Impacto da alta da Selic sobre a dívida pública cresceu 20% em um ano
Desde setembro, BC iniciou novo ciclo de alta da Selic diante da resistência da inflação em convergir para a meta e já sinaliza com mais duas altas até março

O impacto da alta da taxa básica de juros, a Selic, na dívida líquida do setor público (DSLP) está cada vez maior. Segundo o Banco Central (BC), em novembro, cada elevação de 1 ponto percentual (p.p.) da Selic aumentaria a DSLP em 55,2 bilhões de reais. A cifra é 20% maior que os 46 bilhões de reais que seriam acrescidos à dívida pública para cada alta de 1 pp da Selic em novembro do ano passado.
Pode-se supor que esse aumento do valor é o resultado do crescimento da própria dívida nos últimos meses, mas o BC aponta que a Selic está pesando mais também em proporção do produto interno bruto (PIB). Em novembro de 2023, cada 1 ponto de alta dos juros elevava a dívida líquida como proporção do PIB em 0,43 ponto. No mês passado, essa proporção já era de 0,47 ponto. A DSLP considera a dívida bruta do governo geral (DBGG), menos tudo o que é arrecadado.
Entre agosto de 2023 e maio de 2024, o BC reduziu a Selic de 13,75% ao ano para 10,5%. O movimento alimentou a esperança do mercado de que os juros terminariam o ano abaixo dos 10%, mas a piora do cenário internacional, com o recrudescimento de tensões geopolíticas, e, sobretudo, a resistência da inflação, que segue acima da meta, levaram o Comitê de Política Monetária (Copom) a inverter o movimento, iniciando um novo ciclo de alta a partir de setembro, quando a Selic passou para 10,75%.
Sem detectar uma mudança substancial nas expectativas de inflação, o Copom acelerou o passo na última reunião do ano, realizada nos dias 10 e 11 de dezembro, e elevou a Selic em 1 ponto percentual para 12,25%. A decisão em si era amplamente esperada pelo mercado. Por isso, a surpresa ficou com a sinalização de que o BC pode repetir a dose nas próximas duas reuniões, se a inflação teimar em não cair. Com isso, a Selic poderia chegar a 14,25% em março de 2025. Isso significaria acrescentar 110,4 bilhões de reais à dívida líquida do setor público e elevar em 0,94 ponto sua proporção sobre o PIB.
Em valores nominais, o impacto da Selic sobre as finanças públicas é bem maior que o da inflação e o do dólar. Mas o dólar foi o que mais acelerou seus efeitos nos últimos 12 meses. Segundo o relatório do BC divulgado hoje, para cada 1% de alta do dólar frente ao real, a DLSP aumenta 10,4 bilhões de reais. A cifra é 35% maior que o impacto de 7,7 bilhões de novembro do ano passado. Além disso, a variação cambial eleva a DSLP como proporção do PIB em 0,09 ponto percentual. Um ano atrás, esse impacto era de 0,07 p.p.
Para se ter uma ideia do impacto potencial do câmbio sobre as finanças públicas, basta lembrar que o dólar comercial disparou 22% entre o último dia útil de novembro de 2023 e o último dia útil de novembro de 2024, passando de 4,92 reais para 6 reais.
O único fator que perdeu peso na variação da dívida pública, nesse período, foi a inflação. Segundo o BC, para cada 1 ponto percentual de alta do IPCA, o índice oficial de inflação, a DLSP aumentaria 18,1 bilhões de reais no mês passado. Doze meses antes, a variação seria de 18,4 bilhões. O peso da dívida como proporção do PIB também baixou ligeiramente de 0,17 p.p. para 0,16 p.p. para cada ponto de alta da inflação.
Segundo o relatório divulgado hoje pelo BC, a dívida bruta do governo geral (DBGG), que abrange o governo federal, Previdência Social, estados e municípios, somou 9,1 trilhões de reais em novembro. O montante corresponde a 77,7% do PIB. Na comparação com outubro, quando representava 77,8% do PIB, houve recuo de 0,1 ponto percentual. Já o déficit primário do setor público em novembro foi de 6,6 bilhões de reais.