Por Alberto Alerigi e Brad Haynes
SÃO BERNARDO DO CAMPO, São Paulo (Reuters) – A desaceleração do mercado brasileiro de veículos é pontual e o setor deve começar a mostrar recuperação no segundo semestre, suficiente para reverter o quadro de estoques elevados e queda de 5 por cento nas vendas, aposta a Ford.
“A desaceleração é uma combinação de fatores locais e internacionais. Vemos como algo pontual; a trajetória (das vendas) no médio e longo prazo é de crescimento”, afirmou o diretor de assuntos corporativos da Ford para América do Sul, Rogelio Golfarb, em entrevista à Reuters.
A queda nas vendas nos primeiros cinco meses do ano tem feito analistas e observadores do setor a avaliar que a expectativa da indústria, de crescimento de 4 a 5 por cento no mercado interno em 2012, não poderá ser cumprida.
O cenário de desaceleração da economia e de acúmulo de estoques de veículos não vendidos se manifestou na queda de 10 por cento na produção deste ano até maio, com algumas montadoras anunciando períodos de férias coletivas e até mesmo programas de demissão voluntária .
Apesar disso, Golfarb aposta que o setor registrará em 2012 o sexto recorde consecutivo de vendas, apoiado nos efeitos de reduções de juros promovidas pelo governo nos últimos meses e no pacote de incentivos ao setor anunciado no fim de maio que, segundo a associação de montadoras, Anfavea, ajudou a elevar os licenciamentos nos primeiros dias deste mês.
“É difícil fazer projeção para o fim do ano (…) pode ter um empuxo no segundo semestre muito forte em decorrência das medidas. Haverá crescimento, sim”, disse Golfarb, sem precisar estimativas da Ford para o setor.
A montadora enfrenta no Brasil um ambiente de crescente concorrência, com a francesa Renault se aproximando da quarta posição em participação no mercado interno, dominada pela Ford há anos.
Segundo dados da associação de concessionárias, Fenabrave, enquanto a fatia da Renault nas vendas brasileiras passou de 3,14 por cento em 2007 para 6,68 por cento em maio deste ano, a parcela da Ford se manteve relativamente estável, recuando de 10,5 para 9,36 por cento no mesmo período.
Apesar disso, Golfarb afirmou que a Ford segue firme na estratégia de manter o foco “na saúde financeira em qualquer situação de mercado”. “Não temos fator psicológico, a qualidade dos investimentos e fidelização do consumidor vão aflorar mais cedo ou mais tarde; participação de mercado vai ser consequência”.
Enquanto isso, a montadora está renovando sua linha de produtos no Brasil, sendo um dos principais modelos a nova geração do EcoSport, que inaugurou em 2003 o segmento de utilitário esportivo compacto no país, mas que teve as vendas neste ano até maio superadas pelo Duster, da Renault, lançado no final de 2011.
Golfarb não revelou quando o novo veículo -que vem sendo apresentado pela montadora desde o início do ano- chegará às concessionárias da marca nem qual será o preço, mas comentou que “vamos ter uma evolução significativa em relação à performance que estamos tendo”.