Coronavírus: Lojas em shopping terão aluguel suspenso durante fechamento
Negociação entre donos de estabelecimento e centros comerciais também diminuiu em 80% taxa de fundo de propaganda durante a pandemia
Os lojistas de shopping centers conseguiram uma vitória nesta segunda-feira, 23. Depois de uma série de reuniões entre a Associação Brasileira de Lojistas de Shopping (Alshop) e a Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce), ficou definido a suspensão temporária dos aluguéis durante o período de fechamento dos estabelecimentos, decretado em função da disseminação do novo coronavírus (Covid-19) pelo país. A medida, que é uma recomendação para todo o país, servirá de fôlego para o caixa das varejistas que atuam nos shopping centers e evitará, ao menos num primeiro instante, a demissão em massa de funcionários do setor.
Além do valor do aluguel, uma das taxas que incomodava as empresas era o pagamento do fundo de promoção e propaganda, despesa obrigatória para os lojistas. Ficou definido que haverá um desconto de aproximadamente 80% para esse tipo de despesa operacional. “Pode não ser a negociação ideal para todos os lojistas, já que a maioria deles queria que a isenção total do fundo de promoção, mas a gente entende que foi uma primeira conquista importante”, diz Nabil Sahyoun, presidente da Alshop.
Segundo Glauco Humai, presidente da Abrasce, o intuito da entidade ao abrir mão do recebimento imediato de parte das receitas dos estabelecimentos é fazer com que os lojistas consigam preservar seus funcionários. “Para o fundo de promoção, existem contratos pré-estabelecidos. A isenção total não é uma coisa fácil de se fazer. Sobre o aluguel, nós temos que ter o bom senso de entendermos que não há faturamento para os lojistas nesse período”, comenta. As duas entidades do setor divergem sobre como e quando será a compensação do aluguel do período parado. A Alshop defende a isenção do pagamento de taxas referente aos dias de interrupção no funcionamento das lojas, a Abrasce deseja postergar o recebimento. Não há definição neste momento.
O empresário João Appolinário, dono da rede Polishop, disse a VEJA que não pretende demitir funcionários e aguarda direcionamentos mais claros do governo em relação ao pagamento de salários. “Nós não estamos dispostos a quebrar a nossa equipe. Não sabemos quanto tempo isso irá durar, mas vai passar. Nós temos funcionários com anos de casa, que são muito bem treinados, e não achamos que a solução será demissão”, afirma.
Um dos pontos ressaltados por Appolinário, no entanto, é o objetivo de utilizar os pontos de venda físicos como uma espécie de pequeno centro de distribuição para maximizar o poder de entrega próximo a lojas. Essa estratégia também é estudada pela Alshop, mas não bastará convencer a Abrasce. O governo também terá um papel importante para liberar os shopping centers nesse caso. Isso porque, diversos estados e municípios vedaram o funcionamento dos centros comerciais. “Estamos estudando, com órgãos do governo, a possibilidade do funcionamento dos estabelecimentos em horário reduzido, para atender a população por cerca de quatro a seis horas por dia”, afirma Sahyoun.
Há um consenso no setor de que, caso a prorrogação do fechamento do comércio seja decretada – os shoppings no Brasil ficarão fora de funcionamento até meados do fim de abril –, milhares de pessoas perderão seus empregos. “Essa primeira restrição atingiu 46% da força de trabalho no comércio varejista. Com duas semanas de fechamento, como foi determinado para o comércio de São Paulo, a maioria das lojas irá quebrar. É preciso que os congressistas assumam a sua parte e venham para a discussão rapidamente”, diz Ivo Dall’Aqcua, vice-presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP). Novas reuniões envolvendo representantes do varejo e do governo serão convocadas, mas o retorno aos trabalhos do setor depende de um controle da epidemia no país, algo que, a julgar pela evolução dos números nos últimos dias, dificilmente acontecerá em duas semanas.