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Depois de quatro meses de avanços, vendas no varejo estagnam em setembro

Comércio varejista dá sinais de desaquecimento em setembro, com queda de 0,8% nas vendas, segundo pesquisa IGet, obtida com exclusividade por VEJA

Por Felipe Mendes Atualizado em 15 out 2020, 14h28 - Publicado em 14 out 2020, 18h26

Depois de quatro meses de crescimento ininterrupto, o varejo começa a dar alguns sinais de desaceleração. Os setores que mais influenciaram o resultado foram os de supermercados e materiais de construção. Segundo números do IGet, pesquisa obtida em primeira mão por VEJA e que é desenvolvida pelo Departamento Econômico do Santander em parceria com a Getnet, as vendas do comércio varejista decaíram 0,8% em setembro em relação ao mês de agosto. Na comparação com setembro do ano anterior, no entanto, os números positivos se sustentam, com crescimento de 25,7%. Apesar de paradoxal, a discrepância entre a passagem mensal e a anual tem explicação: como o mês de setembro não é favorecido com datas comemorativas e como a pandemia migrou o potencial de consumo represado do primeiro para o segundo semestre, é normal esse crescimento frente a igual período de 2019. É improvável, no entanto, na análise de economistas, que esse avanço se mantenha nos meses de novembro e dezembro.

Há três pontos principais, segundo os economistas, para essa inflexão na passagem mensal e eles servem de alerta para o futuro. O primeiro deles é a reabertura gradual da economia. Com o arrefecimento da disseminação do novo coronavírus no país, o setor de serviços, como bares e restaurantes, voltou a ganhar escala e tem mitigado o potencial de geração de caixa do varejo. Já a redução do auxílio emergencial, de 600 para 300 reais, ainda não foi determinante, mas tende a afetar o consumo das famílias, sobretudo a partir de outubro. Por último, mas não menos importante, a inflação em determinados produtos tem feito com que o consumidor adote um tom mais criterioso no momento da compra. “Essa recuperação em V que nós vimos no varejo chegou ao seu limite. Os mercados tendem a se aproximar dos valores praticados antes da pandemia e estacionar, até porque o conjunto de estímulos dados pelo governo está sendo retirado ou diminuído”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Nécton. “Fora isso, temos uma elevação nos juros de longo prazo no Brasil, que acaba se refletindo em um menor apetite dos bancos para a concessão de crédito.”  

No conceito varejo restrito, que exclui as vendas de materiais de construção e automóveis, somente o segmento de supermercados apresentou queda expressiva. De acordo com o IGet, o recuo foi de 4,2% em setembro em comparação com o mês predecessor. Para os analistas, esse déficit foi em função do aumento no preço dos alimentos. “Com alta nos preços, sobretudo em agosto, o consumidor passou a selecionar mais e comprar apenas itens de primeira necessidade”, afirma Lucas Maynard, economista do Santander Brasil. Para o fim do ano, época de datas comemorativas, como Black Friday e Natal, que catalisam fluxo de consumo, é difícil prever que o varejo mantenha taxas de crescimento robustas. “Os números de setembro sugerem atenção para uma possível desaceleração do consumo em curso. Em outubro, é muito provável que a redução do valor do auxílio emergencial traga novos impactos para o varejo”, analisa Gustavo Sechin, diretor financeiro da Getnet.

Com a maioria das escolas e universidades paradas e boa parte da população adotando o home office, a venda de materiais de escritório apresentou queda de 2,8%. Outro mercado que demonstrou sinais de desaquecimento foi o de materiais de construção, que registrou declínio de 4,3%. Por outro lado, o segmento de vestuário, um dos últimos a se recuperar do fechamento ocasionado em março e abril, apresentou números consistentes no mês de setembro. A alta nas vendas foi de 5,7%, o que colocou o mercado de volta aos níveis de crescimento antecessores à pandemia. A venda de móveis e eletrodomésticos, por sua vez, avançou 5,3% frente a agosto. Dentre os estados, os melhores desempenhos para o mês foram registrados no Paraná (10,7%) e em Minas Gerais (10,5%). Por outro lado, o comércio varejista amargou quedas no Amapá (-3,6%) e em Rondônia (-3,5%), na mesma base de comparação. Para a pesquisa, o Departamento Econômico do Santander compilou informações de mais de 200.000 estabelecimentos, de diferentes tamanhos, segmentos, atuações e regiões.

Números da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo, a CNC, confirmam a tendência de desaquecimento do varejo essencial. Na última semana cheia do mês de setembro, o comércio varejista essencial faturou 1,84 bilhão de reais acima do que registrava antes da pandemia, enquanto o comércio não essencial registrou diminuição de 8,97 bilhões de reais na mesma base de comparação.

Já no período entre os dias 27 de setembro e 2 de outubro, o crescimento do varejo essencial frente ao período pré-pandêmico foi menor: 0,8 bilhão de reais. O não essencial, por sua vez, apresentou um déficit menor, de 3,87 bilhões de reais. “Ficou muito claro pelos indicadores recém-publicados pelo IBGE que a tendência, daqui para frente, é não repetir as mesmas taxas de crescimento que nós tínhamos até então. As altas dos últimos quatro meses foram cada vez menos intensas”, diz Fabio Bentes, economista-sênior da CNC. “Por mais que a pandemia tenha ficado para trás do ponto de vista econômico, não podemos dizer que estamos ‘bombando’.”

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