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A Locaweb, IPO de maior sucesso do ano, negocia compra de cinco empresas

Empresa anunciou duas aquisições no intervalo de uma semana e pode fechar novos negócios até o fim do ano; ações dispararam 260% em oito meses

Por Diego Gimenes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 2 out 2020, 21h08 - Publicado em 2 out 2020, 15h42

Abrir capital na bolsa de valores é uma questão que, naturalmente, exige cautela por parte das empresas envolvidas no processo e que demanda um rigoroso planejamento, além de uma série de cuidados e preparos para garantir que os seus objetivos serão cumpridos. Seja ele levantar dinheiro para os acionistas, seja financiar um crescimento futuro. Agora, imagine lançar uma oferta pública inicial (IPO, sigla em inglês) e, um mês depois, ver todos os mercados, do mundo inteiro, afundarem em meio a uma catastrófica pandemia que afetaria todos os continentes. Foi exatamente o que aconteceu com a Locaweb. A empresa brasileira abriu capital na B3 em fevereiro de 2020, semanas antes do novo coronavírus derrubar economias do mundo todo. Ao contrário das demais companhias que passaram pelo mesmo processo e amargam hoje tombos que beiram a casa dos 50% — como a construtora Moura Dubeaux –, a Locaweb, empesa especializada em internet, encarou a pandemia como uma oportunidade de crescimento de seus negócios, sobretudo na criação de plataformas de e-commerce, e viu suas ações dispararem nos meses seguintes, atingindo a alcunha de IPO mais bem sucedido da América Latina em 2020. Em fevereiro, os papéis foram lançados na bolsa por 17,25 reais e, no fechamento de 1° de outubro, alcançaram impressionantes 63,85 reais. A empresa quase quadruplicou de valor, crescendo aproximadamente 260% em apenas oito meses, dando motivos de sobra para celebração dos pouco menos de 32 mil investidores que possuem a Locaweb em suas carteiras de aplicações.

Fernando Cirne, CEO da empresa desde 2018, admite que existiu um certo temor pelo futuro das operações em meio à instabilidade que o mercado financeiro apresentou nos meses de março e abril, mas poucas semanas depois o sentimento de confiança se sobrepôs ao de incerteza, tão logo as ações começaram a subir na bolsa. O chefe da Locaweb revelou em entrevista a VEJA que, à época, preparou uma operação de guerra para atender, em apenas um mês, mais de 300 acionistas, entre fundos e investidores, com o objetivo de tranquilizar o mercado e a apresentar as projeções da empresa, que já pleiteava aquisições e investimentos em novos mercados. “Nós gostamos de falar com os acionistas, o mercado entendeu naquele momento que a Locaweb não iria sofrer. Depois, nós começamos a mostrar indicadores de que a operação corria bem. As vendas começaram a dobrar em abril e triplicaram em julho, foi ali que o mercado percebeu que estávamos preparados não só para a covid-19, mas também para o pós-pandemia”, analisa Cirne.

Fundada em 1998 por Gilberto Mautner e Cláudio Gora, a Locaweb foi a primeira empresa a oferecer hospedagens de sites no Brasil, em uma época que esse mercado era pouco explorado no país. Dez anos depois, a companhia foi também pioneira em ofertar armazenamento de dados na nuvem para os seus clientes. Em 2020, o foco passou para todos os processos digitais dos pequenos e médios empreendedores. Se no passado os empresários ingressavam na internet por meio da criação de sites, hoje são inúmeros os caminhos que podem ser seguidos, a entrada pode se dar pelo delivery, pelas redes sociais ou por sistemas de pagamentos. Não existe mais um único percurso a ser percorrido. “Tem gente que não começa mais com hospedagem, começa com rede social. Não está mais claro qual é o primeiro passo. Hoje, a Locaweb atua em todas as frentes, temos hospedagem, redes sociais e aplicativos. Sempre vamos cobrir tudo que seja presença digital das pequenas e médias empresas, esse é o nosso DNA e vamos continuar agindo nesse sentido”, afirma Cirne.

Com o foco muito bem definido nas pequenas e médias, a Locaweb foi às compras e anunciou duas aquisições no intervalo de 7 dias: Social Miner e Etus. A primeira oferece soluções de tecnologia para o e-commerce e a segunda é focada em gestão de redes sociais para empresas — como Tramontina, Boticário e Arezzo –, um dos mercados em que a Locaweb deve investir nos próximos anos. Juntas, as operações custaram 41,1 milhões aos cofres da empresa, mas engana-se quem pensa que o ciclo de aquisições se encerrou. Cirne revelou que existem negociações para a compra de cinco novas empresas, mas evitou estipular prazos para os anúncios. Segundo ele, as operações podem ser concluídas até o fim de 2020. As aquisições são consideradas peça-chave para a Locaweb, tanto que foi instaurado um comitê exclusivo para o assunto. Além do CEO, fazem parte do grupo o fundador e atual presidente do conselho, Gilberto Mautner, e o executivo-chefe de finanças (CFO) da empresa, Rafael Chamas.

“Estamos animados e, principalmente, capitalizados, que é o mais importante. Gastamos um terço do nosso tempo discutindo aquisições. Estamos sempre analisando o mercado e sabemos que estão surgindo boas oportunidades de investimento. As aquisições se tornaram prioridade, com a lógica de entender esse processo como uma parte importante da evolução de produto para a companhia. É uma disciplina que temos desde antes do IPO”, reitera Chamas. Sobre o estilo de aquisições que procura no mercado, o executivo afirma que a manutenção de marca, dos fundadores e a autonomia na gestão são vitais para o sucesso do negócio. “A gente só compra empresas que têm empreendedores capazes de nos ajudar na evolução e que, também, queiram continuar trabalhando, não adianta ser um baita empreendedor mas que esteja vendendo a empresa para se aposentar, não é o que a gente compra”, revela o CFO.

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Para se ter uma ideia, em agosto de 2019, cerca de 1.000 companhias entraram no radar da Locaweb. Aos poucos, a peneira foi se afunilando, o número caiu para 60 e logo em seguida para sete empresas. Dessas, a Social Miner e a Etus foram anunciadas oficialmente. “Claro que as aquisições têm seu grau de complexidade. Às vezes estamos avançando bem, até que os advogados impõem uma cláusula que acaba com o negócio. O lado bom é que gente tem muita vontade e flexibilidade, somos ‘fazedores de negócio’, é exatamente por isso que estou animado, porque nós temos a força de vontade e vamos concluir novos negócios, disso tenho certeza”, reverbera Cirne.

O crescimento da empresa tem sido irresistível. O número de lojas atendidas pela Locaweb quadruplicou durante a pandemia, ou seja, os patamares pré-covid ficaram definitivamente para trás. O aumento foi impulsionado pelo comércio eletrônico, que cresceu exponencialmente durante o isolamento social. “Com a pandemia, a penetração do e-commerce no Brasil passou de 6% para 12%. Nos Estados Unidos, chegou a 22%. Se o número dos americanos ainda é considerado pequeno, imagine o do Brasil?, diz Cirne.

No começo de setembro, a XP Investimentos manteve a recomendação de compra das ações da Locaweb e revisou para cima as expectativas, prevendo novo preço-alvo de 71 reais ao fim de 2021, baseada no crescimento das vendas online pelo Brasil. Evidentemente que o bom momento vivido pela empresa aguça o interesse de empresários pelo mercado. Analistas da XP acreditam que as ações da companhia devem continuar subindo, mas que a chegada de novos competidores e o crescimento das rivais atuais vão aumentar a concorrência, sobretudo no setor de e-commerce e de meios de pagamento.

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Hoje, a companhia conta com 1.422 funcionários, sendo que 250 foram contratados justamente durante a pandemia. Sem reduzir salários ou suspender contratos, a Locaweb já abriu novas vagas de emprego para 2020 e promete outras centenas de postos de trabalho para 2021, escancarando uma nova demanda do mercado de trabalho: a contratação de profissionais de tecnologia, principalmente os engenheiros de sistemas e os desenvolvedores de softwares.

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