Por Tiago Pariz
FORTALEZA, 10 Fev (Reuters) – O Banco Central já estima que a inflação deste ano vai ficar no centro da meta oficial, de 4,5 por cento, e abaixo da sua previsão de até então, de 4,7 por cento pelo IPCA, informou nesta sexta-feira o diretor de Política Econômica da autoridade, Carlos Hamilton Araújo. Ele acrescentou que, mesmo com esse cenário, ainda não há horizonte para a concretização da taxa básica de juros em um dígito, mas ele deve chegar.
“O nosso cenário é que ela (inflação) vai se deslocar para a meta em 2012”, afirmou o diretor que, ao ser questionado se seria exatamente para a meta ou próximo a ela, acrescentou: “Para a meta de 4,5 por cento”.
A meta do governo é de 4,5 por cento pelo IPCA, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos.
“A nossa visão é que o balanço de risco para a inflação (de 2012) é favorável. Portanto, aponta no sentido de que a probabilidade é o número ser melhor do que 4,7 por cento”, afirmou o diretor em entrevista após apresentação do Boletim Regional na sede do BC em Fortaleza.
Em seu último Relatório Trimestral de Inflação, divulgado em dezembro, o BC informou que a sua previsão para o indicador era de 4,7 por cento neste ano.
Em janeiro, no acumulado de 12 meses, o IPCA fechou com alta de 6,22 por cento, desacelerando em relação a dezembro, quando ficou em 6,50 por cento, informou nesta manhã o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A perda de força na inflação corrobora a visão do BC de que a inflação caminha para o centro da meta, repetida na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), na qual a Selic foi cortada em mais 0,5 ponto percentual, para 10,50 por cento.
SELIC
Carlos Hamilton evitou estabelecer um prazo para que a Selic, que hoje está em 10,5 por cento, atinja um dígito, como propagado na última ata Copom, em janeiro. O presidente do BC, Alexandre Tombini, já havia afirmado também que há espaço para mais afrouxamento da política monetária do país.
“O que o Copom deixou claro é que há probabilidade elevada de um cenário em que a Selic converge para um dígito. Eu não posso dizer quando isso vai acontecer, temos que esperar as próximas reuniões”, disse.
O diretor reforçou a visão do BC de que a economia global vai continuar crescendo lentamente sem a ocorrência de eventos extremos, como quebra de um banco ou declaração de moratória de um país.
Sobre as mudanças nas regras de remuneração de compulsório a prazo divulgadas nesta manhã, o diretor sustentou que o efeito é igual mesmo com os prazos maiores para a implementação total das alterações.
“O ponto de chegada é o mesmo. Agora, à luz de um novo momento, decidimos suavizar o cronograma de implementação e marcar o ‘phasing out'”, disse o diretor.
O BC anunciou que a limitação da remuneração dos valores recolhidos, com o objetivo de estimular a venda de carteiras de crédito de bancos pequenos e médios, passa a ser em quatro etapas: 80 por cento a partir de 24 de fevereiro de 2012; 75 por cento a partir de 20 de abril de 2012; 70 por cento a partir de 22 de junho de 2012; e 64 por cento a partir de 24 de agosto de 2012.
Até então, a medida valeria a partir de 24 de fevereiro, quando o percentual cairia para 73 por cento e, em 27 de abril do ano que vem, para 64 por cento. Atualmente, todo o valor depositado é remunerado pela taxa básica de juro, hoje em 10,50 por cento ao ano.
CRÉDITO
O BC apresentou também nesta sexta-feira dados sobre uma pesquisa com 46 instituições financeiras sobre a perspectiva para os próximos três meses para demanda e oferta de crédito.
Na visão do chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, o levantamento mostrou o ambiente está mais restritivo para o crédito no país, com exceção, sobretudo, para o setor habitacional.
A pesquisa, realizada entre 12 e 23 de dezembro, mostrou que a demanda de grandes empresas, assim como a oferta, está menor nesses primeiros três meses do ano. Para o crédito voltado ao consumo, para pessoa física, o levantamento mostrou que há uma queda na demanda e uma estabilidade na oferta.
Para o diretor do BC, esse cenário para o crédito ao consumo deve-se a uma maior cautela das instituições em relação à inadimplência. Ele acredita, no entanto, que o calote não deve aumentar neste ano. “Não há indicação do aumento da inadimplência neste ano”, afirmou.
Carlos Hamilton não vê contrariedade na queda da Selic desde agosto, e que já somou 2 pontos percentuais, e o ambiente de restrição no crédito. Ele citou que as instituições informaram que o que prevalece na avaliação são outros fatores.
“As explicações giraram em torno da inadimplência, confiança e necessidade de investimento. Ninguém mencionou taxa de juros”, afirmou.
Em dezembro, a inadimplência geral ficou em 5,5 por cento, frente a 5,6 por cento em novembro, segundo dados mais recentes do BC.