Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Continua após publicidade

Alexandre Schwartsman: Os ecos do trovão

Sem medidas de saúde pública que eliminem a causa do problema, o maior setor do PIB seguirá com dificuldades

Por Alexandre Schwartsman
Atualizado em 3 dez 2020, 14h39 - Publicado em 3 dez 2020, 14h13

Quando se referiu à queda recorde do PIB no segundo trimestre do ano, originalmente divulgada como -9,7%, agora revista para -9,6%, o ministro da Economia a classificou como o “barulho do raio”, algo que ouvimos depois que a desastre aconteceu, tese da qual discordei aqui mesmo, em VEJA. Mas, se a metáfora não ficar muito desgastada, podemos dizer que os ecos do trovão ainda se fizeram ouvir no terceiro trimestre. Houve, claro, recuperação expressiva da economia. A expansão de 7,7% no período é a mais alta já registrada para um trimestre e não tenho dúvidas que alguns analistas irão apontar o fato como prova do acerto da política econômica. Isso não esconde, todavia, ao menos dois problemas mais sérios: o número, mesmo com revisões de dados passados, veio bem abaixo do esperado (a previsão média era de crescimento de 9% sobre o segundo trimestre); além disso, seguimos ainda longe dos níveis registrados logo antes da crise.

A razão para o otimismo de muitos vinha do desempenho expressivo de alguns indicadores, notadamente as vendas no varejo e a produção industrial, que em setembro já haviam ultrapassado os valores observados em fevereiro, mostrando a tão sonhada recuperação em “V”. Não há dúvida que o auxílio emergencial, da ordem de 50 bilhões de reais mensais em seu início e agora na casa de 25 bilhões de reais ao mês, teve papel crucial nessa história. Há indicações que a renda das famílias em seu sentido mais amplo, já computando transferências governamentais como previdência e os diversos programas sociais (Bolsa Família, abono salarial, Benefício de Prestação Continuada, etc.), não caiu graças aos auxílios criados durante a epidemia; pelo contrário, parece ter subido um tanto. Com isso as famílias foram às compras, conforme capturado pelas vendas varejistas, alimentando a expansão da produção da indústria.

Todavia, parcela considerável do consumo e da produção está ligada ao setor de serviços (responsável por mais de 60% do PIB e quase três quartos do valor adicionado na economia, sem contar pouco mais da metade dos empregos no país). Esse setor segue manietado pela crise sanitária: segundo as estimativas do IBGE, produziu no terceiro trimestre ainda 5% a menos do que no final do ano passado. Tal média encobre alguns casos de cabeça no forno e pés na geladeira. Segmentos como serviços de informação e comunicação já se recuperaram plenamente; por outro lado, outros – mais dependentes da interação pessoal – como alojamento e alimentação, ou transporte aérea, permanecem cerca de 40% abaixo de onde estavam. Não por falta de renda, mas porque o distanciamento social assim o requer, notando que “distanciamento social” não é só aquele requerido pelos governos locais (já que o governo federal permanece omisso), mas também resultado dos receios de quem não quer ser infectado.

Continua após a publicidade

A verdade é que, sem medidas de saúde pública que eliminem a causa do problema, o maior setor do PIB seguirá com dificuldades. Trata-se de um problema sério, porque – como notamos – também a maior parcela do emprego no Brasil está associada a ele. Não por acaso, quase 75% dos empregos perdidos no país entre fevereiro e setembro vieram de lá. Em suma, sem vacina não haverá recuperação rápida dos serviços, nem do emprego, nem, portanto, do PIB. Para 2020 a queda, já encomendada, deve superar um pouco os 4,5%. Mais importante a essa altura do campeonato, a expansão de 2021 deverá ficar na casa de 3,5%, boa parte dela mais um reflexo da fraca base de comparação (no caso, 2020) do que o crescimento ao longo do ano que vem. Os ecos do trovão ainda serão ouvidos por mais alguns trimestres.

Alexandre Schwartsman é doutor em Economia pela Universidade da Califórnia, Berkeley e ex-diretor do Banco Central do Brasil.

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.