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Como renegociar dívidas em época de juro baixo

Embora em ritmo menor que a Selic, os juros de empréstimos também caíram; especialistas dizem que o momento é bom para pagar menos em débitos antigos

Por Felipe Machado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 7 abr 2018, 06h49

O número de brasileiros com contas em atraso e restrições de crédito no comércio voltou a subir após um período de ligeira estabilidade. Em fevereiro, 61,7 milhões de pessoas estavam inadimplentes, segundo estimativa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). Especialistas ouvidos por VEJA avaliam que o momento é propício à renegociação de débitos atrasados em condições mais favoráveis.

É que os juros aos consumidores não caíram na mesma velocidade que a Selic, que chegou ao seu patamar mínimo histórico (6,50%) no mês passado. Enquanto a taxa básica de juros foi cortada em 54,3% desde outubro de 2016, os juros médios cobrados das pessoas físicas recuaram 22,3% no mesmo período. Esse descompasso pode representar uma oportunidade para quem está inadimplente.

O primeiro passo para quitar as pendências é fazer um mapeamento de tudo que está com o pagamento atrasado. Segundo Angela Nunes, planejadora financeira certificada pela Planejar, muitas pessoas não fazem ideia do perfil da dívida que têm. “O brasileiro tem o hábito de achar que está endividado só quando está inadimplente. E acaba não considerando como dívida compra parcelada sem juros”, relata. Essa análise é necessária para descobrir qual é a capacidade de pagamento antes de renegociar o débito com o credor. “Senão, dali a 3 meses, estará endividado de novo”, exemplifica a especialista.

Feito o mapeamento, é hora de procurar os credores para tentar substituir a dívida atual por outra mais barata. No caso das dívidas com instituições financeiras, uma alternativa é buscar, dentro da própria instituição, a migração para uma linha de crédito mais em conta. “Dívidas com cheque especial podem ser substituídas por um crédito direto ao consumidor, ou por um empréstimo consignado – com desconto em folha de pagamento – se o cidadão tiver direito a essa modalidade”, exemplifica Isaac Ferreira, diretor de Relacionamento Institucional e Cidadania do Banco Central.

Outra possibilidade, no caso das dívidas bancárias, é fazer a portabilidade do compromisso para outro banco. As instituições são obrigadas a fornecer um extrato detalhado da dívida. Com esse documento, é possível pleitear condições melhores em outros bancos. A instituição em que a dívida estava originalmente não pode negar a transferência. “Não é alternativa do banco anterior se vai ou não portar. É uma decisão do cliente”, explica o diretor do BC.

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Como sair das dívidas

É preciso tomar cuidado para que as novas condições sejam de fato melhores que as anteriores. Esse tipo de avaliação é feita sobre o custo efetivo total da dívida e não pelo valor da parcela. No caso de dívidas bancárias, as instituições têm condições de fornecer esse dado rapidamente. “Qualquer prazo maior que 2 dias úteis não é razoável. Se o banco enrolar, cabe reclamação no Procon e no BC”, diz a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti

Outro cuidado referente à transferência de dívida, segundo a especialista, é observar se não há cobrança de novas taxas, como seguro. As instituições não podem condicionar a transferência a aquisição de produtos, como título de capitalização ou abertura de conta corrente.O crédito consignado, cujas parcelas são descontadas na folha de pagamento, é geralmente a modalidade mais barata. “Mas a pessoa precisa se programar para ter uma renda menor, já que o salário vai sofrer um desconto”, diz a economista-chefe do SPC.

Andrew Storfer, diretor-executivo da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac) lembra que uma saída para quem tem dinheiro em casa é antecipar o pagamento do débito. “A pessoa pode fazer as contas e ver que em 3 ou 4 meses sairia dessa situação. E daí negociar o encurtamento do prazo com o banco para pagar uma taxa menor”, diz.

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Quando a dívida é transferida de uma instituição para uma empresa de renegociação, também há margem para pedir desconto. Isso porque essas empresas compram as dívidas por um valor bem menor que o original com a esperança de receber os pagamentos. Valdir Domeneghetti, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), diz que os bancos normalmente transferem os débitos após 90 dias de inadimplência, e as empresas pagam cerca de 20% do original. “A margem de desconto é grande, principalmente se a pessoa paga a dívida”, afirma.

O coordenador do programa de superendividados do Procon-SP, Diógenes Donizete, recomenda que o endividado busque ajuda de especialistas na hora de renegociação para conseguir condições melhores. O Procon-SP oferece esse serviço gratuitamente. Os especialistas também podem fazer análise de contratos em busca de irregularidades que podem ser questionadas depois junto ao credor.

Outra recomendação ao negociar é manter a calma e ter paciência para sair da situação. Dessa forma, o melhor pode ser abater primeiro as dívidas mais altas ou que têm algum ativo como garantia. Feita a renegociação, é preciso garantir os pagamentos. “Não pode atrasar), se não vão incidir juros, penalidades, e piora a situação financeira”, afirma Angela.

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Como não voltar ao endividamento

Pesquisa da empresa de análise de crédito SPC indica que menos da metade da população faz acompanhamento do próprio orçamento com algum método que não seja ‘de cabeça’. Para a economista-chefe da instituição, Marcela Kawauti, essa falha está na origem do problema. Sem saber direito para onde vai o dinheiro – o qual muitas vezes escapa em pequenos gastos como lanches, estacionamento e afins –, as pessoas acabam se endividando quando surge algum imprevisto.  “O fundamental, que a maioria das pessoas não faz, é saber o quanto gasta”, afirma Valdir Domeneghetti, coordenador da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi).

As receitas para controlar as despesas variam mas, de modo geral, os especialistas dizem que é bom começar de uma forma simples e dedicar um tempo para anotar todos os desembolsos. Outra dica é separar os gastos fixos mensais que não podem ser cortados – como condomínio, aluguel, eletricidade – daqueles que podem ser cortados ou reduzidos. O que é prioridade e o que é dispensável varia de família para família.

O planejamento das despesas dá condições de controlar o consumo e fazer poupança para objetivos ou emergências. Storfer, da Anefac, nota três tipos de compra que desequilibram os gastos e levam ao endividamento: “se dar um presente porque merece”, por impulso e por inveja de outra pessoa que tem o bem. A dica, no primeiro caso, é pensar que a tranquilidade de ter as contas em dia também será um “presente”. Para conter o impulso, vale pesquisar preços na internet e postergar a decisão, para ver se a compra é necessária. Sobre inveja, “é preciso ser mais maduro”, diz.

 

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