Dólar sobe 7,3% em 2021 com a elevação do risco fiscal
Previsão era de que a moeda terminaria o ano em cinco reais, mas ficou em R$ 5,57 em 2021; abandono das reformas contribuiu para alta no câmbio

Fazer previsões sobre o dólar é sempre um caminho arriscado, mas no começo de 2021 os analistas do mercado apostavam que este seria um ano melhor para o câmbio. Assim, o dólar poderia começar 2022 ao redor de 5 reais. Os avanços da vacinação contra a Covid-19 e a expectativa de aprovação de reformas que aliviassem o risco fiscal do país ajudaram a traçar um cenário mais positivo para a moeda. Ao longo de 2021, no entanto, com sobretudo o furo do teto dos gastos e as reformas estruturais sendo ultrapassadas por pautas populistas, a moeda americana foi para o caminho contrário e, nesta sexta-feira, 30, no último pregão do ano, encerrou a 5,57 reais, alta de 7,3% em relação ao último pregão de 2020.
Diversos fatores contribuíram para que o real ficasse entre as moedas emergentes que mais se desvalorizassem em relação ao dólar no ano. Além do abandono da agenda liberal pelo governo Bolsonaro, houve a quebra da Evergrande, uma das maiores empresas imobiliárias da China, uma safra menos promissora de grãos no segundo semestre devido à seca e principalmente o agravamento da inflação brasileira, que subiu a uma velocidade e para um nível mais alto que o esperado pelos economistas.
“Naturalmente esperávamos mais inflação que no ano passado, porém não que fosse tão alta. Este medo da inflação acabou obrigando o Banco Central a subir o juros mais rápido, e obviamente os investidores ficaram mais pessimistas em relação à economia. Além disso, o Banco Central americano começou a dar sinais de que reduziria os estímulos antes do esperado, o que gerou fuga de dólares do país”, diz Zeller Bernardino, economista da Valor Investimentos.
O IPCA deve terminar o ano acima de 10% – em novembro acumulava alta anual de 9,26% -, pressionado principalmente sobre os preços de energia e combustíveis, mas também alimentos. Desta forma, o Banco Central teve de elevar a taxa Selic de 2% ao ano para 9,25%, e a previsão é que já na primeira reunião do ano que vem ela atinja 11%. Afetada pela alta da Selic, a previsão do mercado para o crescimento do PIB em 2022 é de apenas 0,42%, o que contribui para a fuga de investimentos no Brasil e consequentemente encarece o dólar.
Para o ano que vem, as expectativas continuam ruins. De acordo com o Boletim Focus, que reúne a previsão de mais de 100 instituições financeiras, o câmbio terminará o ano que vem ao redor de 5,60 reais. Apesar de esta ser uma estimativa difícil de se fazer, no radar está principalmente as eleições presidenciais.
“É muito mais difícil passar reformas em um ano de eleições, sobretudo tão impopulares como a tributária e administrativa. Dificilmente os políticos vão querer se meter nisso em ano eleitoral, então os investidores estão vendo que as reformas vão ficar para 2023, e a depender de quem vai ser o presidente eleito”, diz Bernardino.