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Conflitos no BNDES atrapalham planos para mudar perfil do banco

O corpo técnico da instituição resiste ao projeto de liquidar a carteira de ações da União

Por Felipe Carneiro e Machado da Costa
Atualizado em 18 out 2019, 14h41 - Publicado em 18 out 2019, 06h00

Ao assumir a presidência do BNDES, o economista Gustavo Montezano recebeu do ministro da Economia, Paulo Guedes, algumas missões: liquidar boa parte das ações da carteira do banco, estruturar privatizações e concessões e concluir a devolução de 126 bilhões de reais ao Tesouro até o fim de 2019. O executivo brasiliense imediatamente montou sua diretoria com nomes alinhados a seus objetivos e pôs-se a desenhar a estratégia para atingi-los. Mas um episódio ocorrido nas últimas semanas mostrou que, como dizia o guru da administração empresarial austríaco Peter Drucker, “a cultura devora a estratégia no café da manhã”. O departamento jurídico do banco se recusou a avalizar uma oferta pública de cerca de 1 bilhão de reais em ações do Banco do Brasil de posse da União, que estão sob a responsabilidade do BNDES justamente para ser vendidas. “Não havia argumento jurídico, os advogados literalmente cruzaram os braços e disseram que não assinariam os papéis”, espanta-se um executivo do banco presente na reunião. O caso não foi determinante, mas representou um recado claro de que, pelo menos neste ano, nenhum dos objetivos de Montezano será cumprido. “O corpo técnico do banco está fazendo o que pode e o que não pode para impedir tanto as vendas de ações quanto as privatizações”, confirma um funcionário de carreira do banco, que também pediu anonimato.

O problema nas mãos de Montezano não tem solução fácil. O BNDES dos anos 1990, fundamental na estruturação e mesmo no financiamento das privatizações dos governos Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso, não é mais o mesmo. Enquanto esteve à frente do banco, de 2007 a 2016, Luciano Coutinho promoveu uma renovação de mais da metade de seus quadros — cerca de 1 400 dos mais de 2 600 empregados da casa foram contratados em sua gestão. Nesses quase dez anos, foram criados normas, ritos e procedimentos que sedimentaram o poder do corpo técnico sobre as decisões na instituição em detrimento da diretoria. Além de um regulamento engessado, atrapalha a mudança de perfil do BNDES o boicote de funcionários contrários à nova direção determinada pelo ministro da Economia e referendada por Montezano. No caso da oferta das ações do Banco do Brasil, por exemplo, informações relevantes que deveriam ser fornecidas pelas diferentes áreas em questão de horas demoraram semanas para ser enviadas aos responsáveis pela operação. A estruturação das privatizações da Eletrobras e dos Correios, prometida para este ano, nem sequer começou.

TUDO PARADO - Empregados dos Correios descansam: a privatização da empresa está travada no BNDES (Cadu Rolim/Fotoarena)

Enquanto essa batalha acontece dentro do BNDES, o Ministério da Economia segue pressionando para conseguir receber seus 126 bilhões de reais de volta. No primeiro semestre, o presidente Joaquim Levy mandou para o Tesouro 44 bilhões de reais e, em agosto, Montezano conseguiu enviar mais 40 bilhões. A pouco mais de dois meses do fim do ano, faltam 42 bilhões de reais para que seja atingida a meta estipulada por Guedes. A instituição tem esse dinheiro em caixa, mas normas do Banco Central para garantir liquidez e solvência às instituições financeiras e também regras do Tribunal de Contas da União impedem que ele seja usado para esse fim. O bom momento que vive a bolsa de valores brasileira é ideal para a liquidação de parte da carteira do banco, de mais de 110 bilhões de reais, por um bom preço. A estratégia para cumprir as metas está desenhada. Mas, sem um enfrentamento determinado da cultura que hoje predomina no BNDES, nada vai acontecer.

Publicado em VEJA de 23 de outubro de 2019, edição nº 2657

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