FMI sinaliza que pode rejeitar acordo grego se não houver alívio na dívida
Relatório do Fundo aponta que países europeus teriam de dar período de carência de 30 anos sobre o serviço da dívida grega
Um estudo sigiloso do Fundo Monetário Internacional (FMI) mostrou que a Grécia precisa de um alívio muito maior da dívida do que os governos europeus parecem dispostos a oferecer. O alerta do FMI vazou no momento em que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, tenta convencer parlamentares esquerdistas insatisfeitos a votarem a favor do pacote de austeridade e reformas econômicas liberais para garantir novo resgate.
Segundo o estudo Análise de Sustentabilidade da Dívida, os países europeus teriam de dar à Grécia um período de carência de 30 anos sobre o serviço de todas as suas dívidas, incluindo novos empréstimos, e uma dramática prorrogação dos vencimentos – ou então terão de fazer transferências anuais ao orçamento grego e aceitar “fortes cortes antecipados” em empréstimos existentes.
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Assumindo que Atenas cumpra sua parte do acordo esta semana, aprovando uma série de medidas dolorosas, o Parlamento alemão deve se reunir em sessão especial na sexta-feira para debater se autoriza o governo a abrir novas negociações. O ministro das Finanças alemão, Wolfgang Schaeuble, deixou claro nesta terça-feira que alguns membros do governo acham que faria mais sentido Atenas deixar a zona do euro temporariamente.
“A deterioração dramática da sustentabilidade da dívida indica a necessidade de alívio de dívida em uma escala que precisaria ir muito além do que tem estado sob consideração até agora, e o que foi proposto pelo ESM”, informou o FMI, em referência ao Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira. Uma fonte da UE disse que ministros das Finanças e líderes da zona do euro estavam cientes dos números confidenciais do FMI quando concordaram na segunda-feira com o mapa do caminho para o terceiro resgate.
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Parlamento grego – Parlamentares do partido governista grego Syriza e seus aliados discutem a portas fechadas se apoiam ou não as reformas, enquanto o próprio premiê Tsipras, que assinou o acordo, critica a dureza dos ajustes. Os parlamentares devem votar na quarta-feira cortes de 9 bilhões de euros, que integram as exigências dos credores. “É um acordo difícil e ruim”, disse Tsipras em entrevista à emissora de televisão estatal ERT. “Eu acredito que esse plano não está correto. Nós chegamos a um ponto onde não podíamos ir mais adiante.”
Após mais de cinco meses de negociações com os credores – os países da zona do euro e o Fundo Monetário Internacional (FMI) -, a Grécia concordou em avançar com as reformas econômicas, incluindo cortar pensões e elevar impostos. Graças ao forte apoio da oposição, o Parlamento grego deve aprovar o acordo, na noite desta quarta-feira em Atenas.
A questão é se o premiê, de 40 anos, poderá manter o apoio de seu próprio partido, o esquerdista Syriza, e ficar no cargo tempo suficiente para ver o acerto finalizado. Trata-se do mais duro teste político para Tsipras em seu país, após ele e o Syriza terem vencido a eleição em janeiro com uma plataforma contrária às medidas de austeridade.
(Com Reuters)