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Guido Mantega: “Bolsonaro é um jejuno na economia”

Ex-ministro da Fazenda e do Planejamento dá caminhos para a nova regra fiscal em um eventual governo Lula e explicita a vontade de recriação de ministérios

Por Felipe Mendes Atualizado em 23 set 2022, 12h13 - Publicado em 23 set 2022, 10h46

Ministro da Fazenda mais longevo da história do país, o economista Guido Mantega defendeu, em entrevista a VEJA, o desmembramento do atual Ministério da Economia caso Luiz Inácio Lula da Silva derrote Jair Bolsonaro nas eleições presidenciais deste ano. Para ele, a concentração das atividades da economia em uma única pasta é contraproducente. “Não dá para acumular tantas responsabilidades e tantas decisões na mão de um único ministro”, afirmou. “É importante ter um ministro do Planejamento voltado para as questões orçamentárias e para a questão do investimento, com o PAC. E também é importante ter um ministro do Desenvolvimento, que se dedique às exportações e à indústria. Certamente, o Lula [caso eleito] irá recriar vários ministérios.”

Com o embarque do ex-presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ministro da Fazenda no governo de Michel Temer, na campanha de Lula, muitos começaram a especular seu nome para o comando da principal pasta da área econômica em caso de uma eventual vitória do petista. Mantega, no entanto, ressalta que o nome a ser escolhido deve ter comprometimento com as pautas defendidas pelo candidato — Meirelles faz duras críticas em eventos públicos às sugestões do petista de revogar a reforma trabalhista e, sobretudo, o teto de gastos. “Se eu conheço bem o Lula, ele só vai definir o ministro depois que ele vencer as eleições. Tem muita gente boa que poderia assumir essa função, mas o escolhido tem que estar sintonizado com aquilo que o Lula já está dizendo que ele vai fazer. Ele não vai ficar restrito ao teto de gastos”, diz ele.

A campanha do petista defende uma modernização da legislação trabalhista por meio de uma proteção aos empregos de “autônomos, aos que trabalham por contra própria, trabalhadores e trabalhadoras domésticas, teletrabalho, mediados por aplicativos e plataformas”, segundo o plano de governo apresentado pelo PT. Se não se curvar a essas mudanças, Meirelles dificilmente será o escolhido para a função. “O Lula vai ter que escolher uma pessoa que consiga se mover diante desta conjuntura internacional adversa e nesta conjuntura política difícil dentro do país”, diz Mantega, emendando uma crítica ácida ao atual presidente. “Precisa ser uma pessoa que esteja afinada com a estratégia do partido, porque o Lula entende de economia, não é o Bolsonaro que é jejuno, que não entende nada.”

Quando questionado sobre possíveis alterações no arcabouço fiscal em vigência no país, Mantega rememora as mudanças feitas na regra a pedido de Jair Bolsonaro e do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. Ele critica os cortes efetuados pelo governo vigente em programas sociais para o Orçamento de 2023. “Para fazer superávit primário em 2023, o governo está cortando gastos preciosos, como o Farmácia Popular, gastos com saúde e educação, que são importantíssimos para manter o país funcionando. Ou seja, esse Orçamento que o Paulo Guedes mandou para o Congresso é totalmente furado, vai ter que jogar no lixo e fazer outro”, dispara.

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O economista, que além da Fazenda, foi ministro do Planejamento, presidente do BNDES e presidente do conselho da Petrobras durante administrações petistas, dá exemplos do que pode vir a ser a nova regra fiscal defendida pelo partido. “Pode-se fazer, por exemplo, uma regra para limitar gastos, como o aumento do salário mínimo. Em 2010, nós criamos uma regra em que o salário mínimo aumentava de acordo com a inflação e o aumento do PIB em dois anos antes do evento. Então, se o PIB não crescesse, você não poderia dar aumento real de salário mínimo. Essa é uma regra responsável. É uma limitação de gasto importante, porque reflete na Previdência”, afirma Mantega. “É possível criar amortecedores de gastos.”

Por fim, Mantega diz que não se deve julgar uma regra por sua “concepção teórica” e sim por seu “resultado”. “A concepção teórica do Paulo Guedes estava totalmente equivocada. O Brasil ficou estagnado nos quatro anos do Bolsonaro. Se economia crescer 2,3% deste ano, ela terá um crescimento médio de 1% ao ano dos quatro anos do governo Bolsonaro, uma merreca. Com Lula, o país crescia 4% ao ano”, afirma ele. “Você tem que mirar a redução da dívida pública. O Lula deixou a dívida pública líquida em 38% do PIB. A Dilma deixou em 39,5%, em maio de 2016. Com o Bolsonaro, esse número vai para 60%”, afirma. Embora distante dos holofotes durante a corrida presidencial, é possível que Mantega faça parte de um grupo seleto de economistas e especialistas em gestão com acesso a Lula em um eventual governo do PT.

 

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