Coronavírus: sete em dez empresas sentem diminuição da atividade
Impacto é maior entre pequenos negócios e setores com atendimento ao público, diz IBGE; pesquisa compara percepção em junho com período pré-pandemia
A crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus dá sinais de melhora, com o reaquecimento de vendas e produção da indústria. Entretanto, o impacto da queda da demanda, em comparação com o período pré-pandemia, é inegável e atingiu empresas de todos os segmentos e tamanhos. De acordo com levantamento divulgado nesta quinta-feira, 16, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), das 2,7 milhões de empresas em funcionamento no país, sete em cada dez empresas em atividade registraram diminuição de vendas ou realização de serviços na primeira quinzena de junho, se comparado ao início de março, antes da escalada de casos no país e de medidas de distanciamento social tomadas por estados e municípios. A pesquisa faz parte de uma nova série do IBGE que monitorará a saúde das empresas a partir da retomada econômica e será divulgada quinzenalmente.
Entre os setores, a redução nas vendas foi maior na construção (73,1%) e nos serviços (71,9%), especialmente os serviços prestados a famílias (84,5%) e no comércio (70,8%) com destaque para a comercialização de veículos, peças e motocicletas (75,5%). Na indústria 65,3% das empresas reportaram redução nas vendas. Cerca de 60% das empresas relataram maior dificuldade na capacidade de fabricar produtos e de atendimento aos clientes durante a primeira quinzena de junho, em relação ao período anterior ao início da pandemia – reportado por 67,2% das empresas do comércio, 65,5% da construção e 59,5% dos serviços. “Os dados sinalizam que a Covid-19 impactou mais fortemente segmentos que, para a realização de suas atividades, não podem prescindir do contato pessoal, têm baixa produtividade e são intensivos em trabalho, como os serviços prestados às famílias, onde se incluem atividades como as de bares e restaurantes, e hospedagem; além do setor de construção”, explica Alessandro Pinheiro, Coordenador de Pesquisas Estruturais e Especiais em Empresas do IBGE.
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Clique e AssineOutro efeito relatado por empresários é a dificuldade em pagar contas, mesmo com medidas do governo de diferimento de impostos. Segundo o IBGE, 63,7% das empresas em atividade relataram a dificuldade, sendo que o problema é maior em empresas de pequeno porte, com menos fôlego de caixa e capital de giro, atingindo 64% do segmento. No caso das empresas de grande porte, o indicador é de 35,6%. “Essas dificuldades foram bastante disseminadas pelos setores, chegando a sete em cada dez empresas do comércio, e seis em cada dez da indústria e dos serviços. Mas vale ressaltar que 33% do total de empresas em operação não reportaram alteração significativa, ou porque já conseguiram retomar suas atividades e receitas ou tinham uma boa reserva e continuam com fluxo financeiro para realizar os pagamentos”, destaca o Coordenador de Pesquisas Estruturais e Especiais em Empresas, Flávio Magheli.
Apesar da crise, o IBGE afirma que não houve mudança significativa no quadro de funcionários das empresas. Cerca 60% das empresas em funcionamento mantiveram o número de funcionários na primeira quinzena de junho em relação ao início da pandemia. Dentre as que reduziram o número de pessoal ocupado, 37,6% reportaram uma redução inferior a 25% do pessoal e 32,4% uma redução entre 26% e 50% do número de pessoal ocupado. “Não ocorreu alteração significativa no quadro de funcionários em relação ao início da pandemia, na construção, no comércio, na indústria e no atacado. Mesmo as pequenas empresas sinalizaram que mantiveram o quadro de funcionários, o que pode estar relacionado ao fato de terem colocado as pessoas em trabalho remoto ou terem obtido alguma linha de financiamento. O fato é que não houve uma queda acentuada na ocupação como num primeiro momento se esperaria”, destaca Magheli. Segundo a pesquisa, cerca de 90% das empresas em funcionamento consultadas realizaram campanhas de informação e prevenção e adotaram medidas extras de higiene nas suas atividades, sendo que 38,4% adotaram trabalho domiciliar para os funcionários e 35,6% anteciparam férias.
Fechamento
A crise, entretanto, levou ao fechamento de empresas. Entre 1,3 milhão de empresas que na primeira quinzena de junho estavam com atividades encerradas temporária ou definitivamente, 39,4% apontaram como causa as restrições impostas pela pandemia do novo coronavírus. Esse impacto no encerramento de companhias foi disseminado em todos os setores da economia, chegando a 40,9% entre as empresas do comércio, 39,4% dos serviços, 37,0% da construção e 35,1% da indústria.