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Eike elege culpados por sua derrocada: executivos, investidores e falta de sorte

Empresário deu sua primeira entrevista após a queda de seu império ao Wall Street Journal; ele afirma que vai voltar ao topo

Por Da Redação
16 set 2013, 10h19

“Se você olhar para o meu mapa astral, esse período não foi favorável para mim”, diz Eike

O presidente e controlador do grupo EBX, Eike Batista, protagonista de um dos maiores colapsos financeiros da história, deu sua primeira entrevista desde o colapso de suas empresas ao The Wall Street Journal, na edição desta segunda-feira. Eike, de 56 anos, aproveitou para dar nome aos culpados, segundo ele, pelo declínio de seu império. Ele disse que os executivos do setor de petróleo que ele denominou de “Dream Team” (time dos sonhos) o enganaram.

Além disso, ele afirmou que a saída dos seus investidores foi precoce. O empresário declarou também que “não teve sorte”. “Eu sou o maior perdedor nisso tudo. Eu tentei criar riqueza para todos nós. Essa foi a razão de levantarmos todo o dinheiro – para criar riqueza e dividi-la”, afirmou, em entrevista concedida em seu escritório, no Rio de Janeiro. “Eu acreditei nisso. Vivendo em um país que tem essas descobertas de petróleo gigantescas, por que eu não poderia ter sido abençoado com uma delas?”

Em apenas um ano, o empresário foi da posição de sétimo homem mais rico do mundo, com uma fortuna estimada em mais de 30 bilhões de dólares, à exclusão da lista de bilionários. Seu declínio representou uma das maiores e mais rápidas implosões financeiras dos tempos modernos.

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Os papéis das suas seis empresas de capital aberto despencaram, em alguns casos, mais de 90% este ano depois que a petrolífera do grupo não conseguiu produzir a maior parte dos 10 bilhões de barris de petróleo que o empresário disse que tinha potencial de atingir. Detentores de cerca de 10 bilhões de dólares em dívidas emitidas pelas empresas de Eike estão se esforçando para encontrar formas de recuperar seu dinheiro em uma das maiores reestruturações de dívida em andamento no mundo.

A derrocada de Eike tem se tornado uma parábola sobre excessos do boom dos mercados emergentes que ergueram o Brasil nos últimos dez anos. Durante uma corrida que durou cinco anos, investidores respeitados como Black Rock, Pacific Investment Management e o fundo soberano de Abu Dhabi investiram no grupo de empresas novatas. O empresário brasileiro gostava de chamar esses ativos como “à prova de idiotas”. Mas anos após levá-los ao mercado, nenhum deles reportou lucro.

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Enquanto ele falava, as luzes de uma de suas plataformas marítimas brilhavam na Baía da Guanabara. Os detentores de títulos de dívida esperam que ela esteja intacta e possa ser vendida para que sejam reembolsados pelo dinheiro investido.

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De acordo com Eike, ele poderia levantar 1 bilhão de dólares vendendo suas plataformas de petróleo. Mas deu poucos detalhes sobre a série de negociações em andamento. Em Nova York, detentores de 3,6 bilhões de dólares de títulos de dívida da OGX, que agora valem centavos de dólar, tentam obrigar Batista a injetar mais 1 bilhão de dólares na petrolífera. O empresário, por sua vez, está pedindo aos credores que coloquem mais dinheiro na OGX. Ele disse que eles provavelmente vão assumir o controle da empresa. Se não chegarem a um acordo, o caso pode acabar nos tribunais brasileiros.

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Embora as perspectivas para a OGX pareçam sombrias, dizem analistas, Batista tem conseguido vender partes de algumas outras empresas do grupo EBX em uma enxurrada de negociações nas últimas semanas. Em agosto, a EIG Management Co. concordou em investir até 560 milhões de dólares por uma participação majoritária na empresa de logística LLX. Em julho, passou o controle da geradora de energia MPX para à alemã E.ON. A mineradora MMX fechou um acordo para vender o Porto Sudeste para a Trafigura e o Mubadala Development Co., num negócio de 400 milhões de dólares.

O empresário diz que esses acordos indicam que parte do seu conglomerado é mais saudável do que os investidores acreditam. “Essas coisas são de algum modo à prova de idiotas porque você pode vendê-las mesmo num mercado louco”, disse.

O empresário deu aos investidores uma forma de participar da impressionante história do crescimento econômico do Brasil em um momento em que eles buscavam alternativas para a desaceleração das economias europeia e norte-americana. A bolsa brasileira esteve entre os mercados acionários com melhor desempenho no mundo por vários anos seguidos e o país resistiu bravamente à crise financeira de 2008. Para completar, o Brasil encontrou os maiores campos de petróleo em águas profundas de todos os tempos quando o preço do petróleo estava subindo.

Em 2006, Eike começou a emitir ações de uma série de empresas de commodities interligadas que ele montou para lucrar com a promessa do Brasil. “O Brasil era o mercado favorito de todos. É fácil atirar pedras agora, mas ninguém colocou uma arma na cabeça de ninguém e disse: ‘você tem de comprar'”, diz Will Landers, que cuida dos fundos de ações da América Latina da Black Rock, maior gestora de recursos do mundo. Landers diz que a Black Rock vendeu grande parte dos ativos que tinha do grupo EBX, mas que ainda estava entre os maiores acionistas da OGX.

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Eike disse que reconhece agora que o aumento dos preços do petróleo era uma bolha que o ajudou a crescer. Ele ainda acredita que o otimismo ligado à economia do Brasil não era um exagero. “O Brasil é esse gigante que supostamente vai cair num buraco e nunca cai porque ele é sempre maior que o buraco.”

Vestindo um terno de risca de giz e uma camiseta cinza durante a entrevista, Batista estava com os cabelos desalinhados e os olhos cansados. Ele disse que estava cansado das intensas rodadas de negociações, que algumas noites vão até às 4 da manhã.

No auge de sua ascensão, nenhuma das empresas do grupo EBX causou mais agitação do que a OGX. Para criá-la, Eike montou um grupo de altos executivos vindos da Petrobras, que os investidores acreditavam ser ideais para selecionar os melhores campos de petróleo. Agora o dono do grupo EBX diz que esses executivos eram bons em encontrar petróleo, não produzi-lo. E que eles não conheciam a geologia com a qual a OGX lidava. Pior, afirma, eles lhe entregavam relatórios brilhantes para convencê-lo a pagar gordos bônus. “A motivação não era necessariamente me apresentar a verdade”, disse. Vários ex-executivos da OGX não quiseram comentar.

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Eike diz que se sente à vontade para culpar os gestores da OGX, já que, como um executivo do setor de mineração, ele não tinha conhecimentos da indústria de petróleo para questionar os relatórios que eles apresentavam. “Sou dono de um grande grupo. Eu sozinho não posso fazer isso. Eu poderia ser o dono de um hospital, mas sem cinquenta cirurgiões das suas respectivas áreas você não é nada. Não tenho o conhecimento específico. Você não pediria ao dono de um hospital para operar o seu rim”, disse.

O proprietário do EBX acredita em sorte e superstições. “Se você olhar para o meu mapa astral, esse período não foi favorável para mim”, disse. “A boa fase? Ela já começou, literalmente, neste mês.” Otimista, Eike já prevê um retorno. Profissionais do mercado que o encontraram nos últimos dias dizem que ele fala incessantemente sobre a história do empreendedor americano Elon Musk, fundador da empresa de pagamentos Paypal, da companhia de viagens espaciais SpaceX e da fabricante de carros elétricos Tesla Motors.

Durante a entrevista, o empresário citou várias vezes Musk como um empreendedor que foi desacreditado pelos investidores e depois mostrou que eles estavam errados. Ele acredita que vai ter o mesmo triunfo quando seu porto, sua mina e outras partes do grupo se tornarem rentáveis. “Musk disse que começar uma empresa é como comer vidro”, disse. “Eu estou comendo vidro.”

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(Com Estadão Conteúdo)

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