Chevron ignorou falha geológica na Bacia de Campos
Diretora da ANP afirma que "desenho do poço" apresentado pela empresa não informava sobre essa característica do solo, o que pode ter causado acidente
A Chevron desconsiderou uma falha geológica que pode ter sido o principal problema para o vazamento ocorrido na Bacia de Campos, no Campo do Frade. A diretora da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), Magda Chambriand, disse à agência Reuters nesta quinta-feira que o projeto do poço no Campo de Frade apresentado à agência, pela empresa, não mostrava a falha. Segundo Magda, o desenho do poço que chegou às mãos da ANP antes da perfuração, com detalhes técnicos da operação, poderia ter sido bem sucedido, não fosse uma falha não relatada no documento.
“Esse desenho do poço teria funcionado perfeitamente não fosse uma falha que estava ali que não estava no projeto do poço. Por que essa falha não estava ali no desenho? A sísmica mostrava ou não? Por que a análise de risco não comportou isso? Estamos investigando”, disse a diretora, respondendo sobre o quanto a agência conhecia das condições de pressão no reservatório que a Chevron estava perfurando.
Por ser responsável pela fiscalização da atividade no Brasil, a ANP não deixa de ter responsabilidade no episódio. A Chevron, pelo plano apresentado, recebeu aval da agência. “O desenho do poço passou pela ANP. O desenho do poço é possível tecnicamente, do jeito que nos foi apresentado. Estamos investigando o que aconteceu ali”, afirmou Magda.
O relatório da investigação da Polícia Federal sobre o vazamento em um poço perfurado pela Chevron, na Bacia de Campos, afirma que “ganância” e “irresponsabilidade” por parte das empresas causaram o acidente ambiental. O delegado Fábio Scliar, que conduziu o trabalho, concluiu que a empresa agiu de forma “leviana” ao operar com uma Marge de pressão que, sabidamente, segundo ele, oferecia riscos acima dos aceitáveis para uma atividade que, por sua complexidade, já oferece perigos ao meio ambiente e à sociedade. Para a PF, o poço não poderia ter sido perfurado.
Scliar indiciou 17 pessoas pelo vazamento, entre eles o presidente da Chevron, George Raymond Buck, e funcionários da empresa e da Transocean. No documento, a PF conclui que a Chevron sabia do risco que corria ao operar nos níveis de pressão em que estava operando. Segundo a PF, a pressão de 9,4 libras por galão que a empresa esperava encontrar no local foi equilibrada por outra oposta de 9,5 libras por galão de lama (material usado para equilibrar a pressão). A diferença de 0,1 libra por galão é criticada no relatório da PF, que informa que a média usada em perfurações anteriores fora de 0,4 a 0,6 libras por galão. A empresa já havia perfurado 19 poços naquela região – o que elimina, de acordo com a PF, a possiblidade de a Chevron ser surpreendida pelas condições de pressão e de resistência da rocha no Campo do Frade.
(Com Reuters)