Governo faz campanha no exterior para defender imagem do agronegócio
Ministério da Agricultura iniciou a produção de uma série de vídeos em inglês para vender a ideia de que exportações não são fruto da exploração da Amazônia
Com a imagem em chamas, o governo de Jair Bolsonaro começa o contra-ataque para vender, mundo afora, que o Brasil respeita todos os ditames e bons hábitos em relação ao meio ambiente. A intenção envolve a coletânea de iniciativas para corroborar com a tese de que as exportações brasileiras não são frutos do desmatamento na região da Amazônia, mas de ambientes em que todas as diretrizes para a produção legal, seja de grãos, minério ou gado, seguem padrões rigorosos para proteção ambiental. Apesar da gestão temerária do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, os produtos de exportação do Brasil não são, em sua maioria, fruto do desmatamento ilegal, tampouco das queimadas na região amazônica. E é isso que quer mostrar a ministra da Agricultura, Tereza Cristina. Ela tem se queixado do lobby internacional que depões contra as exportações do país, e o governo, com as exportações ameaçadas, finalmente mudou o tom quanto à postura pública de preservação da região amazônica. Para continuar a abertura de mercados e fomentar a consolidação do acordo de livre comércio firmado entre o Mercosul e a União Europeia, a pasta passou a produzir uma série de vídeos que mostram que o agronegócio brasileiro tem como premissa regras rígidas e preservação ambiental.
À frente do projeto está o secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, Orlando Leite Ribeiro. Em sua secretaria, foram gestados, até então, dois vídeos bem didáticos mostrando onde os insumos são produzidos, reiterando, para inglês (literalmente) ver, que o país mantém 66% de sua vegetação preservada e que as fazendas, a maior parte fora da região da Amazônia, respeitam as reservas de mata nativa (veja os vídeos abaixo). A série de vídeo terá adendos, com os pedidos vindos até mesmo de outros ministérios, como da secretária Martha Seillier, do Programa de Parcerias e Investimentos, o PPI, lotado no Ministério da Economia.
“As iniciativas no Brasil eram em português e voltadas ao público interno. Falei para a ministra [Tereza Cristina] que o pessoal aqui dentro sabe de onde vêm as nossas produções. Era necessário produzir vídeos em inglês para o público externo, passando uma mensagem diferente”, diz Ribeiro.
A produção do material segue de vento em popa e o próximo abordará a regulação fundiária, defendida no Ministério da Agricultura. Ribeiro levou à ministra o material e ouviu da chefe que era necessário abordar de forma ostensiva, como faz a campanha, que a maior parte dos insumos brasileiros passa longe da Amazônia. “Não tem sentido logístico nem mercadológico produzir na Amazônia. É difícil de escoar, impinge em questões legais, como nós, brasileiros, sabemos, mas os estrangeiros, não”, defende ele.
A consolidação dos vídeos foi uma parceria com a Frente Parlamentar do Agronegócio, da Câmara dos Deputados, e as imagens consolidadas por meio de parcerias com órgãos do governo, como a própria Embrapa. A estratégia, explicam auxiliares de Tereza Cristina, não envolve a transmissão em cadeias de rádio ou televisão lá fora, mas, sim, o boca a boca. Os materiais, curtos, foram pensados para circular pelas redes sociais — e mirados de forma certeira. O secretário encaminhou os materiais para investidores e as embaixadas do país no exterior e ouviu dos representantes diplomáticos o pedido para que os vídeos fossem enviados sem a narração tenra em inglês, para que fosse adaptado para a distribuição local. Os representantes do país na China, Paulo Estivallet de Mesquita, e na Índia, André Aranha Corrêa do Lago, querem adaptar as narrações em mandarim e inglês com o sotaque típico do país, respectivamente. Quem semeia vento, diz a razão, colhe sempre tempestade. E é um bom começo semear o bom-senso.