Indicado por Lula, Galípolo defende atuação técnica e cautelosa do BC
O diretor de Política Monetária do BC e ex-secretário da Fazenda irá substituir Roberto Campos Neto à frente da autoridade monetária

O indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para o Banco Central, Gabriel Galípolo, vem falando bastante ao mercado sobre o que pensa da política monetária. O ex-secretário da Fazenda, e economista próximo ao PT, defende uma atuação independente do Banco Central, e vem pregando decisões técnicas, em uma visão muito alinhada a do atual presidente, Roberto Campos Neto.
Na última segunda-feira, em evento no Piauí, Galípolo afirmou que o Banco Central está “aberto a todas as alternativas” para a política monetária, isto é, pode subir juros se necessário. O patamar da taxa de juros, atualmente em 10,5% por ano, é um dos grandes pontos de tensão do Palácio do Planalto com o Banco Central.
“A função do BC é ser mais cauteloso, diante de uma economia que parece dar sinais de moderação lá fora, enquanto aqui assistimos a sinais de resiliência maior. Por isso, o BC assumiu uma posição mais conservadora, interrompeu o ciclo de cortes e fica agora dependente de dados”, disse na ocasião. “Vamos ‘consumir’ os dados a cada reunião do Copom [Comitê de Política Monetária] para analisar como a economia está avançando para, então, tomarmos nossas decisões”, afirmou o economista.
O indicado do governo ao BC destacou ainda que o cenário brasileiro é diferente dos Estados Unidos. Por lá, a inflação vem convergindo para a meta e as apostas para redução da taxa de juros só aumentam. “Esse não me parece ser o cenário que assistimos no Brasil”, disse. “Do ponto de vista das expectativas, elas estão desancoradas, com uma inflação que vai aos poucos se distanciando da meta.”
Indicação
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou nesta quarta-feira que Gabriel Galípolo, atual diretor de política monetária do Banco Central e ex-secretário-executivo do Ministério da Fazenda, é o indicado do presidente Lula para o Banco Central.
A indicação do economista confirma a expectativa do mercado financeiro, que já precificava o economista como o nome para substituir Roberto Campos Neto no Banco Central. O mandato de Campos Neto vai até 31 de dezembro neste ano, e nesse meio tempo a indicação de Lula deve ser submetida ao Senado Federal. A ideia do governo é conseguir passar a aprovação o quanto antes para que a transição no BC seja feita sem sobressaltos.
A sabatina de Galípolo fica a cargo da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Em seguida, precisa ter seu nome aprovado pelo plenário da Casa. O presidente Lula se reuniu com Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente da casa, para tentar adiantar a sabatina e a votação. Caso aprovado, Galípolo cumprirá um mandato de quatro anos, até 2029.