Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

A redescoberta do prazer de ir às compras

Quarentena relaxada, lá foram os compradores fazer fila no afã de reviver o prazer do consumo e romper o marasmo da rotina levando algo novo para casa

Por Ricardo Ferraz Atualizado em 4 jun 2024, 14h08 - Publicado em 26 jun 2020, 06h00

Pouca gente no mundo imaginava que passar três meses sem pisar em uma loja de roupas — pisar mesmo, com os dois pés — seria tão sofrido. Mas bastou a quarentena ser relaxada e as lojas reabrirem para que os clientes fizessem fila na calçada — movimento conhecido como revenge shopping, a compra de revanche, que nos últimos dias sacudiu tanto o comércio de rua, como comprovaram as britânicas Harrods, Nike e Primark, quanto os shopping centers americanos e, inclusive, os brasileiros. Não é sempre para encher as sacolas que as pessoas pacientemente aguardam sua vez. O grande prazer de voltar a circular entre prateleiras de produtos aciona engrenagens psicológicas que suavizam o sentimento generalizado de privação e dão um sabor de liberdade — justamente o que elas querem. “Muita gente busca no consumo um alívio imediato para a tristeza e a frustração pelo longo confinamento”, diz a psicóloga com especialização em economia Vera de Mello Ferreira.

O ato de ir às compras agora é revestido de ritos em prol da segurança, mas isso não espanta o ímpeto de entrar em lojas. Elas fecharam provadores, instalaram barreiras de acrílico nos caixas, impuseram um limite máximo de pessoas e o uso de máscara. Na seção de produtos de beleza, ninguém mais pode sentar para uma maquiagem-teste. As grandes lojas de departamentos têm marcação no chão e sentido de mão única nos corredores, para orientar o percurso das pessoas e manter a distância. Na hora de pagar, nada de dinheiro vivo — só cartão, esterilizado com álcool em gel. Compensam tantas restrições os descontos de até 60% para atrair a clientela, ressabiada com a economia no abismo e com o desemprego elevado.

ASSINE VEJA

Wassef: ‘Fiz para proteger o presidente’
Wassef: ‘Fiz para proteger o presidente’ Leia nesta edição: entrevista exclusiva com o advogado que escondeu Fabrício Queiroz, a estabilização no número de mortes por Covid-19 no Brasil e os novos caminhos para a educação ()
Clique e Assine

Nos primeiros dias de comércio aberto, deu-se uma corrida com reflexo nos números. Nos Estados Unidos, depois de semanas de portas fechadas, as vendas em maio cresceram 18% em relação a abril, mas houve saltos de 188% no vestuário (nada como um vestido novo para elevar o moral), de 88% nos artigos esportivos, de 40% nas revendedoras de carros e de 90% em mobília — uma subida encabeçada por famílias que não aguentam mais olhar para o mesmo sofá e por rearranjos domésticos para a instalação definitiva do home office. No Reino Unido, as vendas do varejo tiveram aumento de 12% em maio, na comparação com abril, depois de despencar espantosos 98% nos três meses de isolamento. “As pessoas precisam comprar e comprar com confiança”, disse o primeiro-ministro Boris Johnson, sobre o início da retomada.

LOJA-GUCCI—HOUSTON-TEXAS-2020.jpeg
ATÉ QUE ENFIM - Loja da Gucci em Houston, Texas: gosto de liberdade (Adrees Latif/Reuters)
Continua após a publicidade

O termo “compra de revanche” surgiu na China, na década de 80, para descrever a corrida aos produtos estrangeiros observada quando o país se abriu à economia de mercado, dando as mãos ao capitalismo — uma espécie de vingança após décadas de demanda reprimida. Nas filas em frente às lojas de agora, alia-se ao consumo em si a sensação de bem-estar de levar para casa uma novidade em meio à rotina repetitiva. “Bens materiais novos, como um jeans ou um celular, ganham o peso de uma conquista. É como se o comprador dissesse: eu venci a pandemia”, explica Cristina Pinto de Mello, professora de economia do consumo da ESPM. A brasileira Leila Redua, gestora de recursos humanos que mora em Weybridge, perto de Londres, com o marido e um filhinho de 1 ano, foi das primeiras a entrar na GAP na esquina de sua casa, ansiosa pelas promoções. Gastou 23 libras (cerca de 170 reais) em sete peças para o filho e, de quebra, parou na H&M para se abastecer de camisetas e bijuterias. “Foi uma alegria sair da loja com minhas compras. Estamos usando as mesmas roupas há tanto tempo em casa que não via a hora de ter algo diferente”, diz Leila, que, claro, compartilhou as novas aquisições em seu perfil no Instagram.

O comportamento do consumidor neste primeiro momento ajuda a contornar o prejuízo acumulado, mas ainda não resolve o derretimento da economia mundial por causa da pandemia. Nos Estados Unidos, por exemplo, as vendas no varejo estão 6% negativas em comparação com maio do ano passado. No Brasil, que parece viver o início de um período de estabilização nas mortes provocadas pela pandemia, os primeiros dias de quarentena relaxada em São Paulo e no Rio de Janeiro também registraram generosas filas nas portas dos shoppings e das lojas de rua. Mas até aqui a espera se deveu mais às restrições ao número de pessoas dentro dos estabelecimentos do que a uma clientela volumosa. Muita gente também tem dado um pulinho no comércio pela pura e instintiva satisfação de prolongar a estada fora de casa depois de tanto tempo de reclusão, mesmo que não necessariamente abra a carteira e se renda, sem medo de ser feliz, à gastança. “Nosso movimento atual é 60% do normal”, calcula Nabil Sahyoun, presidente da Alshop, a associação dos shopping centers. A revanche para valer pode ainda não ter chegado por aqui, mas uma comprinha só de birra já entra na conta dos prazeres pós-fase aguda da pandemia.

Publicado em VEJA de 1 de julho de 2020, edição nº 2693

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.