Gustavo Franco sobre déficit zero de Haddad: ‘Que se vire com as escolhas’
Economista, que lançou recentemente ‘30 anos do Real: crônicas no calor do momento’, falou com a coluna GENTE
Presidente do Banco Central entre 1993 e 1999, Gustavo Franco esteve diretamente envolvido na criação do Plano Real. Trinta anos depois, o economista foi o responsável por organizar uma série de crônicas escritas por ele, Edmar Bacha e Pedro Malan sobre as últimas três décadas da moeda no livro recém-lançado 30 anos do Real: crônicas no calor do momento (ed. Intrínseca). Em conversa com a coluna GENTE, Franco, um dos pais do plano econômico, diz que continua a monitorar de perto como a moeda é tratada pelos diferentes governos, mas prefere se isentar quanto às escolhas econômicas da atual administração petista.
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Como explicar esse livro escrito a seis mãos? É uma coletânea do que foi escrito no calor do momento de cada aniversário (da moeda), acabou virando uma cronologia do Brasil durante a vivência do Real como padrão monetário. É a história do plano Real ano a ano. Nos dez primeiros anos eram ‘como é que vamos entregar para o Lula?’. Nos quinze primeiros anos era ‘Lula e a crise de 2008’. Nos vinte anos, ‘a nova matriz Dilma’. Nos vinte e cinco anos, ‘Jair Bolsonaro’. Muito diferente né? É uma jornada de cada um de nós. A moeda como é um pedaço de cada um da gente.
Como é que é a sua relação com o Real? Não sou diferente de qualquer pessoa no trato com o dinheiro, tenho contas para pagar, boleto… Aonde muda um pouco é como você pergunta aos médicos sobre a forma que tratam sua própria saúde. É minha profissão cuidar da saúde do dinheiro, visto como uma coisa agregada. Pelo menos foi a minha profissão durante algum tempo, quando eu era regulador, agora não mais.
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Acompanha o Plano Real de cada governo para ver como estão lidando com ele? A grande equipe que fez o Plano Real deu o seu sangue por isso. Então, claro que a gente fica permanentemente de olho. Olhando para a criatura, para ver se de fato está se comportando bem.
Um tema recente que dominou as Olimpíadas. O senhor é a favor da tributação de medalhas de atletas? Lembro que na nossa época, lá em 1994, teve uma questão parecida quando a delegação brasileira de futebol venceu a Copa do Mundo nos Estados Unidos. Os jogadores trouxeram um monte de muamba na bagagem e a Receita (Federal) pegou tudo. Disseram que iam cobrar imposto e foi a maior encrenca. Mas tem que pagar! Que história é essa? Só porque ganhou a Copa do Mundo pode trazer uma geladeira e não pagar imposto? Paga imposto como qualquer pessoa. Ninguém vai pagar imposto da medalha, mas a pessoa tem patrocinador, ganha um prêmio, aí não vai pagar imposto?
Acha viável a meta de déficit zero do governo, prometida pelo ministro Fernando Haddad? Isso é uma escolha de cada governo sobre o tamanho do déficit, o tamanho do imposto, o tamanho de despesa. Eles que se virem com as escolhas que fizeram.
O que pensa hoje sobre a independência do Banco Central? Isso é, na verdade, o único jeito civilizado de tratar a moeda. Claro que qualquer governo, esse como qualquer outro legitimamente eleito, está livre pra fazer errado do jeito que bem entender, mas que seja responsável pelo erro, tá? Felizmente não é como a lei determina, a lei dá bastante grau de independência ao Banco Central brasileiro é ainda mais abaixo da média mundial de grau de independência. Tem muitos países com muito mais independência.