Estagnada, renda do trabalhador só deve começar a crescer em 2021
Rendimento médio real ficou em R$ 2.340 no fim de 2019, segundo o IBGE; retomada lenta das contratações e alta da inflação corroem salários
O aperto financeiro sentindo no bolso do trabalhador durante todo o ano de 2019 foi confirmado pelos números divulgados nesta sexta-feira, 31, pelo IBGE. O rendimento médio real, descontada a inflação, ficou em 2.340 reais no último trimestre de 2019, praticamente estável, com pequena alta de 0,4%, em relação ao mesmo período do ano anterior, segundo os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad).
A retomada ainda tímida da economia brasileira, a pressão da inflação no final do ano e a volta ao mercado de trabalho das pessoas que tinham desistido de procurar emprego (os chamados desalentados) impediram um ganho do rendimento. “A aceleração da inflação nos últimos meses do ano, pressionada pelo aumento dos preços das carnes, acabou corroendo o poder de compra dos salários”, afirma Daniel Duque, economista e pesquisador do FGV Ibre. Além disso, quando os desalentados voltam ao mercado, eles entram com salários mais baixos.
A retomada dos salários ainda deve demorar para acontecer. “Quando a atividade econômica começar a ficar mais aquecida e o ritmo de contratações pelas empresas acelerar, aí sim, a renda poderá ensaiar uma recuperação”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos. Mesmo que as contratações comecem nos primeiros meses do ano, elas serão ainda com salários menores. “Esse resultado de aumento do rendimento só é esperado para começar a aparecer a partir do final de 2020 e mais forte em 2021”, diz Duque.
O IBGE divulgou nesta sexta-feira os dados do mercado de trabalho no país. Pelo segundo ano consecutivo, a taxa de desemprego caiu. No trimestre encerrado em dezembro do ano passado, a taxa de desocupação recuou para 11%, totalizando 11,6 milhões de pessoas sem emprego. Na comparação com o mesmo período do ano passado, houve redução de 520 mil pessoas desocupadas, quando a taxa ficou em 11,6%. Apesar da queda, o mercado de trabalho ainda está longe do pleno emprego. Segundo a pesquisa, 41% dos brasileiros que trabalham estão na informalidade, o maior patamar desde 2016.