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Carta ao Leitor: Os ricos também doam

No Brasil, a crise sanitária de Covid-19 gerou uma poderosa mobilização do “andar de cima”

Por Da Redação Atualizado em 30 abr 2021, 11h34 - Publicado em 30 abr 2021, 06h00

Historicamente, a prática da filantropia nunca foi uma característica marcante dos brasileiros mais abastados — ao menos numa comparação direta com outros países. Em uma nação com um dos maiores índices de desigualdade social do planeta, as iniciativas da alta sociedade para ajudar a mitigar as mazelas originárias da pobreza costumavam ser sempre tímidas e desproporcionais ao tamanho do problema e à riqueza gerada. Em parte, tal comportamento se sustentava na ideia de que caberia ao governo prestar assistência aos mais pobres. Outra explicação era a falta de anabolizantes governamentais — incentivos tributários — para que as doações ocorressem. Os catorze meses de pandemia, porém, representaram uma profunda e alvissareira inflexão nessa tradição nacional.

MODELO - Carnegie: um exemplo americano -
MODELO - Carnegie: um exemplo americano – (Everett Collection/Shutterstock)

Em que pese a dimensão brutal de uma tragédia com 14 milhões de pessoas contaminadas e quase 400 000 mortos, a crise sanitária de Covid-19 gerou uma poderosa mobilização do “andar de cima”, expressão celebrizada pelo colunista Elio Gaspari. Apenas nos dois meses iniciais da pandemia, empresas, bancos, empresários e cidadãos de maneira geral doaram mais de 5,5 bilhões de reais para ser aplicados em uma infinidade de ações, da montagem de hospitais de campanha ao custeio de pesquisas com vacinas, passando pela distribuição de cestas básicas em escala monumental. Até a semana passada, o valor total das doações na pandemia chegou a 6,9 bilhões de reais, praticamente o dobro do registrado durante todo o ano de 2018.

Tal cifra sinaliza um avanço importante e transformador, como mostra a reportagem que começa na página 56 desta edição. Em paralelo às doações para atenuar o impacto do vírus, estão surgindo iniciativas que vão além da área de saúde e sugerem uma muito bem-vinda mudança cultural. São ações como a do banqueiro André Esteves, dono do banco BTG, que promete criar até 2025 uma universidade nos padrões do prestigiado Massachusetts Institute of Technology (MIT), ou o empenho dos três maiores bancos privados do país (Itaú, Bradesco e Santander) no apoio a projetos voltados para o meio ambiente, outro setor que mergulhou em uma crise dramática nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo, famílias que já investiam em benemerência, como os Setubal (Itaú) e os Ermírio de Moraes (Votorantim), ganharam a companhia de recém-chegados, como os Moll, da Rede D’Or, e os Batista, da JBS.

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A grande esperança, olhando a realidade por um prisma otimista, é que o trauma da Covid-19 seja a fagulha que faltava para gerar um ciclo virtuoso semelhante ao ocorrido nos Estados Unidos no início do século XX. Estimulados pela política fiscal e tributária do grande irmão do Norte, magnatas como Andrew Carnegie, John D. Rockefeller e Henry Clay Frick deixaram boa parte de suas fortunas para a criação de hospitais, universidades e museus, lançando as bases para uma mentalidade de benemerência que segue firme em solo americano. Tomara que a pandemia, tão nefasta ao ceifar a vida de milhares de brasileiros, deixe ao menos esse legado positivo por aqui.

Publicado em VEJA de 5 de maio de 2021, edição nº 2736

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