BC decide nesta quarta nova taxa de juros e pode interromper alta da Selic
Mercado está divido entre manutenção em 14,75% e alta para 15%. Inflação desancorada, risco fiscal e geopolítico devem pesar na decisão

O Comitê de Política Monetária (Copom) anuncia nesta quarta-feira, 18, a decisão de política monetária. Depois de seis encontros subindo o percentual da taxa Selic, parte do mercado financeiro acredita que o Banco Central interrompa a trajetória, mantendo a Selic em 14,75% ao ano. No entanto, os rumos da decisão não são unanimidade e há quem preveja um novo aperto monetário, de 0,25 ponto, levando a taxa a 15%, o que levaria a taxa ao maior nível desde julho de 2006, durante o segundo governo Lula.
Nas últimas semanas, cresceu o número de casas que passaram a apostar na elevação – 62% do mercado agora projeta esse movimento, ante 37,5% que esperam estabilidade. O aumento da percepção de risco fiscal, alimentado pela novela do IOF e um novo pacote de medidas arrecadatórias, e o agravamento das tensões geopolíticas contribuíram para esse avanço na expectativa de alta.
Entre os economistas que defendem um novo aperto monetário, o argumento central é a necessidade de reforçar o compromisso com a estabilidade de preços e conter as expectativas de inflação. “Nossa expectativa é que o Banco Central eleve a taxa Selic em 25 pontos-base na próxima reunião. Caso opte por manter os juros, o Copom precisará sinalizar que o juro elevado permanecerá por mais tempo – o chamado higher for longer”, afirma Beto Saadia, economista e diretor da Nomos.
A mesma leitura é compartilhada pelo economista-chefe da Suno Research, Gustavo Sung, que considera a elevação para 15% como o cenário-base da casa. “Ainda que a manutenção não seja descartada, entendemos que um aumento de 0,25 ponto percentual é a medida mais adequada. A inflação segue pressionada e a recente alta do dólar exige cautela. Um movimento pontual de alta reforçaria o compromisso com a meta e ajudaria a ancorar expectativas, sem iniciar um novo ciclo”, avalia. Sung acredita que o Copom adotará uma comunicação dura independentemente da decisão, para preservar a credibilidade da política monetária.
Na mesma linha, André Matos, CEO da MA7 Negócios, argumenta que a alta da Selic não significa uma guinada mais agressiva, mas sim uma resposta técnica à piora do cenário fiscal e cambial. “Não se trata de um novo ciclo de aperto, mas de um gesto pontual de precaução”, diz.
Por outro lado, há quem veja pouco espaço – e necessidade – para um novo aumento. O argumento aqui é que os juros já estão suficientemente altos e que a política monetária precisa de tempo para fazer efeito. “Minha expectativa é de manutenção. A inflação de maio veio abaixo das projeções e indica um processo de desaceleração. O BC deve adotar uma postura cautelosa, reforçando a necessidade de manter os juros elevados, mas sem novos aumentos neste momento”, afirma Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
O CEO da Asset Bank, Gustavo Assis, também espera manutenção. Para ele, o cenário externo, com petróleo volátil e tensões geopolíticas, somado à incerteza fiscal interna, impede cortes, mas tampouco exige uma nova alta. “Manter a Selic é necessário para preservar a previsibilidade. A política monetária precisa ser firme, mas não excessivamente reativa.”
Para Paulo Silva, cofundador da Advisory 360, o BC deve considerar os efeitos defasados dos aumentos recentes. “Apesar da inflação ainda elevada, já há sinais de desaceleração do crédito e da atividade. A pausa agora não significa fim do ciclo, mas um compasso de espera. O comunicado deve manter a porta aberta para novas altas, caso o cenário piore.”
A FecomercioSP também se posicionou contra uma elevação neste momento. Para a entidade, subir a Selic agora seria uma precaução excessiva, que penalizaria ainda mais o consumo e a atividade econômica, já fragilizados. Mas alerta: “Essa manutenção só se sustentará se houver uma política fiscal mais equilibrada – o que ainda não se desenha no horizonte.”
O economista-chefe da Blue3 Investimentos, Roberto Simioni, vê na mudança recente do tom das comunicações do BC um indício de que o comitê está menos inclinado a novos apertos. “O foco da política monetária está no horizonte de seis trimestres. A ata anterior já indicava um discurso menos assertivo, com uma transição do ‘firme propósito’ para um ‘objetivo’ de convergência da inflação. É uma mudança sutil, mas relevante.”
Independentemente do resultado, a reunião deverá reforçar o caráter “hawkish” (duro) da política monetária brasileira. O mercado quer clareza sobre os próximos passos, sobretudo em um momento de fragilidade das contas públicas e instabilidade externa. Como resumiu um gestor do mercado financeiro: “Se subir, o BC estará se antecipando ao risco. Se parar, estará testando o limite da credibilidade. Em ambos os casos, a comunicação será chave para manter os ânimos sob controle.”
O dilema do Copom é mais do que técnico: é estratégico. Entre subir e manter, o que está em jogo é o equilíbrio entre o combate à inflação e os impactos sobre uma economia já em desaceleração. A decisão, portanto, será um termômetro do quanto o Banco Central está disposto a pagar para manter a confiança na política monetária.