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A caminho da China

Por James T.C. Wright*
24 jun 2010, 20h23

A China vem se qualificando cada vez mais para competir de igual para igual em mercados cada vez mais sofisticados.

Ao longo de cinco anos de viagens técnicas liderando os experientes executivos que compõe o MBA Executivo Internacional da FIA, visitamos e tivemos reuniões em empresas, universidades, prefeituras, e encontros com lideranças políticas do Partido Comunista Chinês, e com executivos e diplomatas brasileiros na China. A visão que se tem é de um gigante em movimento, que sabe para onde vai e conhece as suas forças e fraquezas. A estratégia do Partido Comunista, formulada por lideranças relativamente jovens e apoiada por técnicos formados nas melhores universidades americanas e europeias visa conquistar o lugar de maior potência econômica do mundo.

A China sabe de seus pontos fracos; a desigualdade crescente resultante da adoção de uma economia de mercado, onde convivem as grifes de luxo com os produtos mais elementares e a diferença de renda per capita nas grandes cidades industrializadas, que é três vezes maior que a renda do interior. Guangzhou, Dungguan, Shanghai, Suzhou e Beijing são cidades cujos milhões de cidadãos já convivem bem com a integração ao Ocidente, porém a defasagem é marcante em relação ao interior mais pobre.

O cidadão do interior, mesmo quando se desloca legalmente a trabalho para a cidade, continua sendo cidadão de sua aldeia de origem, com os direitos e deveres de lá. Na grande cidade onde trabalha anos a fio, não tem direito a moradia, escola ou assistência médica do cidadão urbano, o que em grande parte explica o controle relativo referente a um possível êxodo rural.

Desenvolvimento – A política do desenvolvimento em harmonia passou nos últimos dois anos a enfatizar a orientação de recursos de investimento e infraestrutura para o interior do país, construindo escolas, rodovias e usinas geradoras de energia. O pacote de estímulo para enfrentar a crise de 2008 foi rapidamente mobilizado, e se a queda das exportações aos países industrializados causou desemprego em regiões como Guangzhou no final de 2008 e inicio de 2009, o estímulo ao consumo interno e a ligeira recuperação internacional rapidamente permitiram a retomada do crescimento aos patamares de 10% a 11% ao ano neste primeiro semestre de 2010.

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Só no setor elétrico, que é responsável por apenas 25% da energia gerada na China, até 2020 os chineses construirão mais hidroelétricas do que o Brasil fez em toda sua história; são diversas Itaipus que estão sendo construídas por lá nos próximos 8 anos. Também há investimento pesado em energia nuclear e, mais recentemente, em centrais eólicas de grande porte.

Outra medida, que devemos imitar, foi a proibição das motos a gasolina, que foram sumariamente banidas em 2007 dos grandes centros urbanos por serem poluidoras e perigosas; carros, ônibus e bicicletas predominam no transito intenso porém calmo das grandes cidades. Como resultado tipicamente chinês, de lá para cá fortaleceu-se uma enorme indústria nacional de bicicletas e motonetas elétricas, que este ano atingiu cerca de 11 bilhões de dólares em vendas na China e na Europa!

Nas fábricas, a organização do trabalho é sempre feita de modo a maximizar a mão de obra; evita-se investimento mais intensivo em máquinas, e uso de dois ou três turnos de trabalho é comum. Os operários têm intensa dedicação ao trabalho, alcançam um bom rendimento quando bem treinados e orientados. Trabalham com dedicação, dormem em moradias nas próprias fábricas, algumas com bom padrão de conforto e o salário nas grandes cidades é crescente. Empresas com baixa produtividade e pouco valor agregado estão se deslocando para o interior, ou mesmo para outros países asiáticos com o Vietnã. A gestão da produção ainda é fraca, com condições de segurança deploráveis, mas uma nova geração de gestores está surgindo, com ótima formação em engenharia e áreas técnicas. Gestores fazem MBA em diversas escolas internacionais e chinesas, e começam a aplicar modernas técnicas de marketing e finanças. O design dos produtos se aprimora, e o investimento em marcas é crescente. Desta forma, em breve veremos as empresas chinesas disputando mercados ocidentais também em bens de consumo mais sofisticados, da mesma forma que hoje já são concorrentes fortíssimos em maquinas e equipamentos.

No entanto o que mais impressiona é a articulação de esforços entre governo central, governos locais, empresários e sindicatos. Esta articulação permite a criação de zonas de atração de investimentos que oferecem condições invejáveis para os empreendedores interessados.

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Investimentos – Em geral, são áreas onde são instaladas a infraestrutura de rodovia ou ferrovia ligando-a aos portos; há sistemas já implantados de telecomunicações e tratamento coletivo de afluentes, já que a água é uma das restrições mais importantes, e os novos projetos devem apresentar uso eficiente deste recurso cada vez mais escasso. Nestas zonas industriais, encontra-se uma estrutura de serviços públicos que promete centralizar todas as relações com o governo municipal e da província, e permite uma interface construtiva com os sindicatos locais. Galpões prontos para alugar, moradias para os futuros trabalhadores, escolas técnicas e universidades completam o quadro de regiões que são extremamente atraentes para a implantação de novos empreendimentos industriais.

Este modelo de atração de investimentos vai muito além da simples oferta de incentivos fiscais que fazemos no Brasil, e que resultavam em tantos projetos fantasmas em regiões da Sudene e Sudam, entre outras. O Brasil precisa aprender e adaptar à nossa realidade algumas destas lições, pois o gigante chinês caminha com passos firmes rumo a uma liderança econômica global.

* O Prof. James T.C. Wright é coordenador do MBA Executivo Internacional da Fundação Instituto de Administração e está de partida para mais uma viagem de estudos à China.

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