Após corte da Selic, dólar dispara e BC intervém para segurar a cotação
Moeda americana registrou R$ 5,87, nova máxima histórica para o intradia, mas arrefeceu a escalada após leilão da atividade monetária
Diante do corte expressivo de 0,75 ponto porcentual na taxa básica de juros, a Selic, anunciado na noite de quarta-feira 6 pelo Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, o dólar disparou nesta quinta-feira, 7. Às 12h, a moeda americana chegou a 5,87 reais, máxima nominal histórica para o intradia. A reação de investidores a queda de atratividade de investimentos no país com a taxa de juros baixa, cenário político conturbado e a pandemia fazem com que alguns analistas já estimem a moeda americana acima de 6 reais este ano. A intervenção do Banco Central e o anúncio do presidente Jair Bolsonaro ao veto do reajuste de servidores arrefeceu a queda da moeda. Por volta das 13h53, a moeda americana era vendida a 5,825 reais.
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Clique e AssinePara tentar segurar a disparada do dólar, o Banco Central atuou novamente no mercado. A autoridade monetária disponibilizou no fim da manhã desta quinta-feira um leilão de swap cambial tradicional, onde foram ofertados 7.540 contratos com vencimento em setembro de 2020 e janeiro de 2021. As seguidas intervenções do BC tem efeito pontual, mas não são suficientes para segurar a cotação. “Hoje, já podemos falar que o dólar fatalmente irá chegar a 6 reais. O câmbio representa o momento. Quanto maior for a pressão em função da queda da atividade econômica do país, mais o Banco Central tem de atuar”, diz João Medeiros, economista com mais de 40 anos de experiência no mercado financeiro.
Embora elogiada por alguns economistas, a atuação do BCe por meio de venda de dólares gera uma tensão adicional no mercado por conta da diluição das reservas de capital do país. “A estratégia do Banco Central em tentar diminuir a volatilidade da moeda estrangeira via swaps e dólar à vista tem custado reservas internacionais de forma relevante”, diz André Perfeito, economista-chefe da corretora Nécton. “No recorte das reservas pela liquidez internacional estamos no mesmo patamar de março de 2012. Já se observadas as reservas totais, estamos no mesmo patamar de julho de 2011”.
O dólar tem sido pressionado por diversos fatores. Com os cortes recentes na taxa básica de juros, o Brasil virou um ambiente inóspito para investidores estrangeiros. Além disso, a atividade econômica de diversos setores do país tem se diluído paulatinamente em função do agravamento da pandemia do novo coronavírus. “O Brasil vem parando semana a semana e isso impacta diretamente no câmbio. As dívidas do governo e as dívidas de empresas estão aumentando e, em contrapartida, as operações de importação e exportação do mercado estão minguando. Com isso, é questão de tempo para que a moeda americana chegue a 6 reais. Em toda a minha vida, nunca vi algo parecido”, diz Medeiros.
A política é um outro fator influencia diretamente na escalada da moeda americana. Segundo fontes do mercado, o dólar também é pressionado pelo quadro político instável do país. Na última terça-feira 6, a agência de risco internacional Fitch Ratings manteve a nota de crédito do Brasil em BB- e revisou a perspectiva para negativa por conta da incerteza política e da duração e intensidade da pandemia de coronavírus no país. “A pandemia e a recessão relacionada vão incrementar ainda mais o endividamento público, erodindo a flexibilidade fiscal e aumentando a vulnerabilidade a choques”, disse a Fitch.
Turismo
Para quem pensa em viajar, o momento exige mais cautela. Nesta quinta-feira, o dólar turismo também opera em forte alta. Algumas casas de câmbio de São Paulo já vendem a moeda americana a 6,40 reais, para quem paga pelo cartão pré-pago — para o pagamento à vista, os valores giram em torno de 6,10 reais. O efeito também se dá sobre outras moedas. A corretora Ourominas, por exemplo, negocia a libra a 7,91 reais, no cartão pré-pago. O euro turismo, por sua vez, pode custar até 6,90 reais, no cartão de crédito.