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Bodytech acusa credor de usar estratégia para tentar quebrar a empresa

Dois dos principais sócios da rede de academias apontam que o fundo Latache adota táticas predatórias

Por Felipe Mendes Atualizado em 10 nov 2023, 10h07 - Publicado em 10 nov 2023, 06h00

Os abutres são conhecidos por usar uma estratégia curiosa para caçar. Pacientes, eles sobrevoam presas feridas e as atacam quando parecem indefesas. No mundo dos negócios, essas aves nomeiam fundos que, à sua maneira, usam artifícios parecidos. Eles geralmente investem em ativos em dificuldades — e que estão, portanto, desvalorizados, às vezes até à beira da falência. Nos Estados Unidos, os fundos abutres se tornaram populares nos anos 1980 e, hoje em dia, participam ativamente das transações financeiras realizadas no universo corporativo. No Brasil, não são tão comuns, embora sua presença tenha aumentado nos últimos anos. Um caso rumoroso no país envolve a gestora de investimentos Latache Capital e a Bodytech, uma rede de 92 academias de ginástica em dezessete estados, com receita anual de meio bilhão de reais.

CONTRA-ATAQUE - A petição inicial da Bodytech contra a Latache Capital que foi enviada à Justiça do Rio: “Interesses egoístas e ilegítimos de um fundo abutre”
CONTRA-ATAQUE - A petição inicial da Bodytech contra a Latache Capital que foi enviada à Justiça do Rio: “Interesses egoístas e ilegítimos de um fundo abutre” (./.)

Dois dos principais sócios da Bo­dy­tech, os empresários Alexandre Accioly e Luiz Urquiza, acusam a Latache, que é conhecida no mercado brasileiro como um fundo abutre, de adotar táticas predatórias para destruir a empresa e, assim, se apropriar do que restar dela. A história, contudo, reserva uma surpresa: a Latache é credora da Bodytech, o que deveria ser suficiente para que desejasse a sua sobrevivência. Ou seja: o inimigo está dentro de casa. “A Latache tem atuado contra os interesses da Bodytech”, afirma Urquiza, que, além de acionista, é presidente da companhia. “Nunca vi uma coisa dessas.” Accioly vai mais longe. “O papel dos fundos é ajudar a empresa a se organizar, a melhorar a sua governança”, diz. “Em vez disso, a Latache entrou para destruir a companhia. Nós chegamos a ofertar o valor de face da debênture deles, o que ninguém faz, mas não quiseram vender. Parece coisa de milícia.”

A PALAVRA DA JUSTIÇA - Decisão em primeira e segunda instâncias foi a favor da Bodytech: “Aparente abusividade da conduta da Latache”
A PALAVRA DA JUSTIÇA – Decisão em primeira e segunda instâncias foi a favor da Bodytech: “Aparente abusividade da conduta da Latache” (./.)

No mercado de capitais, é comum o uso de diferentes fontes de financiamento por parte das empresas. Embora o método mais conhecido seja a listagem de ações via bolsa de valores, algumas companhias preferem emitir títulos de dívidas, conhecidos como debêntures, para custear seus planos de expansão. Esse foi o caminho escolhido pela Bodytech, que há uma década emitiu dois títulos de dívidas que lhe permitiram captar 310 milhões de reais. Com o passar dos anos, o valor foi sendo quitado paulatinamente, mas as restrições impostas pela pandemia de Covid-19 — unidades foram fechadas e alunos cancelaram assinaturas — fizeram a empresa perder musculatura. Em dificuldades, ela solicitou, em 2021, o alongamento dos valores devidos aos credores. Com o bom histórico da Bodytech, o pedido foi aceito por todos.

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A história mudou em fevereiro de 2023, quando a Latache Capital entrou em cena. O fundo, que pertence ao discreto empresário Renato Azevedo, comprou parte da dívida de um dos credores e, desde então, segundo Accioly e Urquiza, passou a impor uma série de dificuldades para a Bodytech. Entre elas, usou uma cláusula de vencimento antecipado das dívidas para impedir o alongamento de uma das emissões e travou a postergação de vencimentos. Nesse episódio estranho, a rede de academias renegociou uma dívida que está em posse do Bradesco, avaliada em 103,5 milhões de reais. Mesmo com o aceite do Bradesco, o principal interessado, o acordo não saiu, já que a Latache surpreendentemente bloqueou a oferta. No mercado, causa espanto (e desconfiança) o fato de um credor não desejar que o devedor obtenha boas condições para o pagamento de suas dívidas. Especialmente no momento em que a empresa dá claras demonstrações de recuperação.

RIVAIS - Azevedo, da Latache, e Accioly, da Bodytech: dono da academia diz que atitude da gestora “parece coisa de milícia”
RIVAIS - Azevedo, da Latache, e Accioly, da Bodytech: dono da academia diz que atitude da gestora “parece coisa de milícia” (Silvia Costanti/Valor/Ag. O Globo; Maria Isabel Oliveira/Ag. O Globo/.)

Revoltada com o ataque hostil e inesperado da Latache — cujas intenções seriam, segundo Accioly e Urquiza, quebrar a empresa para pagar um preço irrisório por ela —, a Bodytech decidiu ir à Justiça, ganhando as ações em primeira e segunda instâncias. Procurado pela reportagem, o fundo abutre se defendeu. “A Latache é uma credora da Bodytech, não apenas por meio de debêntures, mas também por meio de cédulas de crédito bancário adquiridas no mercado secundário”, disse a gestora. “Nesse sentido, a Latache deseja o máximo sucesso para a Bodytech. A empresa pode sempre contar com a Latache para avaliar alternativas de capitalização.” Como se vê, os abutres são ardilosos. Portanto, seria crucial para o mercado brasileiro uma regulação mais rigorosa para evitar comportamentos dessa natureza.

Publicado em VEJA de 10 de novembro de 2023, edição nº 2867

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