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Fed sinaliza que fim da era dos juros baixos nos EUA está próximo

O Federal Reserve, banco central norte-americano, decidiu manter a atual taxa de juros, mas confirma que aumento se dará em breve

Por Luana Zanobia Atualizado em 26 jan 2022, 17h53 - Publicado em 26 jan 2022, 16h36

Os mercados globais aguardavam ansiosos a decisão do Federal Reserve (Fed), banco central norte-americano, na tarde desta quarta-feira, 26. Isso porque, a elevação dos juros nos Estados Unidos dá início ao fim da era dos juros baixos em todo o mundo, estimulando bancos centrais de outros países a perseguirem o mesmo caminho. A autoridade monetária anunciou que vai manter a taxa de juros no patamar entre 0% a 0,25%, mas espera aumentar em breve a taxa.

O aumento já era esperado pelo mercado para conter a inflação de 7%, a maior para o país em quatro décadas e bem distante da meta de 2%. “O Comitê busca alcançar o máximo de emprego e inflação à taxa de 2% no longo prazo. Em apoio a essas metas, o Comitê decidiu manter a faixa-alvo para a taxa dos fundos federais entre 0% a 0,25%. Com a inflação bem acima de 2% e um mercado de trabalho forte, o Comitê espera que em breve seja apropriado aumentar a meta para a taxa básica de juros”, diz o comunicado. O Fed não deu sinalizações de quando vai iniciar o processo, mas a expectativa do mercado é que o primeiro aumento da taxa aconteça em março. Para a economista do Banco Ourinvest, Cristiane Quartarolli, e o sócio e gestor da AF Invest, Stefan Castro, o anúncio não trouxe grandes novidades. “O mercado agora vai monitorar o início dessa subida de juros e até quando vai permanecer esse ciclo de  alta”, diz Castro.

Segundo Quartarolli, apesar da decisão e do comunicado vir em linha com o esperado pelo mercado, as declarações do presidente do Fed foram mais duras e já passam a refletir no câmbio. “O dólar que estava caindo quase 1%, agora está subindo 0,2%. O Fed declarou que a pressão nos preços poderá ser mais persistente, com isso o mercado entende que a alta dos juros poderá ser mais intensa. Por isso, a virada no comportamento do dólar agora”, comenta.

O comunicado de elevação da taxa de juros já vinha sendo precificada nos ativos, refletindo em enorme volatilidade nos principais índices das bolsas americanas desde o início de janeiro. Desde o último dia do ano passado, 31 de dezembro, até o último fechamento do mercado nesta terça-feira, 25, a Nasdaq já acumula queda de 13,46%, o S&P 500 de 8,60%, e o Dow Jones Indez de 5,62%, de acordo com levantamento da consultoria Economatica.

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Os ânimos ficaram ainda mais acalorados nos últimos dias com suposições de que o Fed poderia elevar a taxa para 0,50%, ao invés dos 0,25% previstos e sinalizados desde a última reunião, em dezembro do ano passado, especulação que, por ora, está descartada. Especialistas e economistas apontam que a adoção de uma política muito contracionista pode afetar a curva de juros futuro dos títulos do Tesouro americano, podendo colocar o país em recessão. Hoje o principal fator inflacionário dos Estados Unidos está relacionado a problemas de oferta, mas uma postura mais contracionista pode gerar problemas de demanda com o desaquecimento forçada da economia. Mas essa elevação não é descartada ao longo do ano, caso a evolução da ômicron e o surgimento de novas variantes voltem a pressionar a inflação. “A trajetória da economia continua a depender do curso do vírus. Espera-se que o progresso nas vacinações e a redução das restrições de oferta apoiem os ganhos contínuos na atividade econômica e no emprego, bem como a redução da inflação. Os riscos para as perspectivas econômicas permanecem, inclusive de novas variantes do vírus”, diz o comunicado do Fed. Segundo o CIO da Gama, Ian Caó, o tom adotado é que o Fed será bastante reativo aos possíveis perigos econômicos. “É preciso ter muito cuidado nessa elevação para que uma ação errada de política econômica não acabe pesando sobre o crescimento econômico”, diz.

Os principais e mais importantes economistas acreditam que a taxa de juros nos Estados Unidos se eleve gradualmente, atingindo 2,25% ao final de 2024, segundo uma pesquisa realizada pela Bloomberg, entre 14 e 19 de janeiro deste ano.  Segundo Renan Schaefer, diretor executivo da ABFintechs, a elevação dos juros americanos deve estimular os bancos centrais de outros países a adotaram a mesma postura. “Os emergentes já se anteciparam a esse movimento e deram fim ao ciclo de fim de baixa de juros para evitar saída de capital”, diz.

Esse movimento tem levado empresas dependentes de capital de giro para crescer, em especial das de tecnologia, a amargarem enormes quedas. Com juros mais altos, o custo de investimento e empréstimo, essenciais para essas empresas, fica mais caro. Segundo Thiago Lobão, CEO da Catarina Capital, a inflação é um evento atípico para os americanos e os investidores estão apreensivos com os efeitos da adoção das políticas monetárias no mercado acionário. “Esse cenário tem motivado uma rotação dos investidores”, comenta. A alta dos juros também tem levado investidores a migrarem para renda fixa e mercados emergentes. Com as decisões do Fed e as boas perspectivas para as commodities, a bolsa brasileira (B3) já registra um fluxo positivo de aporte estrangeiro. Até o dia 21 de janeiro deste ano, o aporte estrangeiro em bolsa já alcançava 20,1 bilhões de reais, quase próximo ao volume de 23,6 bilhões de reais de todo o mês de janeiro do ano passado.

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Com a queda de 3,9% na taxa de desemprego e recuperação dos números aos níveis pré-pandemia, rumo ao pleno emprego, o Fed também confirmou encerrar o plano de compra de ativos que injetou trilhões na economia em março, mesmo mês que está prevista a elevação dos juros.  “O Comitê decidiu continuar reduzindo o ritmo mensal de suas compras líquidas de ativos, encerrando-as no início de março”, diz o Fed em comunicado nesta quarta-feira, 26.

O processo de tapering, que injetou estímulos econômicos da ordem de trilhões com a compra de treasuries e títulos lastreados em hipotecas, foi fundamental para a recuperação da economia do país, mas agora virou também um problema para o Fed. O banco precisa encolher o seu balanço patrimonial, que acumula cerca de 9 trilhões de dólares em títulos.

Uma das alternativas do Fed seria vender os títulos, como sugerido recentemente pelo banco suíço Credit Suisse em relatório. Mas o movimento precisa ser bastante ponderado e cauteloso. Em 2018, quando o Fed reduziu pela primeira vez  sua carteira de títulos, a medida deixou os níveis de reservas e depósitos do banco a níveis muito baixos, ocasionando, um ano depois, em aumento do custo dos empréstimos. O economista-chefe do PNC Financial Services Group, Gus Faucher, disse para a Bloomberg que não espera muita especificidade do Fed de quando o banco deve começar o processo de venda dos títulos. A Ômicron ainda está por aí, e eles querem ser capazes de manter alguma flexibilidade” nos planos de balanço”, diz. O Fed não deu sinalizações de quando deve começar o processo de redução do balanço patrimonial, mas indica que deve começar a partir do momento da elevação das taxa de juros.

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