Em Atenas, Merkel pede que Grécia não perca o foco
Chanceler alemã pede que líderes gregos não desviem das reformas fiscais e elogia progressos já alcançados; população vai às ruas para protestar
Em visita à Grécia nesta terça-feira, a chanceler alemã, Angela Merkel, pediu para que o país mantenha o foco nos esforços e progressos alcançados, apesar dos fortes protestos, inclusive por sua chegada.
Nesta segunda-feira, a polícia grega disparou bombas de gás lacrimogêneo para dispersar grupos de manifestantes que tentavam derrubar uma barricada que protegia um dos acessos ao local onde Merkel estava reunida com o primeiro-ministro grego, Antonis Samaras. Enquanto o encontro acontecia, cerca de 25 000 manifestantes protestavam nas ruas da capital em repúdio às medidas de disciplina fiscal pelas quais responsabilizavam a Alemanha.
Duas bandeiras nazistas foram colocadas em uma barreira de metal próxima ao Parlamento e incendiadas. Na manifestação era possível ler cartazes como: “Fora Merkel, a Grécia não é uma colônia” e “Não ao 4º Reich”, em um momento no qual o governo grego de coalizão felicita com uma mensagem de apoio a chegada da chanceler.
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Esta é a primeira visita de Merkel à Grécia desde o estouro da crise da dívida da zona do euro, há quase três anos. A alemã converteu-se em uma personalidade odiada pelos gregos à medida que o país viu-se obrigado, por seus credores, a aplicar drásticos cortes, que levaram a uma forte recessão, em troca de um resgate financeiro e um alívio de sua dívida. A chanceler foi caracterizada como Adolf Hitler por um tabloide grego.
“Estou profundamente convencida de que estes esforços valem à pena e que a Alemanha quer ser um bom sócio”, disse Merkel. “Muito foi alcançado, mas ainda há muito por fazer e Alemanha e Grécia trabalharão juntos”, acrescentou a chanceler, ressaltando que, se os problemas não forem resolvidos agora, eles se manifestarão mais tarde e de maneira ainda mais grave.
Samaras, um conservador eleito em junho, respondeu que a Grécia está determinada a cumprir seus compromissos. Ele destacou que o povo grego “sangra”, mas está determinado a vencer a batalha da competitividade.
Momento crucial – A visita de Merkel acontece em um momento crucial para Atenas, que está finalizando com a troika de credores – UE, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional – um novo pacote de cortes fiscais de, ao menos, 13,5 bilhões de euros para continuar recebendo os lotes de ajuda financeira internacional. Segundo uma fonte do ministério de Finanças, o próxima lote de 31,5 bilhões de euros, que Atenas espera há meses, será recebido até o final de novembro.
Berlim e Atenas venderam a visita de Merkel como um gesto de solidariedade e estímulo à Grécia em seus esforços de reforma, mas muitos gregos dizem que a visita só servirá para alimentar o ódio. Christina Vassilopoulo, uma professora de 37 anos, disse que participa da manifestação para protestar pelas decisões tomadas nas reuniões europeias, nas quais “Merkel manipula os participantes”. “Tenho um doutorado e ganho 900 euros por mês, 400 euros menos que antes. Temos crianças que passam fome e a maioria dos pais está desempregada”, disse.
(com Agence France-Presse)