Caixa anuncia troca de Rita Serrano por indicado do Centrão na presidência
O economista Carlos Vieira Fernandes foi indicado à posição de liderança na instituição; a mudança deve dar maior poder para o PT em votações no Congresso
Depois de meses de negociação, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu substituir a presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Rita Serrano, para acomodar um nome indicado pelo Centrão. A executiva, que é funcionária de carreira do banco, estava na posição desde janeiro, mas não conseguiu lidar com a pressão no comando da instituição e deu lugar para acomodar uma negociação política do governo. O economista Carlos Vieira Fernandes, servidor da Caixa, assume a posição com o aval do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Anteriormente, Vieira Fernandes ocupara cargos de confiança em ministérios de partidos do Centrão.
A indicação para a liderança do banco era um sonho antigo de Lira, que vinha negociando com o PT e com possíveis sucessores de Rita nos últimos meses. Esse imbróglio chegou a ser destacado em reportagem de VEJA recentemente. Lira tinha como um dos principais objetivos a indicação de nomes a cargos importantes em algumas estatais, sobretudo a Caixa, os Correios e a Fundação Nacional da Saúde, a Funasa. A magnitude dessas indicações, no entanto, acabou travando as negociações — Lira gostaria de acomodar aliados em todas as diretorias do banco, algo que Lula não gostaria de abrir mão.
A despeito desse episódio em particular, a verdade é que os partidos, de qualquer inclinação ideológica, enxergam nas estatais brasileiras uma oportunidade de ouro para reforçar seu campo de influência, interferir nas principais políticas públicas – e, claro, fazer negócios. “Quanto mais aliados um político tem em posições de comando, mais fácil é atender os pedidos feitos por governadores e prefeitos a todo momento”, afirma Gabriel Jubran, analista político da consultoria Arko Advice. “Quem consegue levar recursos que podem ser revertidos em obras públicas, tem o nome associado às benfeitorias”. No final das contas, isso poderá significar mais votos.
No processo de fritura de Rita Serrano, a executiva foi acusada de ter “indisposição com o Parlamento”, nas palavras de um deputado próximo ao presidente da Câmara. “Desde que entrou no cargo, ela fez apenas reuniões com frentes sindicais”, diz o político. Procurada pela reportagem, a Caixa refutou a informação. Segundo o banco, até agosto de 2023 a alta administração fez 366 reuniões com governadores, prefeitos e parlamentares, o que representaria um avanço de 50% em relação ao mesmo período de 2022, quando o banco foi comandado por Pedro Guimarães e Daniella Marques. Serrano participou de 49 dessas audiências. Ao dar o chave do cofre do banco ao Centrão, Lula espera receber mais apoio em votações importantes no Congresso.