Cenários local e externo forçam alta da Selic, e mercado já vê taxa acima de 12%
Dinâmica da inflação, agenda fiscal e pressão externa motivam apostas de Selic mais alta por mais tempo
Uma combinação de fatores locais e externos reforçam a tese de que a decisão do Banco Central tomada ontem de elevar em 0,50 ponto percentual (pp) a taxa Selic é de fato apenas o começo de um ciclo de aumentos consistentes até o ano que vem. Representantes de mercado não apenas enxergam que esse é o caminho daqui para frente para a política monetária, como já se preparam para uma taxa básica de juros acima dos 12% ao ano em 2025 — com riscos de permanecer nesse nível por mais tempo do que o esperado.
Do lado doméstico, o BC foi claro no comunicado da decisão divulgada ontem: “a inflação cheia e as medidas subjacentes se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”. Em outras palavras, a autoridade monetária continua expressando preocupação em relação à ancoragem das expectativas de inflação, um tema persistente nas últimas reuniões.
“Em nosso entendimento, o processo de aperto monetário deve prosseguir, com nova alta de 50 bps [0,50 pp] na reunião de dezembro, e segue em aberto o ajuste a ser promovido no primeiro trimestre de 2025”, afirma Marianna de Oliveira Costa, economista-chefe da Mirae Asset. “Nosso cenário básico é para uma taxa Selic em 12,5% no final do aperto monetário, com cenário alternativo sendo um aperto total um pouco maior.”
Em outra frente, o BC dá muita ênfase à agenda fiscal no Brasil, dessa vez de forma mais direta do que nos últimos comunicados. A verdade é que a política fiscal continua caminhando na direção oposta ao que é necessário para que haja uma política monetária mais frouxa. A matemática é simples: se os gastos do governo seguem elevados e sem expectativa de um controle firme, a desancoragem das expectativas de inflação e a pressão inflacionária permanecem, exigindo do BC uma mão ainda mais dura para controlar o nível de preços da economia.
“Sem um pacote fiscal crível, não vemos quais seriam as condições do Copom [Comitê de Política Monetária] de janeiro comunicar uma desaceleração no ritmo de alta de juros para março”, afirma Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual Portfolio Solutions, para quem a Selic deve chegar a 12,5% no segundo trimestre do ano que vem. “Em outras palavras, resolvendo o problema fiscal agora, a credibilidade e o tempo farão uma Selic menor convergir as expectativas de inflação.”
O exterior, por sua vez, não deve dar trégua. Com a vitória do republicano Donald Trump, uma série de medidas com potencial inflacionário poderão entrar em vigor nos próximos meses, forçando o Federal Reserve, o banco central americano, a inverter a mão do afrouxamento monetário para adotar uma postura mais dura para controlar a inflação. Um eventual ciclo de alta de juros na maior economia do mundo tem potencial de enxugar a liquidez global, motivando investidores a deixar mercados emergentes e voltar a títulos da dívida dos Estados Unidos.
Embora possa soar menos importante, o enxugamento da liquidez atinge em cheio as economias emergentes. Com a saída de dólares para a economia americana, a cotação da moeda sobe contra outras divisas, encarecendo as importações. Isso acaba fazendo com que o BC tenha que se antecipar ao cenário e manter a Selic em nível restritivo. Sem uma política fiscal equilibrada para compensar esse efeito, a desvalorização do real pode acabar ganhando ainda mais força.
“Em um dia em que a vitória de Donald Trump colocou o prometido pacote de corte de gastos do governo brasileiro sob os holofotes, o comunicado do Copom e seu tom duro no que diz respeito à percepção fiscal veio para consolidar a necessidade de um anúncio o quanto antes”, afirma Helena Veronese, economista-Chefe da B.Side Investimentos.