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Francês Casino assume controle do Grupo Pão de Açúcar

Por Da Redação
22 jun 2012, 17h48

Por Aluísio Alves e Vivian Pereira

SÃO PAULO, 22 Jun (Reuters) – O dia 22 de junho de 2012 entrará para a história do Grupo Pão de Açúcar como a data em que Abílio Diniz passou para o grupo francês Casino o comando da maior varejista do Brasil, num discurso emocionado, deixando aberta a porta para um futuro acerto de contas entre os sócios.

Nesta sexta-feira, o presidente-executivo e do conselho do Casino, Jean-Charles Naouri, foi eleito como novo chairman da Wilkes, holding controladora do Grupo Pão de Açúcar. Até a véspera, a posição de chairman da Wilkes era ocupada por Diniz, que compartilha o comando da Wilkes com o Casino.

Embora prevista no acordo de acionistas assinado em 2006, a aliança teve suas bases fortemente abaladas há cerca de um ano, quando Diniz tentou unir o Pão de Açúcar às operações brasileiras do Carrefour -arquirrival do Casino na França- e permanecer como presidente do grupo, pisando no calo de Naouri.

O empresário francês chegou a abrir dois pedidos de arbitragem na Câmara Internacional de Comércio contra Diniz, classificando a tentativa de fusão como “uma transação hostil, resultado de negociações ilegais”.

Diniz, por sua vez, sempre defendeu que as negociações com o Carrefour não infringiram tal acordo, discurso que voltou a adotar nesta sexta-feira ao anunciar que permanecerá como presidente do conselho de administração do Pão de Açúcar.

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“Este é o dia que passo o controle do Pão de Açúcar… Fui acusado de quebrar contrato… as acusações eram falsas”, disse o empresário durante a assembleia geral extraordinária.

O atrito entre os sócios se tornou mais evidente nesta sexta-feira. Naouri, que esteve em São Paulo para a reunião da Wilkes pela manhã, não participou da assembleia da varejista, nem seus representantes que farão parte do conselho.

O episódio com o Carrefour deu a largada para que o Casino apertasse os passos rumo à tomada de controle do Pão de Açúcar, deixando claro não estar propenso a muitas negociações.

Hoje, o Brasil é o principal mercado para o Casino depois da França, em meio à estratégia de crescer em países emergentes enquanto seu mercado doméstico é parte do cenário de crise econômica na Europa.

Desde o final de julho de 2011, quando informou que exerceria a opção para assumir o controle do Grupo Pão de Açúcar, o varejista francês passou a aumentar sua participação na empresa brasileira por meio da compra de ações preferenciais.

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O Casino, entretanto, não assumirá a controladora do Pão de Açúcar de forma majoritária imediatamente. Pelo acordo, Diniz terá 60 dias para vender 2 por cento das ações que possui ao Casino, ficando com 48 por cento de participação na companhia.

Caso o empresário não se posicione até 22 de agosto, o Casino exercerá a opção de compra de uma ação ordinária da Wilkes, passando a ser o sócio majoritário do grupo.

O Casino também terá a maioria dos representantes no conselho do Pão de Açúcar: oito indicados contra três de Diniz.

Nascido na Argélia e hoje com 63 anos, o francês Jean-Charles Naouri, entrou no setor varejista relativamente tarde.

Naouri iniciou a carreira em ministérios da França, como o de Finanças, antes de partir para o setor privado, em 1987, quando entrou no banco Rothschild. Pessoas próximas o descrevem como perfeccionista, complexo e reservado.

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“Manteremos a identidade forte do Pão de Açúcar e sua cultura brasileira… continuaremos a apoiar a diretoria do GPA, liderada por Enéas Pestana, presidente-executivo da companhia, tendo por objetivo reforçar sua posição de liderança e fazer dela uma empresa ainda mais amada e admirada”, disse Naouri, em nota.

DINIZ COMO CO-PILOTO

Com a transferência de controle, Diniz, continuará tendo seu papel no Grupo Pão de Açúcar -como presidente do conselho da varejista-, porém, com poderes limitados e a tomada de decisões dependente de aprovação do sócio francês.

“Deus me fez forte… Vou seguir em frente, não sei como, mas vou”, disse ele nesta sexta-feira. “Este é o dia que passo o controle do Pão de Açúcar.”

Diniz, 75 anos, conhecido por seu perfil obstinado e determinado, levou a companhia ao topo do varejo brasileiro lançando mão, entre outras estratégias, de fusões e aquisições.

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Mas os ventos nem sempre foram muito favoráveis.

No final da década de 1980, afetado pela recessão do Brasil, o grupo teve que fechar lojas deficitárias e demitir mais de 20 mil funcionários.

Quando o Pão de Açúcar precisou se reestruturar pela segunda vez, entre 1999 e 2000, enquanto assumia a liderança do varejo brasileiro, foi o Casino quem ajudou a empresa financeiramente. Em 2005, Diniz vendeu o controle da companhia para o Casino e acordou a transferência do controle para 22 de junho de 2012.

“Sem falsa modéstia, esta empresa foi construída com meu DNA”, disse o empresário. “O objetivo do acordo com o Casino em 2005 era dar liquidez às ações para distribuir aos herdeiros da família… Deu muita alegria ao fundador”, acrescentou, se referindo ao seu pai, imigrante português que fundou, em 1948, uma doceria chamada Pão de Açúcar.

OS PASSOS SEGUINTES

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“Não encarem isso como uma despedida… Sigo como presidente do conselho de administração do Grupo Pão de Açúcar e o segundo maior acionista”, afirmou Diniz, que foi aplaudido de pé pelos acionistas presentes.

O empresário, entretanto, deixou em aberto os passos que serão tomados nos próximos dois meses.

“Agora não é o momento de acertar contas”, disse ele sobre a indisposição com o Casino. “O que está no contrato será respeitado”, acrescentou, sem deixar claro se venderá parte de sua fatia na Wilkes ou se o Casino terá de exercer sua opção.

Questionado sobre os rumos da Via Varejo -que reúne Ponto Frio, Casas Bahia e Nova Pontocom-, Diniz também foi vago, afirmando apenas que “no futuro veremos o que vai acontecer”.

Além de certo mal estar com a família Klein, ex-dona da Casas Bahia e que deu sinais de ter se arrependido da venda, Diniz enfrenta um pedido de arbitragem de Lily Safra, antiga controladora do Ponto Frio, solicitando indenização pelo não cumprimento do acordo.

(O repórter participou da assembleia de acionistas na qualidade de ouvinte depois de ter comprado uma ação do Pão de Açúcar para ter direito a acesso à reunião. Ele se absteve de participar da votação.)

(Reportagem adicional de Brad Haynes)

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