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Por que as eleições nos EUA fazem o dólar voltar a se valorizar

Campanha tensa aumenta a aversão ao risco e impacta a moeda, porto-seguro dos investidores; novas ondas de Covid na Europa e Brexit também contribuem

Por Luisa Purchio Atualizado em 25 set 2020, 17h03 - Publicado em 25 set 2020, 12h35

Desde o auge da pandemia do novo coronavírus, entre março e abril, o dólar vem se desvalorizando em relação a importantes moedas mundiais, principalmente o euro. A partir desta semana, entretanto, o movimento se inverteu. O DXY, índice que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas internacionais, a principal delas o euro, subiu 1,62% até a quinta-feira 24, para 94,36. A principal explicação desse fenômeno esta na proximidade das eleições americanas. Como o país tem uma das economias mais fortes do mundo, as incertezas sobre o pleito adicionam uma instabilidade a mais no cenário internacional e atraem investidores para a moeda. Ou seja, o dólar não perdeu seu lugar como porto seguro dos investidores. “Até o início do ano era dado como certo que o Trump ia se reeleger, mas agora ninguém mais tem essa certeza”, diz Alexandre Espírito Santo, economista da Órama. “Essa eleição tem algo de muito preocupante porque ela pode parar na Suprema Corte, existe risco de impeachment, é um acontecimento com muitos ruídos”, diz ele.

Como moeda mais forte do mundo, usada em mais de 80% das transações mundiais e em operações como compra de ouro e títulos do Tesouro americano, o dólar acaba sendo mais procurado pelos investidores em cenários de aversão ao risco. Em conformidade com a lei da oferta e da procura, a moeda acaba se valorizando. No final da manhã dessa sexta-feira, 25, a moeda subia 0,37% em relação ao euro, para 0,8601. A proximidade das eleições também impactam na valorização da moeda americana. Como há cerca de dois meses democratas e republicanos não chegam a um acordo no Congresso sobre a aprovação de um novo pacote de benefícios à economia, a liquidez da moeda diminui, o que também aumenta o seu valor. Um dos principais motivos do derretimento do dólar nos últimos meses foi justamente as injeções trilionárias feitas pelo Federal Reserve. Por outro lado, o euro, que vinha se valorizando em detrimento do dólar, agora cai com as novas ondas de infecção pelo novo coronavírus na Europa e com o divórcio cada vez mais próximo entre o Reino Unido e a União Europeia.

Como não poderia deixar de ser, a moeda brasileira também é impactada nesse cenário. Por aqui o dólar continua se valorizando e, por volta do meio-dia, o dólar comercial operava em alta de 1,10%, a 5,5699 reais. No Brasil, no entanto, o real é impactado não apenas pelo cenário internacional, mas também pelos conflitos internos. O principal deles é o déficit fiscal, tendo em vista que o ano de 2020 deve fechar com uma relação de dívida/PIB acima de 83%. Para diminuí-la, as reformas, que estão paradas no Congresso, são fundamentais. O passo fundamental para isso, a articulação política, parece ter finalmente andado, como mostra VEJA desta semana. A maior interlocução entre Paulo Guedes e o Centrão, representado pela figura do líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR) tem dois efeitos: se por um lado se dá a possibilidade de andamento mais rápido das pautas, por outro há uma visão do risco nas alianças. “Existe uma dependência política do Centrão. Isso para o investidor é ruim, porque a percepção de risco piora”, afirma Fabio Galdino, economista da Vero Investimentos.

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