Governo quer apresentar um país “amigo do meio ambiente” no exterior
Estratégia de ministros técnicos envolve superar mácula de que o governo Jair Bolsonaro não se preocupa com questões ambientais
Uma das principais pedras no sapato do governo Bolsonaro, a gestão ambiental virou um dos motes dos ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, nas reuniões com agentes internacionais. Eles aproveitam a troca de Ricardo Salles, cuja reputação incendiou-se mundo afora, pelo ainda desconhecido Joaquim Pereira Leite como ministro do Meio Ambiente para vender o Brasil como potência ambiental. Não será fácil. No exterior, as notícias a respeito da preservação da Amazônia são percebidas como uma das principais máculas da gestão de Jair Bolsonaro. O ministro da Economia reconhece a dificuldade, mas garante, em conversas privadas, que está “vendendo” a imagem de Leite em conversas com atores internacionais.
No périplo pelos Estados Unidos, este foi um dos principais focos de Guedes. Em conversas com o secretário-geral da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Mathias Cormann, o ministro colocou o atual chefe do Meio Ambiente “para brilhar”. “Somos uma potência verde e o governo é alvo de uma guerra de informação, somos apedrejados o tempo todo pela opinião pública”, defendeu o ministro a Cormann, defendendo que o Brasil é um país lotado de potencial para a consolidação de produção de energia verde. O ministro disse ao chefe da OCDE que o Brasil “é o principal player” neste sentido em todo o globo. Falta só combinar com os gringos.
Semanas antes, havia sido a vez de Gomes de Freitas enfrentar as perguntas incômodas de investidores estrangeiros a respeito da gestão ambiental. A questão foi levantada durante uma reunião com representantes de uma empresa interessada na concessão de operação da Ferrogrão, ferrovia que ligará o Mato Grosso ao Pará. Aliados do ministro garantem que os interessados na gestão afirmaram que não há qualquer dúvida quanto ao mérito do projeto do ponto de vista ambiental, mas que a estratégia de comunicação e a imagem do Brasil no exterior são fatores preocupantes.
É esta a estratégia que vai embasar a participação do ministro Paulo Guedes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas, a COP26, em Glasgow, na Escócia. O ministro vai apresentar um Brasil que batalha para consolidar o plano de amparo aos mais vulneráveis, por meio do Bolsa Família recauchutado, enquanto trabalha pela obtenção de investimentos por meio de uma leitura de que o país preserva muito mais do que países europeus. Vai ser difícil. Aliados da ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmam que o principal entrave para que estrangeiros apostem no país envolve a imagem da gestão ambiental do governo. Segundo eles, o agronegócio pode sofrer represálias por falta de entendimento da estrutura do agronegócio brasileiro.