Ata reforça cortes da Selic, mas endossa liberdade em tom mais duro
Documento abre espaço para uma leitura mais hawkish, deixando claro que dados futuros dirão o ritmo da política monetária e a taxa terminal do atual ciclo
Divulgada nesta terça-feira, 26, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central que decidiu cortar a Selic para 10,75% reforçou a mensagem de que há espaço para mais reduções da taxa básica de juros a partir da reunião de maio. Ao mesmo tempo, o documento deu ênfase à preocupação da autoridade monetária com a inflação de serviços, abrindo espaço para uma leitura mais hawkish — isto é, menos inclinada ao corte de juros — daqui para frente, em que a Selic passe a ser reduzida em ritmo mais lento.
Segundo Gabriel Barros, economista-chefe da gestora Ryo Asset, o Copom buscou ser “agnóstico e neutro” na análise da economia doméstica, deixando claro que os dados futuros dirão o ritmo da política monetária e a taxa terminal do atual ciclo. Mas, apesar do tom neutro, diz o economista, “há evidente preocupação com a relação entre a inflação de salários e serviços, cuja defasagem demanda serenidade e moderação da política monetária” — uma afirmação que traz a pitada “hawkish” à comunicação da autoridade.
“A ata do Copom mostrou um BC mais preocupado. O BC voltou a enfatizar que o mercado de trabalho apertado é uma das principais razões para a elevada inflação de serviços”, afirma Álvaro Frasson, economista do BTG Pactual, em comentário enviado a clientes. “As chances da incerteza continuar no radar são grandes e, com isso, a flexibilidade e cautela na condução da política monetária será exercida; em outras palavras, a sinalização da redução do ritmo [de corte da Selic] em maio, hoje, são maiores.”
A maioria dos economistas ainda projeta uma Selic terminal abaixo dos 10%, mas, com os comentários da ata hoje, não descartam um tom mais duro do BC a partir da reunião de maio, sobretudo diante da informação, trazida na ata, de que alguns membros do Copom já veem um corte de 0,25 ponto percentual como mais adequado do que 0,50 pp.
“O BC foi hawkish na caracterização do mercado de trabalho e da incerteza com o cenário, por um lado, e, por outro, destacou que não existe relação mecânica entre a retirada do ‘guidance’ duplo [a retirada do plural ao falar sobre o próximo corte de juros] e a trajetória de política monetária que ele tinha na cabeça”, afirma Leonardo De Paoli, economista da Legacy Capital.
O Copom também deixou clara a sua preocupação com o ritmo de inflação no exterior, sobretudo nos EUA, diante de uma economia ainda bastante resiliente, um ritmo que pode interferir na condução da política monetária no Brasil. “A ata do Copom reforçou o viés para a nossa projeção de Selic a 9% no fim deste ano. Além disso, a redução no ritmo de cortes da taxa de juros a partir de junho, para 0,25 pp, ganhou maior probabilidade”, afirma o economista-chefe Caio Megale, da XP, em nota.