções.
‘Temos uma posição muito clara a respeito, vamos começar o embargo petrolífero no dia 1º de julho’, declarou no seminário organizado pela Opep em Viena.
O Irã recebeu hoje o apoio do secretário-geral da Opep, Abdullah Salem El-Badri, que criticou o embargo e convocou os países da organização a buscarem uma solução dialogada à situação.
O ministro da Energia e Petróleo da Venezuela, Rafael Ramírez, também rejeitou o embargo ‘de maneira muito contundente’.
‘Estamos contra qualquer tipo de sanção – neste caso, de um país membro da Opep. Um país fundador da Opep. A União Europeia não pode promover o diálogo com os produtores, se com a outra mão impõe sanções contra um país’, declarou Ramírez aos jornalistas.
‘As sanções não são boas para ninguém, restringem o acesso a recursos petrolíferos que estão ali. E o que fazem é complicar a situação em um momento econômico muito perigoso para a UE’, afirmou. EFE
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