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A temporada de derretimento do euro em relação ao dólar ficou para trás?

Arrefecimento da inflação muda o ritmo do aperto monetário nas maiores economias do mundo e aliviam a moeda europeia

Por Luisa Purchio 12 jan 2023, 14h39

O euro teve uma trajetória de forte desvalorização em 2022, chegando a custar menos de um dólar americano, porém teve uma leve recuperação no final do ano e terminou 2022 com uma desvalorização de  5,5%. Agora no início de 2023, no entanto, a moeda europeia engatou um ciclo de valorização e os analistas do mercado estimam que ele veio para ficar. Na quarta-feira, 11, o euro fechou em 1,0755 dólar, o maior patamar desde maio de 2022, e nos últimos sete dias já acumula uma alta de 1,47%.

“É uma valorização ainda tímida, mas aquela sangria do euro em relação ao dólar foi estancada”, diz Thomás Gibertoni, analista da Portofino Multifamily Office. Por trás dessa virada de direção está as perspectivas dos juros das maiores economias do mundo. Enquanto em 2022 o Federal Reserve Bank elevou os juros dos Estados Unidos de zero para 4,25% ao ano, na Europa o Banco Central Europeu tirou-os do patamar de -0,5% para 2% no mesmo período. Dessa maneira, investir no dólar com retorno de 4,25% ao ano ficou mais vantajoso que no euro com 2% ao ano, o que levou a uma fuga de capital da Europa para os Estados Unidos.

As perspectivas para 2023, no entanto, são bastante diferentes, principalmente no que se refere à inflação, o principal fator que influencia na política monetária das regiões. Os preços de energia na Europa, que dispararam no ano passado, devem enfrentar outro cenário, uma vez que a guerra da Rússia com a Ucrânia não é mais uma novidade. A União Europeia se preparou para o inverno europeu, fazendo um estoque robusto de gás para não ficar à mercê do presidente russo, Vladimir Putin. Além disso, o inverno europeu surpreendeu positivamente com países enfrentando as temperaturas mais quentes da história para o período.

Apesar do respiro, a estimativa é que ainda levará tempo para o euro ter uma recuperação mais robusta em relação ao dólar. Isso porque em dezembro a agência europeia de estatísticas Eurostat mostrou que a inflação interanual na região caiu para 9,2%, deixando o patamar de dois dígitos, porém o núcleo de inflação teve alta e mostrou que a pressão é persistente. “A Europa ainda tem desafios grandes para conter a inflação e nossa perspectiva é que os juros vão subir 0,5 ponto percentual até o final do ano”, diz Gibertoni. Como a expectativa para a alta de juros pelo Fed em 2023 é a mesma, a cotação do euro em relação ao dólar deve encontrar pouca volatilidade. “Nossa perspectiva é que o euro não conseguirá se valorizar mais de 1% ou 1,5% em relação ao dólar até o final do ano porque não tem um gatilho muito relevante pela frente para isso acontecer”, diz.

Na manhã desta quinta-feira, 12, importantes dados do Departamento de Estatísticas do Trabalho dos Estados Unidos confirmaram a tendência de desaceleração na inflação dos Estados Unidos, o que reafirma uma postura menos agressiva do Fed esse ano. Os dados anualizados de inflação caíram de 7,1% para 6,5%, puxados principalmente pela gasolina, cujos preços caíram 9,4% no mês e 1,5% no ano. O núcleo da inflação, no entanto, teve leve alta de 0,3% no dado anualizado.

As tendências de desinflação estão claramente intactas, pois os custos de energia mais baratos ajudaram a gerar o primeiro declínio mensal em 2 anos e meio”, diz Ed Moya, analista de mercado da OANDA. “A inflação não está caindo em geral, mas está esfriando à medida que a economia começa a sentir o impacto dos aumentos anteriores dos juros do Fed”, diz. No início da tarde desta quinta-feira, 12, o euro sobe 0,55% em relação ao dólar, enquanto o DXY, que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas, principalmente o euro, cai 0,59%, uma derrocada significativa para esse índice que é pouco volátil. Mais um sinal de que os tempos difíceis para o euro ficaram para trás.

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