Por Tiago Pariz
BRASÍLIA, 26 Jun (Reuters) – O Brasil registrou crescimento no mercado de crédito acompanhado de inadimplência recorde e retração na concessão de financiamento no mês passado.
Segundo informações divulgadas pelo Banco Central nesta terça-feira, o crédito total disponibilizado no Brasil subiu 1,7 por cento em maio, atingindo 50,1 por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou 2,136 trilhões de reais.
Apesar disso, a concessão pela média diária caiu 1,5 por cento em maio e manteve-se em queda nos dados parciais de junho. Até o dia 14, a retração era de 0,4 por cento.
Nesse cenário, a inadimplência voltou a bater recorde, chegando a 6 por cento no mês passado, maior nível desde o início da série histórica do BC, que começou em junho de 2000, liderada pelos consumidores finais.
O calote de pessoa física subiu 0,2 ponto percentual em maio, para 8 por cento, o maior desde outubro de 2009. A inadimplência de empresas ficou estável pelo quarto mês consecutivo em 4,1 por cento.
Apesar dos dados, o BC aposta que o aumento da renda, do emprego e as quedas nas taxas de juros, aliados à maior seletividade dos bancos em conceder empréstimos, vão surtir efeito no final deste ano e melhorar o cenário de inadimplência.
“No final do segundo semestre, a inadimplência terá um comportamento melhor”, afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel.
A melhora no mercado de trabalho, no entanto, vem há muito tempo, sem a contrapartida nas taxas de inadimplência. Também no mês passado, a taxa de desemprego no país caiu a 5,8 por cento, menor taxa para esses meses da série do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
INADIMPLÊNCIA GENERALIZADA
De acordo com o relatório do BC divulgado nesta manhã, o calote das famílias cresceu de maneira generalizada em todos os segmentos de crédito: pessoal, cheque especial, veículos e outros bens.
O financiamento de automóveis tem um peso maior devido à carteira mais expressiva, segundo Maciel. A inadimplência nesse segmento vem batendo seguidos recordes e chegou a 6,1 por cento em maio.
No crédito pessoal, o percentual de dívida com atrasos superiores a 90 dias é de 5,7 por cento, sendo que cheque especial, 11,3 por cento, maior desde dezembro do ano passado. Já a dívida com outros bens o calote está em 13,9 por cento. Todos os dados são de maio.
Apesar dos calotes maiores, o spread bancário -diferença entre o custo de captação dos bancos e a taxa efetivamente cobrada ao consumidor final- atingiu 24,7 pontos percentuais em maio, contra 26,3 pontos no mês anterior. Em junho, até o dia 14, estava em 23,5 pontos.
A taxa média de juros caiu 2,2 pontos percentuais em maio, para 32,9 por cento ao ano. A queda foi registrada também para pessoa física, cuja taxa saiu de 41,8 para 38,8 por cento, e para pessoa jurídica, que passou de 26,3 para 25 por cento.
Em junho, até o dia 14, a taxa média de juros do país estava em 31,6 por cento ao ano.
Essa queda reflete esforço do próprio BC, ao reduzir em 4 pontos percentuais a Selic, para a mínima recorde atual de 8,50 por cento ao ano, e deve continuar o movimento de queda.
RESISTÊNCIA
Os dados mostram que os esforços do governo de elevar a disponibilidade de financiamento para dar fôlego à recuperação da atividade econômica estão tendo reflexo abaixo do esperado.
O governo tem agido para estimular a oferta de empréstimos e financiamentos como mecanismo para levar a uma recuperação econômica mais forte no país ao mesmo tempo em que garante que a inadimplência irá recuar ainda neste ano.
Para estimular o crédito, no final de maio, por exemplo, o governo reduziu Imposto sobre Operações de Financiamento (IOF) para operações voltadas a pessoas físicas, mas antes disso já havia colocado os bancos públicos para liderar movimento de redução das taxas de juros ao consumidor final.
Tanto que, apesar de o BC manter a projeção de alta de 15 por cento para o estoque total de crédito neste ano, a autoridade monetária acredita que a principal contribuição virá dos bancos públicos.
O BC elevou de 19 para 21 por cento a previsão de participação das instituições públicas na oferta de crédito em 2012. E reduziu de 12 para 10 por cento, a dos bancos privados nacionais. Ao mesmo tempo, reduziu a estimativa do crédito em relação ao PIB, de 51 para 52 por cento, neste ano.
O cenário de maior inadimplência e crescimento acelerado do crédito no Brasil foi criticado pelo Banco de Compensações Internacionais (BIS, na sigla em inglês), citando que o país está numa “zona de perigo” por conta do descompasso entre a oferta de financiamento e a expansão da atividade econômica.
Maciel rejeitou a visão do BIS e afirmou que o BC vê com tranquilidade a taxa de crescimento da oferta de crédito. “Não há risco para a expansão do crédito no Brasil, o crédito cresceu junto com a renda nos últimos anos e tem sido elemento importante no crescimento do país. O BC vê com tranquilidade o aumento do crédito”, disse o chefe do Departamento Econômico.
A única batalha que está tendo resultado é contra a taxa de juros e os spreads bancários que caíram no mês passado e mantiveram em trajetória de redução para os menores níveis históricos.