Depois de socorrer Grécia, Irlanda e Portugal, a zona do euro decidiu ajudar a Espanha, elevando assim a fatura da crise da dívida a meio trilhão de euros, uma quantidade ainda manejável para os fundos existentes.
Os europeus aceitaram neste sábado pagar por até 100 bilhões de euros para ajudar a Espanha a recapitalizar seu sistema bancário. Com um empréstimo deste porte e uma taxa provável de 3%, a dívida pública de Espanha aumentará em 10 pontos, para cerca de 90% do Produto Interno Bruto (PIB) ao final de 2012, de acordo com o jornal El País.
Caso o crédito à Espanha, que se converte assim no quarto país a receber ajuda da zona euro, chegue de fato aos 100 bilhões de euros oferecidos, a ajuda total da zona do euro irá para 503 bilhões de euros, sendo 240 bilhões aprovados para Grécia, 85 bilhões para Irlanda e 78 bilhões para Portugal.
A soma, ainda que gigantesca, deve ser absorvida sem problemas pelos fundos de ajuda existentes, sem que países como Alemanha tenham que colocar mais dinheiro.
A zona do euro dispõe de dois fundos: o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), criado de urgência na primavera de 2010 e outro provisório, o Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), que deve entrar em vigor em 1º de julho, destinado a ser permanente.
O primeiro pode apoiar com um máximo de 440 bilhões de euros aos Estados em dificuldades, sendo que quase a metade desse montante já está comprometida. O segundo pode emprestar até meio trilhão de euros.
Os dois fundos conviverão até o verão de 2013.
“Os caixas (destes dois mecanismos) estão ainda muito cheios”, disse à AFP Holger Schmieding, economista do banco Berenberg.
Segundo o especialista, os gastos dos mecanismos de garantias só se traduziriam em preocupações no caso de algum país não reembolsar o empréstimo.
Quanto mais forte é uma economia, maior sua participação nestes fundos: Alemanha paga 27% das garantias totais do MEE e a França em torno de 20%, seguidas por Itália, 18%, e Espanha 12%.
Com estas garantias, o FEEF e o MEE captam dinheiro nos mercados a taxas reduzidas e depois emprestam aos países em dificuldades com uma bonificação como intermediários.
Ainda não se sabe se a Espanha irá pedir ajuda ao FEEF ou esperar que o MEE se estabeleça.
“Madri pode ter interesse em passar pelo FEEF”, diz Gilles Moëc, economista do Deutsche Bank. “Os estatutos do FEEF protegem mais aos investidores privados que emprestam do organismo, tornando o negócio mais atrativo para os bancos e outros ‘hedge funds’, ou fundos especulativos”, completa.
Já a Alemanha prefere que o MEE se encarregue da dívida espanhola, já que sua estrutura protege melhor os interesses dos países sólidos.
O FEEF prevê que os Estados ajudados sejam excluídos da lista de credores e que a participação dos Estados “sãos” aumente, o que automaticamente faz aumentar sua dívida pública.
A Bélgica tem calculado que se o FEEF assumir apenas parcialmente a ajuda à Espanha, sua taxa de dívida pública aumentaria em 0,2% ou 0,3% do PIB.
Já no regime do MEE, que conta com fundos próprios e que prevê que todos sejam garantidores, mesmo os que estão sob ajuda, um novo empréstimo não mudaria nada para os Estados contribuintes.
A questão sobre se o mecanismo de ajuda terá impacto para Espanha depende agora da Alemanha, que está atrasada no processo de ratificação do MEE.