Greve de caminhoneiros ameaça abastecimento de produtos no varejo
Bloqueios afetam transporte de aves e suínos vivos, ração e cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento interno e internacional
O segundo dia de greve dos caminhoneiros autônomos que protestam contra o aumento do preço dos combustíveis está preocupando empresários de diversos setores e pode levar ao desabastecimentos de alguns produtos no varejo, especialmente os ligados ao segmento de alimentos.
“Os bloqueios impedem o transporte de aves e suínos vivos, ração e cargas refrigeradas destinadas ao abastecimento das gôndolas no Brasil ou para exportações”, diz a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). “A continuar este quadro, há risco de falta de produtos para o consumidor brasileiro”, avisa a entidade.
De acordo com a associação, animais poderão morrer no campo com a falta de insumos. “Já temos relatos de unidades produtoras com turnos de abate suspenso. Contratos de exportação poderão ser perdidos e há um forte aumento de custos logísticos com reprogramação de embarque de cargas. Os prejuízos para o setor produtivo e para o país são incalculáveis”, diz a ABPA ao afirmar que apoia as motivações da paralisação, mas entende que o movimento deve preservar o fluxo dos alimentos e dos insumos para a produção.
A Associação Brasileira de Criadores (ABC) também considera que a greve constitui um grande problema para o agronegócio brasileiro. “No setor da pecuária de leite é gravíssimo, sobretudo no transporte de laticínios. Na pecuária de corte é também muito crítico em relação aos animais que vão para o abate. O problema se agravará se houver demora para uma solução, gerando desabastecimento e também o aumento nos preços”, alerta o presidente da ABC, Luiz Alberto Moreira Ferreira.
A Lacticínios Tirol é uma das empresas que já sentem o reflexo da paralisação. “Nesta segunda-feira, reduzimos o nosso faturamento diário em 70% porque não conseguimos levar o leite para a produção. Hoje (terça-feira), não carregamos nada”, diz o diretor de mercado da empresa, Edson Martins.
De acordo com ele, o leite está sendo retirado dos produtores e levado para o posto de resfriamento da empresa. No entanto, esse produto precisa ser processado em até 48 horas para não perder a qualidade.
“A greve é legítima e o governo precisa fazer a sua parte e negociar com a categoria, porque ela traz prejuízos enormes para toda a cadeia leiteira, desde a captação junto aos produtores até a entrega nas unidades fabris”, afirma.
O executivo comenta que a empresa tem cerca de quarenta caminhões com produtos parados nas estradas. “Produzimos mais de 200 itens e tivemos que suspender a fabricação de quase toda a produção. Apenas produtos com validade maior, como o leite em pó, continuam sendo processados”, conta Martins ao afirmar que, se a greve durar muitos dias, o reflexo será de desabastecimento e aumento de preços ao consumidor final.
O presidente executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove), André Nassar, comenta que os portos têm entre três e cinco dias de estoques de grão e farelo de soja para a exportação. “Se passar desse tempo, pode comprometer as vendas ao exterior”, diz.
Além disso, ele conta que a estrutura para armazenagem de farelo e óleo de soja é menor do que para o grão, o que está levando muitas fábricas a reduzirem ou até mesmo pararem a produção.
Considerando o que foi exportado até o dia 18 de maio, a entidade calcula que cerca de 320.000 toneladas entre grãos e farelos deixarão de ser exportadas diariamente.
De acordo com Nassar, as empresas do setor estão pagando de janeiro para maio 15% a mais pelo frete, enquanto o preço do diesel teve alta de 12% no período.
Para o professor de economia do Ibmec/SP, Walter Franco, a paralisação tem forte impacto econômico e político. “Além das questões financeiras, a greve passa um recado da importância de se olhar para a economia com cuidado e os sucessivos aumentos de preços nos combustíveis têm reflexo direto sobre todos os setores”, finaliza.