
O dólar comercial fechou em alta de 0,73%, a 5,0154 reais. Nesta quinta-feira, 28, último dia útil do mês, os investidores buscaram segurança na moeda americana em meio um cenário global de maior aversão ao risco, afirmam analistas. Em março, o dólar avançou 0,86% em relação ao real. No acumulado do ano, a alta é de 3,34%.
“Me preocupa o fato de o câmbio ter voltado a trabalhar no nível de 5 reais depois de ter virado o ano abaixo dos 4,90 reais. Acredito que declarações mais hawkish [menos inclinada ao corte de juros] de um dos diretores do Fed e um BC menos otimista [com a inflação] por aqui tenham influenciado”, afirma Eric Hatisuka, diretor de investimentos da Mirabaud Brasil.
Ontem, o diretor do Fed Christopher Waller afirmou que não está pronto e não vê urgência em cortar os juros nos Estados Unidos, reforçando que são precisos pelo menos mais dois meses de dados econômicos para chegar a um veredito sobre o início do ciclo de afrouxamento monetário. Hoje, a leitura final do PIB confirmou que a economia dos EUA segue aquecida, com crescimento de 3,4% no quarto trimestre, acima do consenso de 3,2%.
Apesar do feriado de Páscoa que manterá as bolsas fechadas, a agenda de sexta-feira, 29, conta com eventos que poderão oferecer mais pistas sobre a trajetória dos juros nos EUA: divulgação do PCE (índice de inflação mais observado pelo Fed) de fevereiro e, em seguida, discurso de Jerome Powell, presidente do BC americano.
Europa e Brasil
De acordo com Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, outro fator que contribui para um ambiente generalizado de aversão ao risco é bateria de dados que indicam atividade econômica mais fraca na Europa. Entre os indicadores, as vendas no varejo aa Alemanha caíram 1,9% em fevereiro em relação a janeiro, acima expectativas. No Reino Unido, os números do PIB confirmaram que o país entrou em recessão em 2023, com contração de 0,3% no quarto trimestre ante o terceiro tri.
“No Brasil, outro assunto que pode estar contribuindo para a aversão ao risco é a inflação, que tem vindo acima do esperado”, afirma Quartaroli. Divulgado na terça-feira, o IPCA-15 registrou alta de 0,36% em março — abaixo dos 0,78% registrados em fevereiro, mas acima da mediana das expectativas de 0,3% dos analistas consultados pela Bloomberg. A inflação mais persistência tem feito o Banco Central adotar uma postura mais cautelosa em sua condução de política monetária. Na última reunião do Copom, a instituição mudou seu guidance (previsão de movimentos futuros): indicou manutenção do ritmo de corte de juros para “a próxima reunião” e não mais para “as próximas”. Ainda assim, o Banco Central manteve inalteradas as suas projeções de inflação para 2024, 2025 e 2026 em seu Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado nesta manhã.